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Homilia Dominical
5 Mar 2015 - 25:13

Como prestar um culto agradável a Deus?

Ao expulsar os vendilhões e cambistas do Templo, Nosso Senhor preparava o caminho para o único holocausto capaz de aplacar o coração divino: a entrega de Si mesmo. Dois mil anos depois de Seu sacrifício na Cruz, ainda é possível prestar um culto agradável a Deus? Como responder devidamente ao Seu amor infinito? Nesta pregação, Padre Paulo Ricardo expõe a teologia do sacrifício e revela o segredo dos santos para amar a Deus.
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Homilia Dominical - 5 Mar 2015 - 25:13

Como prestar um culto agradável a Deus?

Ao expulsar os vendilhões e cambistas do Templo, Nosso Senhor preparava o caminho para o único holocausto capaz de aplacar o coração divino: a entrega de Si mesmo. Dois mil anos depois de Seu sacrifício na Cruz, ainda é possível prestar um culto agradável a Deus? Como responder devidamente ao Seu amor infinito? Nesta pregação, Padre Paulo Ricardo expõe a teologia do sacrifício e revela o segredo dos santos para amar a Deus.
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo João
(Jo 2, 13-25)

A narrativa da purificação do Templo – sobre a qual é possível ler um ótimo comentário na obra "Jesus de Nazaré", do Papa Bento XVI [1] – é oportuna para uma reflexão a respeito da adoração a Deus. Como prestar a Ele um culto que Lhe seja agradável?

É uma constante em todas as religiões a presença do sacrifício. Os homens sempre procuraram de alguma forma oferecer algo às suas divindades. Na religião cristã, então, onde Deus não só toma a iniciativa de amar as Suas criaturas, como é o próprio Amor, a única resposta justa a uma caridade tão grande é um amor total, um sacrifício de holocausto: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças" (Dt 6, 5). Ainda assim, mesmo depois dessa entrega completa, sempre haverá uma dívida: de um lado, o oceano infinito do amor de Deus; do outro, a pequena gota do amor humano. O drama de todas as religiões é justamente que o ser humano, por si mesmo, não consegue amar o seu Criador devidamente.

Além disso, o holocausto, sendo uma entrega ao ponto da própria aniquilação, só podia ser feito pelo homem com vítimas simbólicas. Por isso, no Antigo Testamento, os patriarcas e sacerdotes imolavam animais, como um sinal de sua vontade de oferecer-se a Deus. As Escrituras narram, por exemplo, a passagem de Caim e Abel. "Aconteceu (...) que Caim apresentou ao Senhor frutos do solo como oferta. Abel, por sua vez, ofereceu os primeiros cordeirinhos e a gordura das ovelhas. E o Senhor olhou para Abel e sua oferta, mas não deu atenção a Caim com sua oferta" (Gn 4, 4-5). À parte a razão pela qual o Senhor preferiu o sacrifício de Abel ao de Caim, o seu exemplo prefigura a história de Cristo. De um lado, está a Sua entrega, agradável aos olhos do Pai; de outro, o sacrifício interesseiro de Anás e Caifás, que não apenas não são generosos, como têm inveja do irmão justo e decidem matá-lo.

No Evangelho deste Domingo, São João fala que, no Templo, encontravam-se "os vendedores de bois, ovelhas e pombas". A esse respeito, Santo Tomás de Aquino explica:

"O preceito dado por Deus na lei era que em certas solenidades fossem imolados ao Senhor alguns animais. De fato, para cumprir esse preceito, os que vinham de perto ao Templo conduziam seus animais consigo; àqueles que, ao contrário, vinham de longe, não valia a pena levar os animais de suas casas. Assim, como tais oblações se ofereciam para a utilidade dos sacerdotes, eles mesmos providenciaram que animais fossem vendidos no Templo, para que os que vinham de longe tivessem o que oferecer. Por isso, eles faziam suas vendas no Templo, ou melhor, no átrio do Templo." [2]

Como, porém, a moeda romana, com a efígie de César, não podia circular dentro do Templo, as pessoas se dirigiam aos cambistas, a fim de trocar o que tinham pelo dinheiro do Templo. Acontece que, nesse câmbio, os sacerdotes ganhavam muito lucro. O que era para ser ocasião de culto agradável a Deus – afinal, foi para a Sua honra que foram instituídos os sacrifícios do Antigo Testamento – tinha se tornado fonte de ganância. A casa de Deus tinha se transformado, de fato, em "uma casa de comércio". Por isso, Cristo, tomado por zelo – que é um efeito do amor [3] –, "expulsou todos do Templo, (...) espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas".

No lugar do velho sacrifício, então, Cristo institui outro. "Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei", Ele diz. E o Evangelista comenta: "Jesus estava falando do Templo do seu corpo". No lugar de touros, bodes e ovelhas, pois, é Ele mesmo quem vai se oferecer. Na Nova Aliança, Nosso Senhor é, ao mesmo tempo, a vítima –ao ser realmente assassinado por Seus algozes – e o sacerdote, como Ele diz: "Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade" (Jo 10, 18). Quando os soldados vão prendê-Lo e caem por terra diante de Si (cf. Jo 18, 6), Ele demonstra o seu poder divino [4]: mesmo podendo livrar-se da mão de Seus verdugos, deixa-se conduzir como ovelha ao matadouro (cf. Is 53, 7), por amor, até a morte de cruz.

Ali, então, Ele oferece um sacrifício único. Sendo uma Pessoa Divina, apresenta a Deus um culto de que nenhum ser humano é capaz. Cumpre, assim, a profecia de Ezequiel: "Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Removerei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne" (Ez 36, 26). Com efeito, em Cristo, é solucionada uma tensão já percebida pelos profetas do Antigo Testamento: eles notavam que os sacrifícios de animais eram insuficientes, mas não encontravam um coração capaz de amar a Deus. O próprio salmista canta: "Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, e, se oferto um holocausto, o rejeitais" (Sl 50, 18). Em Nosso Senhor, todavia, encontra-se o "coração de carne" prometido pelo Autor Sagrado. Agora, é possível oferecer um culto agradável a Deus.

Mas, como fazê-lo? É preciso que nos ofereçamos a Deus, juntamente com Nosso Senhor. No ofertório da Santa Missa – que, como sabemos, é o mesmo sacrifício de Cristo na Cruz –, a gota de água colocada pelo sacerdote dentro do cálice de vinho simboliza a nossa pequena entrega diante da entrega infinita de Cristo. Só unidos a Ele podemos prestar a Deus a adoração que Ele merece.

Os santos viveram intensamente essa realidade, chegando a repetir com São Paulo: "Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20). Configuraram-se de tal modo a Cristo, que tudo o que faziam era feito per Ipsum, et cum Ipso, et in Ipso: Rezo, mas não eu: é Cristo que reza em mim; amo, mas não eu: é Cristo que ama em mim; ofereço-me, mas não eu: é Cristo que Se oferece em mim.

Neste Domingo, ousemos imitar os santos e ofereçamos a Deus, "por Cristo, com Cristo e em Cristo, a (...) Deus Pai Todo-Poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, agora e para sempre".

Referências

  1. Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a ressurreição. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011. p. 23s
  2. Super Evangelium Iohannis, 2, 2
  3. Cf. Summa Theologiae, I-II, q. 28, a. 4
  4. Cf. Santo Tomás de Aquino, Super Evangelium Iohannis, 18, 1
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