Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10, 38-42)
Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra.
Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: "Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!"
O Senhor, porém, lhe respondeu: "Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada".
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Parece intrigante, a um olhar desatento, que o mesmo Verbo de Deus, que tantas vezes condena a fé sem as obras (cf. Mt 7, 21; Tg 2, 17), venha agora, no Evangelho deste domingo, repreender Marta (Santa Marta!) por estar trabalhando — e trabalhando justamente para servi-Lo!
A lição desta narrativa, todavia, só pode ser apreendida a partir do fato de que Deus vê o íntimo dos corações (cf. 1 Sm 16, 7). Não se trata, portanto, de opor "vida ativa" a "vida contemplativa", "ação" a "oração", como se fossem coisas contrastantes ou distantes uma da outra, mas de ter o coração no devido lugar. Marta é repreendida por sua inquietude — o original grego traz a palavra μεριμνᾷς (merimnas), que quer dizer, literalmente, "divisão" —, ao passo que Maria escolheu "a melhor parte", que é uma só e a única necessária. O que interessa na vida de quem segue a Cristo não é tanto se a pessoa "reza mais", como Maria, ou "age mais", como Marta; se se isola num claustro, como Santa Teresinha do Menino Jesus, ou se prodigaliza em obras de caridade, como São Vicente de Paulo; se escolhe a vida religiosa, como São Pio de Pietrelcina, ou se prefere formar uma família, como São Luís e Santa Zélia Martin. Em todas essas formas de vida a santidade é possível, mas, no fundo, uma só é a via que conduz à perfeição; múltiplas são as vocações, mas o caminho continua o mesmo: ser santo significa ser transformado por Deus, experimentando interiormente um processo pascal de morte e ressurreição.
Isso só se dá, na prática, a partir da oração, porque não é possível ser santo sem rezar, e sem rezar muito. Maria, no Evangelho deste domingo, coloca-se aos pés do divino Mestre para escutar a Sua Palavra. Antes que enviasse Seus discípulos em missão, Jesus os chama para que convivam com Ele, para que O conheçam e partilhem de Sua vida. Nós também, se quisermos começar para valer esta empresa, precisamos exercitar, por meio da oração, a nossa fé: embora ela nos pareça pequena, do tamanho de um grão de mostarda, se a cultivarmos, ela crescerá e se erguerá sobre todas as demais árvores que existem.
A vida de apostolado, por sua vez, serve para matarmos o nosso egoísmo e as nossas paixões desordenadas, porque nos coloca no serviço incondicional ao próximo. Esse é o sinônimo da "paternidade" à qual todos os homens e mulheres maduros somos chamados: nós não existimos para nós mesmos, mas para os nossos filhos — biológicos ou espirituais.
Só não nos podemos esquecer — e nós, a exemplo da agitada Marta, facilmente nos esquecemos — de retornar sempre aos pés de Nosso Senhor, porque a vida de oração íntima com Deus é "a alma de todo apostolado". Se formos generosos neste caminho e determinados em nossa busca, rapidamente Deus começará a agir com mais intensidade em nós, transformando-nos nos santos que Ele desde toda a eternidade planejou que fôssemos.
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