Enquanto a Santíssima Virgem Maria apareceu inúmeras vezes ao longo dos séculos, as aparições de São José aprovadas pela Igreja foram menos frequentes, mas muito significativas e importantes. Santos como Santa Teresa de Ávila, Santa Gertrudes e Santa Faustina foram abençoados por suas aparições e intercessão, assim como os habitantes das localidades de Flandres, na Bélgica, Knock, na Irlanda, e Fátima, em Portugal.

Santos procuram o seu auxílio. — No século XVI, Santa Teresa d’Ávila disse que ele lhe apareceu quando ela estava com problemas para estabelecer um determinado convento. Ela escreveu em sua autobiografia: 

Numa ocasião, estando numa necessidade que não sabia resolver nem tendo com que pagar os operários, apareceu-me São José, meu verdadeiro pai e senhor, e deu-me a entender que recursos não me faltariam e que eu devia contratá-los. Eu o fiz sem dispor de um centavo, e o Senhor, por caminhos que espantavam aos que o viam, me forneceu os recursos (Livro da Vida XXXIII 12).

Essa grande devota de São José, que batizou suas fundações em homenagem ao amado santo, recebeu ainda outra visita dele. No ano de 1521, em Ávila, na festa de Nossa Senhora da Assunção, num mosteiro da Ordem do glorioso São Domingos, escreveu Santa Teresa:

De repente, veio-me um arroubo tão intenso, que quase perdi os sentidos… tive a impressão de que me cobriam com uma roupa de grande brancura e esplendor. No início, eu não via quem o fazia, tendo percebido depois Nossa Senhora do meu lado direito e meu pai São José do esquerdo, adornando-me com aquelas vestes. Eles me deram a entender que eu estava purificada dos meus pecados.

Depois que acabaram de me vestir, estando eu com enorme deleite e glória, tive a impressão de que Nossa Senhora tomava-me as mãos, dizendo-me que lhe dava muito contentamento ver-me servir ao glorioso São José e que eu estivesse certa de que o mosteiro se faria de acordo com o meu desejo, sendo o Senhor e eles dois muito bem servidos ali. Eu não devia temer que nisso viesse a haver quebra… (Livro da Vida XXXIII 14).

Mais de dois séculos antes, na solenidade da Anunciação, Santa Gertrudes, a Grande, teve uma visão em que Nossa Senhora lhe revelou a glória de São José. Gertrudes registrou: 

Eu vi o céu aberto e São José sentado num trono magnífico. Senti-me maravilhosamente tocada quando, cada vez que seu nome era mencionado, todos os santos se inclinavam profundamente a ele, mostrando, pela serenidade e doçura de seus olhares, que eles se alegravam com ele por sua elevada dignidade.

São José também deu uma direção particular quando apareceu a Santa Faustina em julho de 1937, enquanto ela estava na casa de sua congregação em Rabka, Polônia, durante uma convalescença. Em seu Diário, ela registrou:

São José pediu que eu tivesse uma incessante devoção a ele. Ele mesmo me disse que eu rezasse diariamente três orações [Pai-nosso, Ave-Maria e Glória] e uma vez o Lembrai-vos [Memorare]. Olhava com muita bondade e me fez conhecer o quanto é favorável a essa obra [da Misericórdia]. Prometeu-me a sua especial ajuda e proteção. Todos os dias rezo as orações recomendadas e sinto a sua especial proteção (n. 1203).

Aparições. — No início do século XVI, surgiu uma devoção, pedida pelo próprio São José, chamada “os sete pai-nossos de São José”, que no início do século XVIII seria ampliada e conhecida como “as sete dores e alegrias de São José”.

Ela surgiu depois de um navio que navegava ao longo da costa de Flandres naufragar durante uma terrível tempestade. Pe. Matthew Spencer, superior provincial dos Oblatos de São José, compartilhou os detalhes durante algumas palestras na Relevant Radio. A bordo estavam dois frades franciscanos, que permaneceram agarrados aos pedaços dos destroços do navio. Por três dias e três noites, eles conseguiram manter-se à tona. Eles sempre foram devotos de São José, por isso lhe imploravam continuamente, com grande fervor, que viesse em seu auxílio e os salvasse.

Pe. Spencer disse que, no terceiro dia, um homem muito radiante apareceu e disse-lhes que tivessem fé e confiança em São José. Eles obedeceram. O homem os resgatou, levando-os em segurança para a costa. Uma vez em terra, os dois frades perguntaram quem era ele e como lhe poderiam agradecer ou que honra lhe poderiam prestar.

Foi então que ele se identificou como São José. Disse-lhes que, se quisessem agradá-lo e honrá-lo, deveriam recitar diariamente o Pai-nosso e a Ave-Maria sete vezes, meditando em suas sete dores e sete alegrias, a partir de sua vida quotidiana com Jesus e Maria. Logo depois, São José desapareceu de vista. Um capuchinho do século XVI registrou toda a história em um livro sobre as sete dores e as sete alegrias de São José. 

Escultura de São José de Bessillon, em Cotignac.

São José também visitou a pequena aldeia de Cotignac na Provença, França, em 7 de junho de 1660, durante um verão excepcionalmente quente. Por volta das 13h, um jovem pastor chamado Gaspard Ricard descansou no monte Bessillon, em busca de alívio para o calor escaldante e sua sede excepcional. Olhando para cima, viu um homem alto.

Apontando para uma grande pedra, o homem disse: “Eu sou José. Levante-a e você beberá”. Ricard não perguntou como levantaria a enorme pedra: ele imediatamente foi em direção a ela e foi capaz de erguê-la, descobrindo, como José disse, uma nascente de água doce embaixo dela. Ao erguer os olhos para agradecer ao estranho, Ricard viu que o homem havia desaparecido. O pastor correu à aldeia para contar o sucedido aos habitantes da cidade, que correram para ver a fonte recém encontrada.

De acordo com O Santuário da Sagrada Família: Provença, França, um documentário produzido pela rede americana EWTN, “a fonte apontada por São José... tem abundantes qualidades medicinais e atrai pessoas de toda a região, que vêm para se lavar, saciar a sua sede e encontrar cura para suas enfermidades”.

Moradores construíram a primeira capela no local, e curas aconteceram no santuário e na nascente. Por exemplo, em 1662, Pe. Allard, do oratório construído no local, escreveu: “As águas de São José trazem milagres. Desde que voltei, um homem que conhecemos de Avinhão, coxo de nascença, foi à nascente e voltou curado, deixando lá suas muletas. Todo o mundo bebe e leva consigo um pouco d’água”. Uma história no site do Santuário de São José de Bessillon, conta que, naquela época, “de todos os lugares da província e dos países vizinhos, iam à fonte os enfermos de todos os tipos, e a maioria deles voltava curada ou confortada em suas enfermidades”. A fonte nunca secou.

Como resultado desses eventos milagrosos, o rei Luís XIII decretou que, a partir de 19 de março de 1661, a festa de São José seria celebrada como feriado em todo o reino. O rei já havia consagrado a si mesmo, seu trono e a França à Virgem Maria porque ele e a rainha sabiam de sua aparição com o Menino Jesus, também em Cotignac, um pouco antes, no local da nova capela de Nossa Senhora das Graças, a 2 milhas de distância.

Também em 1661, o bispo de Fréjus uniu os dois locais de aparição sob o título de “Santuário da Sagrada Família” e declarou: “Deus, pelas graças que desejou conceder em honra de São José, não quis separar, na devoção dos fiéis, as duas pessoas santas [Maria e José] que ele uniu na Terra para o mistério da nossa salvação”.

Na Igreja, remontando ao ensino do Concílio de Trento, o bispo é a principal autoridade para investigar as aparições que acontecem em sua diocese. Ainda hoje os fiéis vêm a este vilarejo francês em busca da ajuda de José. 

Gravura com a aparição de São José, Nossa Senhora e São João em Knock, na Irlanda.

Dois séculos depois, na noite de 21 de agosto de 1879, São José apareceu com Nossa Senhora e São João Evangelista em Knock, Irlanda, numa igreja paroquial. José ficou ao lado direito de Maria. O Cordeiro de Deus também apareceu num altar. Como registrado nos arquivos oficiais de Knock, Patrick Hill, entre os 15 moradores que viram a aparição, relatou que São José apareceu “à direita da Santíssima Virgem; sua cabeça estava curvada entre os ombros, para a frente; ele parecia estar prestando obséquio… suas mãos estavam unidas como as de uma pessoa em oração”.

Uma testemunha, Mary Byrne, descreveu como “a cabeça de José estava ligeiramente inclinada, e inclinada para a Santíssima Virgem, como se estivesse mostrando-lhe respeito”

O mariólogo Mons. Arthur Calkins, em seu artigo A aparição de São José em Knock, explicou que, “nestes últimos tempos, por meio de aparições e do aprofundamento da consciência da Igreja, Deus está chamando nossa atenção para a grandeza de São José por seu seu papel na história da salvação e pelo poder de sua intercessão”. 

Ele citou o sacerdote e mariólogo irlandês Pe. Michael O’Carroll, que percebera na aparição de São José uma forma de nos convencermos a “buscar ajuda na oração para compreender o papel dele na vida da Igreja e em nossa vida pessoal”.

Pe. O’Carroll explicou que a cena representa o mistério pascal, ligando José à Eucaristia, e “confirma que toda a graça e glória de São José vem de seu vínculo matrimonial com Maria. É também uma lição poderosa para que nós, cristãos, baseemos nossa vida e conduta num relacionamento o mais próximo possível com Maria, Rainha do universo”.

Em 13 de outubro de 1917, a aparição mais proeminente de São José no século XX aconteceu em Fátima, durante o milagre do Sol. A vidente de Fátima, Serva de Deus Irmã Lúcia dos Santos, em suas Memórias, descreveu como, durante a aparição, os videntes viram “ao lado do Sol, São José com o Menino [Jesus], e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. São José com o Menino pareciam abençoar o mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz”. 

A aparição de São José foi um lembrete sobre a importância da paternidade e da família.

“A paternidade de São José, como em todos os pais humanos, é um reflexo da paternidade de Deus Pai numa criatura”, escreveu Mons. Joseph Cirrincione em seu livreto St. Joseph, Fatima and Fatherhood [“São José, Fátima e a Paternidade”]. “A visão de São José e do Menino Jesus a abençoar o mundo, com Maria ao lado do Sol, que não saiu do seu lugar, é a garantia de Deus de que, embora o homem possa rejeitá-lo, Ele nunca rejeitará o homem”.

São José é, enfim, uma fonte sempre presente de ajuda aos fiéis. Como disse o Venerável Pio XII, em 1955: “Se quereis estar perto de Jesus, também hoje vos repetimos: Ite ad Ioseph, ‘ide a José’ (Gn 41, 55)!”

Notas

  • A pintura usada no cabeçalho deste texto é de Guercino e se chama “São José com o cajado florescente”. Ele é retratado de barba branca, como um senhor de idade avançada, mas, como já falamos mais de uma vez no site, temos bons motivos para acreditar que, quando se casou com a Virgem Maria, São José era jovem e estava no auge de seu vigor físico. Só não acreditamos que seja o caso de descartar célebres e preciosas obras de arte por este detalhe. Além do que, “se parte da iconografia mais recente tende a representá-lo com os traços de um velho, devemos pensar que é menos para sublinhar o número dos seus anos do que para dar uma ideia das suas virtudes, em especial da sua prudência e da maturidade do seu caráter” (Michel Gasnier. José, o Silencioso. Quadrante: São Paulo, 1995, p. 46).

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