Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12, 13-21)
Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” 15E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.
Celebramos hoje a memória de S. Pedro de Alcântara [1], franciscano de origem espanhola que realizou um trabalho admirável de evangelização na corte de Portugal. É por causa desse parentesco espiritual com a nação portuguesa que, em 1826, o Pontífice então reinante, Leão XII, o nomeou Padroeiro do Brasil a instâncias de D. Pedro I. Após a instauração da República em 1889, no entanto, a memória de S. Pedro de Alcântara, até então muito associada ao regime monárquico, foi-se apagando aos poucos da piedade popular brasileira e perdendo, assim, reconhecimento público. E, conquanto em 1930 o Papa Pio XI tenha declarado Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil, o nosso país ainda continua sob o patrocínio e os cuidados de S. Pedro de Alcântara. Ele, assim como soube converter outrora as cortes portuguesas, pode agora, e até mais, interceder ao Senhor para que tenhamos governantes dignos e honestos. Mais do que isso, porém, é o exemplo de amor a Deus que lhe vemos resplandecer no coração, tão macerado por penitências e noites inteiras passadas em claro. Sua pregação rude, mas viril, simples, mas acendrada pelo fogo da caridade apostólica, logrou converter inúmeros infantes e chamar à vida de penitência muitos nobres e poderosos. Como duvidar, pois, de que ele poderá agora, exaltado como está no Reino dos Céus, converter o nosso espírito tão comodista, tão hostil ao sacrifício, tão apegado às riquezas delicadas e prazerosas deste mundo? E o ensinamento que ele tem hoje a nos deixar é o da importância da devoção. Se, com efeito, queremos progredir na caridade, ensinava o santo, cumpre amar a Deus com todo o nosso ser — corpo e alma —, estimulando o fervor da devoção naquelas práticas, orações, meditações, considerações etc. em que Deus é mais servido de nos estimular. Não nos preocupemos em fazer altíssimas meditações, se é na récita do Terço que Deus nos quer falar mais ao coração; não nos inquietemos com a dificuldade de nossa oração mental, se é mais pela vocal que Deus deseja, por enquanto, trabalhar o nosso coração. — Que S. Pedro de Alcântara nos alcance de Deus a graça de sermos todos, políticos e simples cidadãos, amantes da pobreza, dispostos a lutar, não pelos bens que passam, mas pelo Bem eterno de que fruiremos no século futuro, se soubermos vencer os desafios do momento presente.
Oração. — Ó Deus, que vos dignastes ilustrar o bem-aventurado Pedro, vosso confessor, com o dom admirável da penitência e da mais elevada contemplação, concedei-nos, por seus merecimentos e sufrágios, a graça da mortificação da carne para mais facilmente aprendermos as coisas do céu.
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