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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

(Lc 13,18-21)

Naquele tempo, Jesus dizia: “A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? Ele é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos”. Jesus disse ainda: “Com que poderei ainda comparar o Reino de Deus? Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”.

No Evangelho de hoje, Jesus nos conta a parábola da semente de mostarda que se torna uma grande árvore. Aqui, para entendermos, em primeiro lugar, o significado espiritual, precisamos resolver uma pequena controvérsia botânica, que é a seguinte. São Marcos diz que a mostarda é uma erva, uma hortaliça; São Lucas diz que é uma árvore, “uma grande árvore”; São Mateus fica no meio dos dois e diz que é uma hortaliça que cresce e se transforma numa grande árvore.

Qual dos três tem razão? Finalmente, a mostarda é um arbusto ou é uma grande árvore? Botanicamente falando, aquela pequena sementinha, a única mostarda que é semeada pelos seres humanos, cresce numa hortaliça, no máximo um arbusto. Ela nunca será uma árvore, embora existam árvores que recebem o nome de mostarda. É a chamada Salvadora persica, que pode chegar até a nove metros de altura, e ser também bem larga. Serve bem para a ideia dos pássaros do Céu virem fazer os seus ninhos.

Mas no mundo histórico e botânico de verdade, a mostarda é um pequeno arbusto. O que Jesus está fazendo aqui é uma hipérbole. Jesus está indo lá ao Antigo Testamento, a Ezequiel, onde Deus fala que o povo de Israel foi castigado, levado para a Babilônia, e de lá Deus vai pegar um resto: Deus vai arrebatar um galho, vai pegar esse galho e plantá-lo na montanha, para que ele cresça num grande cedro, exuberante, que realmente seja o povo de Deus. Jesus, aqui, está fazendo exatamente a mesma coisa.

O Reino de Deus começa pequenino e desprezível, mas cresce em proporção assustadora, inesperada, surpreendente e, poderíamos dizer, milagrosa. Então, de fato, aqui têm razão os três evangelistas. A mostarda é uma hortaliça. Ora, esta erva, esta hortaliça pequenina, se cultivada, cresce bastante até se transformar numa árvore.

Aqui, trata-se de figura de linguagem. Jesus está contando uma parábola, dizendo que aquilo que os seres humanos desprezam, Deus faz crescer em ramagens tão amplas e frondosas, que o Reino de Deus não será mais somente dos israelitas, daquele povo da descendência de Abraão segundo a carne; o Reino de Deus será agora da descendência de Abraão na fé — na fé, claramente, agora em Jesus Cristo. Uma vez que nós temos fé, vemos a Igreja larga, grande!

Quando nós vemos, hoje em dia, a Igreja passar por momentos de crise e de dificuldade, nos lembramos dessa parábola de Jesus para termos a certeza de que a Igreja é grande demais para nós sermos capazes de consertá-la, mas também é tão grande, que o diabo é incapaz de destruí-la. Essa é a beleza de sabermos que as portas do inferno não prevalecerão e que nós podemos fazer o trabalho humilde de ser este homem que pega e atira no seu jardim a sementezinha da fé! Deus fará o resto.

Deus fará o milagre de a transformar em árvore frondosa. Sim, nós podemos ajudar a Igreja, nós podemos fazer com que os membros doentes da Igreja sejam novamente sanados e revivificados; mas, na verdade, a pequena obra que nós fazemos para contribuir com o reino de Deus é exatamente essa, a pequena obra de atirar a semente, e Deus fará o resto numa dinâmica de crescimento que a todos deixa espantados. Porque, embora pareça às vezes que o inimigo ganha, nós sabemos: as portas do inferno não prevalecerão!

COMENTÁRIO EXEGÉTICO

1. O grão de mostarda (v. 19). — O reino de Deus é semelhante à semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. Embora seja a menor de todas, ela cresce e torna-se uma grande árvore (lt. factum est in arborem). Trata-se de uma hipérbole ou talvez de expressão popular e corriqueira nos tempos de Cristo. O exagero expressivo do qual Jesus lança mão alude ao vaticínio de Ezequiel, no qual um ramo de cedro é arrebatado por Deus e plantado no cimo do monte Sião. Ali, ele estenderá seus galhos e dará fruto; tornar-se-á um cedro magnífico, onde aninharão aves de toda espécie, instaladas à sombra de sua ramagem (Ez 17,22).

Assim também o grão de mostarda, espargido no mundo pelo Filho de Deus, ainda que pareça a menor e mais insignificante das sementes, vai crescendo dia após dia, a ponto de tornar-se, para espanto de muitos, uma árvore frondosa e verdejante, sob cujos ramos as aves do céu vêm fazer o seu abrigo. Esta semelhança entre o grão de mostarda e a Igreja se vê: a) por sua origem discreta e quase desprezível, pois a humildade é “marca registrada” das obras de Deus, que escolhe o que é vil, tolo e fraco aos olhos do mundo para confundir os sábios e fortes da terra (cf. 1Cor 1,27-31); b) por seu crescimento admirável, porque assim como de um pequenino grão brota uma planta vistosa, do mesmo modo a Igreja, minúscula nos seus primórdios, cresce à base da seiva vivificante da graça e da Palavra de Deus, infundidas pelo Espírito Santo no coração dos seus ramos; c) por seu desenvolvimento orgânico, pois assim como a planta não é mais do que a semente já madura, assim também a Igreja que hoje vemos é a mesma que Nosso Senhor instituiu há dois mil anos sobre o fundamento dos Apóstolos.

2. O fermento na massa (v. 21). — O reino de Deus é ainda como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado. Esta profunda e brevíssima parábola não só reitera o sentido da anterior, mas significa também o quão grande é a força oculta do Evangelho para transformar pouco a pouco, à semelhança da levedura, as convicções e os sentimentos mais íntimos da humanidade, a ponto de converter o mundo inteiro, morto pelo pecado e insípido pela falta de amor, numa massa saborosa, em um Corpo único em que estejam reunidos, como em uma só família, todos os que Cristo conquistou por seu Sangue. Esta virtude oculta da graça, por fim, não deixará de atuar até que tudo fique fermentado, ou seja, até que se cumpra plenamente em nós aquela vocação à perfeição na caridade a que fomos chamados. Nesse sentido, podemos ver nesta parábola certa alusão à Eucaristia, o fermento novo da pureza e da verdade que nos purifica do fermento velho da malícia e da corrupção (cf. 1Cor 5,7s), penetrando-nos com a vida do próprio Cristo e assemelhando-nos cada vez mais, por sua contínua ação santificadora, à natureza do próprio Deus.

3. Aplicação espiritual. — Se a graça pode ser comparada a uma semente ou ao fermento, que contém em potência a santidade que Deus quer fazer amadurecer em nossas almas, requerem-se de nossa parte, para sermos bom terreno e boa massa, ao menos duas condições básicas: a) de um lado, a posse da graça habitual ou santificante, que se recebe pelo Batismo ou, no caso do fiéis pecadores, pela confissão sacramental, e se preserva pelo cumprimento dos Mandamentos, isto é, mantendo a alma livre de pecados mortais; b) e, de outro, vida de oração, para que a graça vá atuando em nosso coração e transformando-o segundo a vontade de Deus. Sem a primeira, não há vida espiritual; sem a segunda, não pode haver crescimento nem, portanto, esperança razoável de se chegar um dia à perfeição cristã.

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