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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17, 1-6)

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: “É inevitável que aconteçam escândalos. Mas ai daquele que produz escândalos! Seria melhor para ele que lhe amarrassem uma pedra de moinho no pescoço e o jogassem no mar, do que escandalizar um desses pequeninos.

Prestai atenção: se o teu irmão pecar, repreende-o. Se ele se converter, perdoa-lhe. Se ele pecar contra ti sete vezes num só dia, e sete vezes vier a ti, dizendo: ‘Estou arrependido’, tu deves perdoá-lo”.

Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” O Senhor respondeu: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria”.

Com alegria recordamos hoje a memória de uma santa carmelita, Santa Elisabete da Trindade. Embora não esteja no calendário universal da Igreja, é oportuno recordá-la sobretudo pela importância espiritual de sua mensagem.

Quem foi Elisabete da Trindade? Trata-se de uma santa carmelita francesa que, assim como Santa Teresinha do Menino Jesus, veio a falecer muito cedo, com apenas 26 anos. Elisabete, porém, é bem menos conhecida que Santa Teresinha, e diferentemente desta foi canonizada muito tempo depois de sua morte, sendo elevada à honra dos altares somente em 2016.

O que há de extraordinário nessa monja carmelita? Primeiro, precisamos nos dar conta de que ela alcançou o auge de sua santidade dentro do Carmelo, mas começou a trilhar esse caminho já no mundo secular. Desde sua Primeira Comunhão, ela, que era uma menina colérica e de difícil convivência, foi tendo seu temperamento transformado pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Dali para frente, ela passou a demonstrar uma grande candura e mansidão que nos levam a recordar as palavras de São Francisco de Sales: “A mansidão é a flor da caridade”. Ou seja, quando amamos Nosso Senhor como Elisabete da Trindade começou a amar na Sagrada Eucaristia, o nosso coração é verdadeiramente transformado, o fruto mais visível dessa caridade é a mansidão. No jeito de olhar, de se comportar e de sorrir, a pessoa demonstra claramente que está voltada para uma outra vida, uma vida com Deus, onde as coisas deste mundo já não perturbam tanto o seu coração.

Pois bem, Elisabete da Trindade começou a dar passos de gigante, a partir da sua Primeira Comunhão e, aos 14 anos, foi tomada por um ímpeto tão grande de amor a Jesus que decidiu consagrar-se a Ele com um voto de virgindade. Ela queria ser carmelita. No entanto, sua mãe não aceitava a possibilidade de que a filha fosse religiosa.

Elisabete da Trindade, obediente, filha amorosa e piedosa, continuou a viver como uma boa católica, uma mulher verdadeiramente voltada para Deus, devotada a Deus e se santificando no mundo. Ela tinha um grande talento musical, tocava piano nas festas em que sua mãe a levava — as quais eram muito mais respeitosas que as de hoje, visto que estamos falando de uma outra sociedade, no final do século XIX. Nessas ocasiões, as amigas de Elisabete sempre diziam: “Ela estava em outro lugar”. Ou seja, embora ela estivesse numa festa, estava de algum jeito recolhida. Não significa que ela ficava triste, participava de tudo, ria com os outros, interagia nas conversas, mas se via claramente que estava em outro lugar, ou seja, estava voltada para Jesus. Um dia, num desses saraus em que foi convidada a tocar piano, ela cometeu alguma pequena falha na apresentação e lamentou-se com uma amiga: “Que pena! Eu queria que tivesse sido perfeito porque eu estava tocando para Ele”. Ou seja, estava tocando piano para Jesus. Por aí, podemos ver como essa menina que queria ser religiosa foi se santificando.

Um dia, numa conversa com um sacerdote, ela disse: “Padre, eu queria dizer para o senhor uma coisa estranha. É que todas as vezes eu vou rezar ou estou com as outras pessoas, fazendo as coisas, sinto que sou habitada por dentro, como se alguém morasse dentro de mim”. O padre, então, explicou-lhe o mistério da inabitação trinitária e, dali para a frente, Elisabete experimentou isso de forma cada vez mais clara, de modo que foi uma das grandes marcas da sua espiritualidade.

Mas o que é  a inabitação trinitária? É o fato de que os batizados em estado de graça possuem dentro de si uma presença de Deus que é diferente das outras presenças. Sim, Deus está presente em todas as coisas, porque Ele é o criador que tudo sustenta. Ele está presente em todos os seres humanos, que foram criados à sua imagem e semelhança. No entanto, através do Batismo, Deus passa a ter um outro tipo de presença: a presença de amizade. Perdoando os nossos pecados, Ele habita no nosso coração como amigo. Esse é o mistério da inabitação trinitária.

Elisabete da Trindade viveu profundamente esse mistério de ser a casa de Deus. Quando pediu o ingresso no Carmelo, a superiora cometeu um equívoco etimológico e disse a ela que seu nome significava “casa de Deus”. Embora não seja esse o significado, ela ficou ainda mais motivada para viver como um templo no qual Deus vem habitar.

Assim, quando finalmente completou 21 anos — a maioridade naquela época — a mãe deu permissão para que ela entrasse no Carmelo. Elisabete foi para o Carmelo de Dijon, onde depois, tomada pela doença de Addison, morreu aos 26 anos de idade. Apesar de jovem, morreu num altíssimo grau de santidade, certamente na Sétima Morada, pela grande capacidade de contemplação e de entrega total ao amor de Deus que ela demonstrou na sua vida, sobretudo durante o período final da sua doença. Que Santa Elisabete da Trindade interceda por nós no céu e nos dê a graça de vivermos com muita alegria o mistério maravilhoso de sermos habitados pela Trindade, desfrutando da amizade com Deus.

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