Meditação para o 3.º dia da Novena de Natal

Nasceu-nos um Menino e foi-nos dado um Filho.” (Is 9, 6)

Considera que após tantos séculos, após tantos suspiros e preces, o divino Messias, que os patriarcas e os profetas não tiveram a felicidade de ser, o Desejado das nações, o Desejo das colinas eternas, numa palavra, nosso Salvador, veio enfim, nasceu, e deu-se todo a nós: “Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho”.

O Filho de Deus se fez pequeno para nos fazer grandes; deu-se a nós, a fim de que nos demos a Ele; veio mostrar-nos seu amor a fim de que correspondamos com o nosso. Recebamo-lo pois com afeto, amemo-lo e recorramos a Ele em todas as nossas necessidades.

As crianças, diz S. Bernardo, dão facilmente o que se lhes pede [1]. Jesus veio sob a forma de uma criança para manifestar a sua disposição de comunicar-nos seus bens. Ora, nele estão todos os tesouros (cf. Cl 2, 3). Seu Pai celeste colocou tudo em suas mãos (cf. Jo 3, 35).

Desejamos luzes? Ele veio precisamente para iluminar-nos.

Desejamos mais força para resistir aos inimigos? Ele veio para fortalecer-nos.

Desejamos o perdão das nossas faltas e a salvação? Ele veio para perdoar-nos e salvar-nos.

Enfim, desejamos o soberano dom do amor divino? Ele veio justamente para inflamar nossos corações, e para isso é que ele se fez Menino: se ele quis mostrar-se aos nossos olhos num estado tão pobre e tão humilde, e por isso mesmo mais amável, foi para tirar-nos todo o temor e ganhar o nosso amor [2].

Além disso, Jesus quis nascer como criança para que o amemos não somente sobre todas as coisas, mas também com amor terno. Todas as crianças sabem conquistar a afeição terna de quem as vê; ora, quem não amará com toda a ternura a um Deus, vendo-o feito Menino, necessitado de leite, tremendo de frio, pobre, desprezado e abandonado, que chora sobre a palha numa manjedoura? Por isso S. Francisco inflamado de amor exclamava: “Amemos o Menino de Belém, amemos o Menino de Belém!” [3].

Vinde, ó almas, vinde e amai o meu Deus feito Menino, feito pobre, que é tão amável e que desceu do céu para dar-se todo a vós.

Afetos e Súplicas

A Adoração dos Reis Magos, por Carlo Dolci.

Ó meu amável Jesus, por mim tão desprezado, descestes do céu para resgatar-me do inferno e dar-vos todo a mim, e como pude desprezar-vos tantas vezes e voltar-vos as costas? Ó Deus, os homens são tão gratos às criaturas; se alguém lhes faz algum benefício, se de longe lhes fazem uma visita, se lhes mostram sinal de afeto, não podem esquecer-se disso e sentem-se obrigados a pagar-lhes.

E são tão ingratos para convosco, que sois o seu Deus cheio de amabilidade, e que por amor deles não recusastes dar o sangue e a vida. Mas ah! Eu tenho sido pior do que todos, pois que, apesar de me terdes amado, mais eu vos tenho sido ingrato. Ah! se tivésseis concedido a um herege, a um idólatra, as graças com que me favoreceste, ele se teria santificado; e eu, eu vos ofendi! Senhor, dignai-vos esquecer as injúrias que vos fiz.

Vós dissestes que, quando um pecador se arrepende, esqueceis todos os ultrajes que dele recebestes (cf. Ez 18, 22). Se no passado eu não vos amei, no futuro não quero fazer outra coisa senão amar-vos.

Vós vos destes todo a mim; eu vos consagro toda a minha vontade, e assim vos amo, vos amo, vos amo, e quero repetir sem cessar: amo-vos, amo-vos; e quero dizer sempre a mesma coisa enquanto viver, e quero exalar o último suspiro tendo nos lábios a doce palavra: Meu Deus, eu vos amo! — para começar depois, ao entrar na outra vida, a amar-vos sem interrupção, com um amor sem fim, com amor eterno.

Aguardando essa ventura, ó meu Deus, meu único Bem, meu único Amor, estou resolvido a preferir a vossa vontade a todas as minhas satisfações. Venha o mundo inteiro, eu o repilo; não quero cessar de amar Aquele que tanto me amou; já não quero desgostar Aquele que merece amor infinito.

Meu Jesus, secundai o meu desejo e a minha resolução com a vossa graça. Maria, minha Rainha, reconheço que por vossa intercessão tenho recebido todas as graças que Deus me tem concedido; não cesseis de interceder por mim; obtende-me a perseverança, vós que sois a Mãe da perseverança.

Referências

  1. Denique parvulus est: leviter placari potest. Quis enim nesciat quia puer facile donat?” — São Bernardo, In Epiphania Domini, Sermo 1, n. 4. ML 183-144.
  2. Qualiter venire debuit, qui voluit apportare gratiam, timorem pellere, quaerere caritatem.” — São Pedro Crisólogo, Sermo 158, De Epiphania et Magis. ML 52-617.
  3. Cf. São Boaventura, Legenda Sancti Francisci, c. 10, n. 7. Opera, VIII, ad Claras Aquas, 1898, p. 535; Tomás de Celano, S. Francisci Vita prima, l. 1, c. 10, n. 84-86: inter Acta Sanctorum Bollandiana, die 4 octobris.

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