Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 21, 5-11)
Naquele tempo, algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas. Jesus disse: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. Mas eles perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”. E Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu”.
1. O mistério pascal da Igreja. — Celebramos hoje a memória de S. André Dung-Lac e companheiros mártires, entre os quais estava S. João Teófanes Venard, mártir muito venerado por S. Teresinha do Menino Jesus. O Evangelho de hoje, por sua vez, nos fala da destruição do Templo de Jerusalém, que pode ser lida de várias formas, embora o Templo, como disse o próprio Cristo, deva ser tomado como símbolo do Corpo místico (cf. Jo 2, 19). Porque, com efeito, Jerusalém e o Templo foram o lugar em que Deus escolheu habitar; mas, pela infidelidade do povo, aquele espaço sagrado tornou-se lugar de profanação, razão por que seria mais tarde castigado pelo Senhor. De fato, no ano de 70 d.C., virá sobre a cidade santa o Império Romano, causando uma grande destruição. Ora, essa trágica história é também, de alguma forma, símbolo do que sucedeu com a humanidade de Nosso Senhor na cruz. Como em Jerusalém, Deus veio habitar em nosso meio pela humanidade de Cristo e, como aconteceu com o Templo, os homens destruíram a morada carnal de Deus. Jesus é Deus conosco, é o Filho que habita em nosso meio; mas, ao ser morto na cruz, viu sua morada humana ser dilacerada e destruída. Sim, Deus irá ressuscitá-lo, para complemento de seu triunfo e glória. No mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus temos, além disso, como que uma chave de leitura da própria história da Igreja, enquanto novo Templo da nova Jerusalém. Com efeito, o Catecismo mesmo nos recorda que “a Igreja não entrará na glória do Reino senão através dessa última Páscoa, em que seguirá o Senhor”, seu divino Fundador e Esposo, “na sua morte e ressurreição” (§677). Assim como Jesus padeceu e morreu, para então ressuscitar, também a Igreja irá padecer e, pelo menos a um olhar humano, aparentemente morrer, para então ressurgir gloriosa.
2. A vitória é de Deus. — Por quê? Porque o triunfo final da Igreja não será humano, segundo a estimativa de certos otimistas para os quais, de vitória em vitória, a Igreja conquistará os aplausos do mundo. Não, nada disso. O que haverá no fim dos tempos é um grande desencadeamento do mal, em que a Igreja — humanamente falando — como que desaparecerá, escondida dos olhos humanos. Mas eis que virá o triunfo: a Jerusalém celeste que desce do alto! O triunfo da Igreja, portanto, só será possível por uma intervenção divina, e isso nos deve consolar muito. E a razão é que também na nossa pequena história as coisas são assim. Se olharmos com fé, toda a história é, no fundo, a história de Cristo: assim como Ele padeceu, morreu e ressuscitou, também o templo místico de seu Corpo, a Igreja, vive, “morre” e ressuscita em seus membros. Todos nós temos nossas mortes, passamos por nossas paixões, mas sabemos que aqueles que confiam no Senhor e encontram nele o seu rochedo e salvação (cf. Sl 17, 3), estão sob amparo de quem tudo provê, pois a sua divina e salvífica Providência, por suas intervenções na história, irá fazer resultar em bem tudo o que nós padecemos: “Todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28) — Omnia in bonum! Tudo se consuma no bem, na ressurreição, mesmo que hoje só vejamos ao nosso redor paixão e morte.
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