Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 15, 21-28)
Naquele tempo, Jesus retirou-se para a região de Tiro e Sidônia. Eis que uma mulher cananeia, vindo daquela região, pôs-se a gritar: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim: minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!” Mas, Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Então seus discípulos aproximaram-se e lhe pediram: “Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. Jesus respondeu: “Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Mas, a mulher, aproximando-se, prostrou-se diante de Jesus, e começou a implorar: “Senhor, socorre-me!” Jesus lhe disse: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-los aos cachorrinhos”. A mulher insistiu: “É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!” Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!” E desde aquele momento sua filha ficou curada.
Com grande alegria celebramos hoje a memória de São João Maria Vianney, sacerdote do período imediatamente posterior à Revolução Francesa, escolhido pela Igreja como padroeiro dos párocos nesses tempos difíceis em que vivemos. Quem foi São João Maria Vianney? Foi um sacerdote que se dedicou a uma pequenina paróquia: Ars, na França. Tratava-se de uma paróquia de apenas quarenta casas, um vilarejo que nem sequer aparecia no mapa. No caminho para lá, ele encontrou um pastorzinho de ovelhas, fez-lhe um sinal e perguntou: “Onde fica Ars?” O menino deu todas as indicações, ao que São João Maria Vianney respondeu: “Tu me indicaste o caminho de Ars. Eu te indicarei o caminho do céu”. Essa é a função de um pároco, de um verdadeiro pastor de almas: indicar às ovelhas o caminho do céu. São João Maria Vianney chegou à pequena Ars e encontrou uma igreja abandonada. A situação era tremenda. Depois da Revolução Francesa, o povo ficara desamparado. Muitos sacerdotes tinham apostatado e jurado à Constituição revolucionária; outros, apóstolos fiéis de Cristo, foram martirizados, e outros ainda tiveram de se esconder. São João Maria Vianney viveu esses tempos como um jovem ainda de primeira comunhão, recebida na clandestinidade de um desses padres fiéis que passaram pela vila onde morava. Depois entrou no seminário. Com grandes dificuldades foi ordenado sacerdote e agora estava na posse da paróquia de Ars.
Mas, é claro, o ambiente fazia sentir todos os males da Revolução. O próprio São João Maria Vianney irá confessar mais tarde: “Deixai um povo sem padre, e em pouco tempo as pessoas voltarão a adorar animais”. Sim, havia algo verdadeiramente perturbador na vila. São João Maria Vianney deu um jeito de arrumar a igrejinha, há tempos abandonada, e começou a convidar as pessoas para a Missa, mas já tinham deixado a religião, não iam mais à igreja aos domingos e, em vez de santificar os dias de guarda, dedicavam-se ao trabalho na lavoura ou mesmo às bebedeiras. Confessar? Nem de longe. Comungar? Menos ainda. Estavam todos afastados do caminho sacramental de salvação. Mas São João Maria Vianney lançou mão de uma grande “estratégia” pastoral.
Que fez ele para salvar os habitantes de Ars? O que todo bom sacerdote deve fazer: imitar Nosso Senhor Jesus Cristo. O sacerdócio católico baseia-se no fato de que Nosso Senhor, sumo e eterno Sacerdote, se ofereceu como vítima na cruz. Por isso, todo padre é ao mesmo tempo sacerdote e vítima. São João Maria Vianney, sabendo que devia oferecer-se como vítima de amor a Deus, começou a fazer tudo o que podia para salvar as almas. Mais tarde, depois de ter convertido a vila inteira, ele escreveria uma carta a um amigo, também ele pároco, que lhe perguntara: “Padre Vianney, vejo que o senhor pôde converter sua paróquia, mas eu aqui nada consigo. Que devo fazer?” São João Maria Vianney revelou-lhe então seu “segredo”, o “método” que usara para converter Ars: “Meu amigo, tu disseste haver tentado de tudo. Fizeste pregações, convocaste missões, visitaste as casas, usaste de todos os argumentos, mas não penses que nada lhe resta por fazer. Se ainda não jejuaste, se ainda não te flagelaste nem dormiste no chão, se ainda não rezaste de joelhos nem choraste, tu ainda não fizeste tudo”. Eis aí o que São João Maria Vianney ensinou ao irmão sacerdote.
Qual foi seu método para converter Ars? Oferecer-se como vítima de amor, amando o povo por meio da penitência. São João Maria Vianney acordava às duas da manhã, ia para a igreja e começava a preparar-se para a Missa. Celebrado o santo sacrifício, permanecia em oração até o meio-dia. Das duas da manhã até o meio-dia! Após nada menos que dez horas de oração, ele saía, fazia uma pequena refeição e ia visitar as famílias. Muitas vezes era recebido com blasfêmias, grosserias e até pedradas. No entanto, perseverou, e foi com esse método pastoral, de quem crê no sobrenatural e na ação da graça divina nas almas, que ele converteu Ars, oferecendo-se como vítima de sacrifício pelo povo. Anos mais tarde, quando a cidade estava já transformada, São João Maria Vianney, com lágrimas nos olhos, disse do púlpito durante o sermão, olhando para o rebanho ali reunido: “Ars não é mais Ars”.
A cidade estava mudada e em pouco tempo tornou-se centro de peregrinações. A fama de santidade daquele homem começou a se espalhar, e as pessoas da redondeza e até de lugares distantes da França, como Paris, começaram a peregrinar a Ars. Tal foi o sucesso dele, que o governo francês, anticlerical e contrário à Igreja, teve de construir uma estrada de ferro! Sim, porque Ars era um lugarejo perdido. Foi necessário construir uma estrada de ferro para que tantos peregrinos pudessem ir a Ars. Perguntaram uma vez a um desses peregrinos: “Que foste fazer a Ars, aquele lugar perdido?”, e ele respondeu: “Fui ver a Deus num homem”. Eis o grande São João Maria Vianney, padroeiro dos párocos, grande luzeiro para o clero secular, homem que soube salvar as almas porque se ofereceu como vítima de amor, como Cristo mesmo fizera na cruz para salvar seus irmãos.
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