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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 15,18-21)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe pertence. Mas, porque não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do mundo, o mundo por isso vos odeia. Lembrai-vos daquilo que eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu senhor’. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto eles farão contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou”.

Com grande alegria celebramos a memória de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Hoje é o aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria, em Fátima, Portugal, e isso aconteceu em 1917. Nossa Senhora, como sabemos, apareceu a três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta. E durante essas aparições, que duraram de maio a outubro de 1917, Nossa Senhora previu para aquelas crianças a história do século XX e, pelo que a gente está vendo, boa parte também do século XXI que estamos vivendo.

Nossa Senhora falava da necessidade da devoção ao seu Imaculado Coração para reparar os males que iriam acontecer durante esse século. Deus quer instaurar a devoção ao Imaculado Coração de Maria exatamente para evitar que tantas almas se perdessem e tanta miséria e desgraça acontecesse no mundo. É importante compreendermos que Fátima nos descortina diante dos olhos uma visão da história, que é uma visão sobrenatural. Ou seja: Nossa Senhora está nos ajudando a ver os acontecimentos do último século com uma luz sobrenatural.

Nós podemos recorrer a livros de história, mas nenhum dos historiadores que tratam da história do século XX irá contar do jeito que Nossa Senhora contou. Nossa Senhora conta a história diante de uma visão dramática: a visão do inferno. Ou seja, muitíssimas almas estão se perdendo e indo para o inferno. Essa é a primeira notícia de Fátima. Nossa Senhora é uma Mãe bondosa, que nos ama e está vendo os seus filhos se precipitarem na condenação eterna, e, para nos alertar, mostra a três pastorinhos o inferno.

Essa notícia é importante para os homens do século XX e XXI, porque talvez nunca na história da Igreja nós tenhamos vivido um período em que se crê tão pouco no inferno. Nossa Senhora, em sintonia com aquilo que é a pregação de dois mil anos da Igreja, aparece a três pastorinhos para dizer o seguinte: “Milhões e milhões de pessoas estão se precipitando no fogo eterno”. Ou seja: a história do século XX e XXI, os acontecimentos históricos dramáticos que estão nos livros de história e na memória das pessoas, tudo o que aconteceu no século XX e está acontecendo no XXI, tudo isso está levando as pessoas para o inferno

 Nossa Senhora quer opor a isso um remédio, que é a devoção ao seu Imaculado Coração. Como podemos, então, reverter tanto mal e tanta desgraça com essa devoção ao Imaculado Coração de Maria? Bom, pode parecer que Nossa Senhora esteja propondo uma coisa meio “supersticiosa” ou “mágica”; mas não é isso. A própria Virgem Santíssima, em aparições subsequentes e locuções interiores que ela deu a Lúcia, deixou muito claro: as pessoas que estão ouvindo os apelos dela em Fátima e que estão fazendo penitência ainda não estão no caminho.

Mas, por quê? Porque ainda não estão verdadeiramente se convertendo e fazendo propósito de emenda. Se Nossa Senhora está propondo a devoção ao seu Imaculado Coração, ela quer dizer o seguinte: “Vocês estão vendo o coração mau de vocês? Estão vendo o meu coração bom? Muito bem, esse coração mau de vocês tem de mudar com a graça de Deus, através dos meios da graça, que são a pregação, os sacramentos, a oração, a penitência, a récita do santo Rosário, para que vocês, convertidos, parem de ofender a Deus e, portanto, sejam salvos”. Nesse sentido, a devoção ao Imaculado Coração de Maria consiste em um meio que Nossa Senhora quis utilizar para mudarmos de vida.

E para ela nos levar a isso, ela propôs duas coisas práticas: uma que podemos fazer individualmente, outra que era para ser feita pela Igreja do mundo inteiro. Primeira coisa: a comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados. Nossa Senhora foi até Lúcia em Pontevedra e disse: “Vocês devem fazer e espalhar pelo mundo a devoção de as pessoas se confessarem uma vez por mês, comungarem, rezarem o Terço e meditarem os mistérios da salvação”. É um pequeno exercício espiritual, um pequeno “retiro” que Nossa Senhora propõe todos os meses para nós. Esse é o início de uma escola, o começo de uma mudança na vida de cada pessoa. Mas todos devem aderir a essa devoção dos cinco primeiros sábados.

Além disso, havia uma ação coletiva a ser realizada, isto é, para a Igreja do mundo inteiro: a consagração da Rússia ao Imaculado Coração. Isso, Nossa Senhora o disse em Tuy, em 1929. No entanto, Nossa Senhora não foi ouvida de imediato…

E o que aconteceu? Aconteceu exatamente o que Nossa Senhora previra: “Se não consagrarem a Rússia ao meu Imaculado Coração, vai acontecer guerra e perseguição à Igreja. A Rússia vai espalhar os seus erros pelo mundo inteiro, os justos serão perseguidos e o Santo Padre terá muito que sofrer”.

Isso, ela o disse em 1929. Infelizmente não se ouviu o seu clamor e somente em 25 de março de 2022, o Papa Francisco fez a consagração da Rússia. Pela primeira vez um Papa pediu aos bispos do mundo inteiro que se unissem a ele para consagrar a Rússia a Nossa Senhora. E é interessante que a internet desempenhou um papel importante nisso tudo, porque realmente o número de bispos que se uniu ao Papa consagrando a Rússia ao Imaculado Coração de Maria foi muito maior do que em todas as outras tentativas anteriores (tentativas que não nomeavam a Rússia explicitamente). Então, finalmente em 2022, nós tivemos a consagração da Rússia, ou seja, 93 anos depois do pedido de Nossa Senhora. E a própria Nossa Senhora, numa locução interior a Lúcia, disse e previu isso: “Não quiseram me ouvir. No fim, eles vão fazer a consagração, mas será tarde”.

O que quer dizer “será tarde”? Bom, não precisa ter muita imaginação para enxergar por que ficou tarde. Porque a Rússia já espalhou seus erros; porque a Segunda Guerra Mundial aconteceu; porque tantas outras guerras aconteceram; porque, de fato, a Igreja foi perseguida; porque, de fato, os justos sofreram; e porque, de fato, o Santo Padre teve e terá muito que sofrer. Mas Nossa Senhora diz que, apesar disso tudo, no fim o seu Imaculado Coração triunfará

Estamos celebrando a memória de Nossa Senhora de Fátima e, olhando em retrospectiva essa história passada, sabemos que vivemos tempos dramáticos e que Nossa Senhora espera de nós que tenhamos devoção ao seu Imaculado Coração, ou seja, que realmente o nosso coração, arrependido, se volte para Deus, faça o propósito de não mais pecar, fazer penitência e parar de ofender a Deus, a fim de entregarmos e confiarmos sinceramente nossa vida ao seu Imaculado Coração.

Que a celebração de Nossa Senhora seja para nós um ponto verdadeiramente de decisão, decisão de vida, decisão de levar a sério a mensagem de Fátima. Uma vez que a consagração da Rússia está feita, vamos nos concentrar naquilo que Nossa Senhora pediu, que é fazer constantemente essa devoção dos primeiros sábados e ter uma vida espiritual séria, em que busquemos mudar o nosso próprio coração transformando-o num coração semelhante ao Imaculado Coração da Virgem Maria. Peçamos a ela que nos dê as suas virtudes e transforme o nosso coração.

Não se trata de uma devoção “mágica” ao Imaculado Coração da Virgem Maria. Trata-se verdadeiramente de uma escola, de uma Mãe que veio nos mostrar o quanto nosso comportamento está precipitando milhões e milhões de almas no inferno, e para reparar tanto mal o seu Imaculado Coração é verdadeiramente o nosso caminho, proteção e refúgio.

No final, ele triunfará. Mas para que estejamos com Nossa Senhora na hora do triunfo, é necessário que o Coração de Maria triunfe desde já no coração de cada um de nós. Não pensemos que o triunfo do Coração Imaculado de Maria vai acontecer magicamente. O triunfo do Imaculado Coração de Maria acontecerá se ele triunfar na sua vida, sobre os seus pecados, sobre as suas misérias. Assim, então, teremos um tempo de paz interior, e o seu Imaculado Coração triunfará em nossos corações.

* * *

Ao amor mútuo recomendado aos discípulos opõe-se o ódio que lhes tem o mundo, contra o qual o Mestre se adiante em os fortalecer; para isso, diz S. Tomás, ‘primeiro propõe as razões pelas quais os consola; em segundo lugar, expõe estas razões; em terceiro, exclui as desculpas dos perseguidores. Põe então duas razões para os consolar, a primeira das quais toma-se do [seu próprio] exemplo, e a segunda da causa [das perseguições]’.

Ódio do mundo (Jo 15,18-21). — V. 18. Se os discípulos constituem uma como unidade moral e mística com o Mestre, não admira que tenham a mesma sorte que ele. Com efeito, se o mundo (em sentido pejorativo) vos odeia, não vos turbeis (cf. 1Jo 3,13); sabei, para o vosso consolo, que primeiro (πρῶτον ὑμῶν = ‘antes do que a vós’; ou, segundo outros, ‘mais do que a vós’) me odiou a mim. — V. 19. Consola-os do ódio do mundo de outra forma, mostrando-lhes a origem e a verdadeira raiz deste ódio: os discípulos não são do mundo, por isso não serão acolhidos pelo mundo, porque o mundo ama tão-somente os que seguem seus princípios e costumes. Os discípulos, escolhidos por Cristo e a ele configurados, tornam-se adversários do mundo: ‘Os cristãos vivem no mundo, mas não são do mundo’ (Ep. ad Diog., 6.3). Mas não há por que sofrer — antes, pelo contrário, devem alegrar-se — por isso.

V. 20. Não poderia ser de outra forma. Como vos disse já outras vezes (cf. Jo 13,16; Mt 10,24ss; Lc 6,40): ‘O servo não é maior que seu senhor’, i.e., não é de condição superior; logo, não há por que esperar melhor sorte do que a minha… Ora, se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós; mas, pela mesma razão, se guardaram (alguns poucos) a minha palavra, também guardarão a vossa. — Há duas explicações para essas palavras: α) a sorte dos discípulos seguirá a do Mestre: às vezes vos perseguirão, às vezes guardarão vossa palavra, i.e., aceitarão vossa pregação; — β) muitos as entendem a contrario sensu, ou em sentido negativo: ‘Assim como não guardaram minha palavra, tampouco guardarão a vossa’.

V. 21. A razão última do ódio do mundo será o nome de Jesus: Tudo isto eles farão contra vós por causa do meu nome, i.e., porque sois discípulos de Cristo (a quem odiaram primeiro) e dais continuidade à minha obra (cf. Mt 10,22; 24,9; Mc 13,13; Lc 17,21): Aos cristãos se condena pelo nome, não por algum crime. [2] — Por outro lado, o ódio que o mundo tem a mim se deve a que, por culpa própria, não conhecem aquele que me enviou, i.e., porque não querem reconhecer que ‘aquele que me enviou foi Deus mesmo, a quem devem toda a sua fé e reverência e todo obséquio, recusando-se assim a reconhecer-me como Messias’. [2]

Referências

  • Tradução adaptada de H. Simón; G. G. Dorado, CSSR, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 6.ª ed., Turim: Marietti, 1944, vol. 1, pp. 909-910, n. 677.

Notas

  1. J. Corluy, SJ, Commentarius in Evangelium S. Joannis (Gantes: C. Poelman, 1899) 413-414
  2. Tertuliano, Ad nationes, 1.3 (ML 1,561B; CSEL 20/1 [1890] 62 [ll. 3–4]): ‘Já se vê que toda acusação que contra nós dirigem não é de crime algum, mas do nome [cristão]’; Apologeticum, 2.20 (ML 1,279A; CSEL 69/2.1 [1939] 1 [ll. 109–110]): ‘“Cristão” não é nome de crime algum, . . . a menos que só ter nome seja crime’.

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