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A tristeza dos Apóstolos e a nossa

Assim como os Apóstolos se entristeceram profundamente ao ouvirem o anúncio da morte de Cristo, assim também nós muitas vezes nos deixamos abater pela tristeza e pela preguiça quando consideramos as cruzes e renúncias da vida cristã. Como superar essa tentação?

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 17, 22-27)

Naquele tempo, quando Jesus e os seus discípulos estavam reunidos na Galileia, ele lhes disse: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão, mas no terceiro dia ele ressuscitará”. E os discípulos ficaram muito tristes. Quando chegaram a Cafarnaum, os cobradores do imposto do Templo aproximaram-se de Pedro e perguntaram: “O vosso mestre não paga o imposto do Templo?”

Pedro respondeu: “Sim, paga”. Ao entrar em casa, Jesus adiantou-se, e perguntou: “Simão, que te parece: Os reis da terra cobram impostos ou taxas de quem: dos filhos ou dos estranhos?” Pedro respondeu: “Dos estranhos!” Então Jesus disse: “Logo os filhos são livres. Mas, para não escandalizar essa gente, vai ao mar, lança o anzol, e abre a boca do primeiro peixe que pescares. Ali encontrarás uma moeda; pega então a moeda e vai entregá-la a eles, por mim e por ti”.

a) “Naquele tempo, quando Jesus e os seus discípulos estavam reunidos na Galileia, Ele lhes disse: ‘O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. Reitera Cristo a profecia, já declarada em Cesaréia de Filipe (cf. Mt 16, 21), sobre a sua paixão e morte de cruz, para que os discípulos, ao verem-na cumprir-se dali a poucos dias, não se surpreendam ou escandalizem nem percam a fé nele, por julgarem que o Messias não poderia sofrer uma morte tão infame. A cruz, no entanto, foi para os Apóstolos motivo de escândalo, a ponto de todos eles fugirem amedrontados, deixando o Senhor a sós no Calvário. Eis por que Jesus lhes quis pregar uma e outra vez o mistério da cruz, para que soubessem que Cristo quis ser morto e crucificado, não à revelia nem coagido, mas livremente, a fim de obedecer à vontade do Pai e redimir a humanidade. Além disso, quis o Senhor reiterar, pela segunda vez, esta profecia na Galileia, ou seja, após a sua Transfiguração no monte Tabor, depois de ter curado o menino epilético, deixando todos pasmados ante o seu poder (cf. Lc 9, 43), com o fim de moderar o entusiasmo das multidões e evitar que, depois da tão grande milagre, os discípulos insistissem na falsa ideia que tinham do reino temporal do Messias.

b) “‘Eles o matarão, mas no terceiro dia Ele ressuscitará’. E os discípulos ficaram muito tristes”, devido ao anúncio da morte de Cristo, já que não queriam que Ele morresse nem que pela morte lhes fosse arrebatado o seu Senhor. É por isso que, como forma de aliviar a tristeza que já previra nos discípulos, Jesus acrescenta: “mas no terceiro dia Ele ressuscitará”. Os Apóstolos, porém, não entenderam estas palavras nem a promessa de Cristo, pois ainda não eram capazes de as compreender. Eis por que duvidaram por algum tempo da Ressurreição, e foi para lhes dissipar todas as dúvidas que Cristo teve de aparecer a eles várias vezes e mostrar por inúmeros sinais que havia verdadeiramente ressuscitado dos mortos [1].

c) A tristeza dos Apóstolos pode ser vista também como um símbolo da acídia, isto é, da tristeza espiritual que às vezes se abate sobre os fiéis, quando consideram as dificuldades e renúncias que exige a vida cristã: “vai ser entregue”, “o matarão” etc.  Essa tristeza, que leva muita vez ao abandono da oração e afasta dos sacramentos, quando não conduz, em casos extremos, à perda da fé, pode ser remediada de muitas maneiras, mas a de maior efeito é meditar frequentemente sobre o amor de Cristo, que por nós tanto padeceu a fim de nos abrir as portas do céu, e o exemplo dos mesmos Apóstolos, que, de abatidos e tímidos, foram pela graça divina transformados em santos de primeira grandeza. Animados pela caridade de Cristo e edificados pelo testemunho dos santos, poderemos dizer com S. Paulo: “À medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações” (2Cor 7, 4), seguros de que “a nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável” (2Cor 4, 17).

Referências

  1. O texto desta homilia é uma tradução levemente adaptada de Cornélio a Lapide, Commentaria in S. Scripturam. Neapoli, 1857, vol. 8, p. 270.
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