Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 14, 15-21)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e estará dentro de vós. Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Pouco tempo ainda, e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós. Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.
Enquanto na primeira parte do Tempo Pascal a liturgia da Igreja se volta para a ressurreição do Senhor, num segundo momento os textos selecionados para nossa meditação começam a falar, cada vez mais, da descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. É o que Nosso Senhor faz já no Evangelho deste domingo, ao consolar seus discípulos com a vinda do Paráclito, o qual permanecerá sempre junto deles e dentro deles. Trata-se da garantia de que eles não ficarão órfãos, pois o Espírito os torna filhos adotivos, como escreve São Paulo aos Romanos: "O próprio Espírito se une ao nosso espírito, atestando que somos filhos de Deus" (Rm 8, 16).
Mas como se dá esse derramamento da terceira Pessoa da Santíssima Trindade, sobre os primeiros cristãos e também sobre nós?
O processo é descrito por Jesus neste Evangelho: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor" (v. 15-16). Em primeiro lugar, portanto, é preciso que amemos a Cristo, e só fazemos isso efetivamente se guardamos os seus Mandamentos. Não bastam profissões apaixonadas de amor com a boca, se não as demonstramos na prática com as boas obras. Quem quer receber o Espírito Santo de Deus deve, antes de qualquer coisa, fazer a vontade do Pai.
Por outro lado, tanto o amor de coração quanto a obediência das obras são-nos dadas pelo Espírito Santo, conforme explica Santo Tomás de Aquino, citando para comprová-lo inúmeros trechos da Escritura (cf. Rm 5, 5; 8, 14; Sl 118, 21):
Ninguém pode amar a Deus se não tiver o Espírito Santo. Não precedemos (praevenimus) a graça de Deus; ao contrário, é ela que vem antes de nós (praevenit nos). De fato, 'Ele nos amou primeiro' (1Jo 4, 10). Os Apóstolos, portanto, primeiro receberam o Espírito Santo para que amassem a Deus e obedecessem aos seus Mandamentos; mas era necessário para isso que recebessem plenamente o Espírito, em abundância, a fim de, amando e obedecendo, fazerem bom uso do dom que já haviam recebido. É como se Jesus dissesse: 'se me amais' pelo Espírito Santo que possuís, e guardais os meus Mandamentos, recebereis o Espírito Santo, o qual possuireis em plenitude ainda maior. [1]
O Espírito é derramado, portanto, naqueles que já foram adotados, pelo mesmo Espírito, como filhos. Todos os batizados, foi "em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" que se purificaram de seus pecados e entraram na vida sobrenatural da graça. Por essa razão, "o mundo não é capaz de receber" o Espírito Santo, "porque não o vê nem o conhece" (v. 17): aqueles que vivem no mundo, de fato, têm como pai ou aqueles que o geraram na carne ou o próprio Satanás, conforme nova lição do Aquinate [2]; vale dizer, ou estão apegados às coisas desta terra ou praticam as obras das trevas. A promessa de Nosso Senhor, portanto, de não deixar órfãos aqueles que adotou (v. 18), não os atinge; eles já têm um pai.
Quem recebe o derramamento do Espírito Santo, ao contrário, é da fé que vive (cf. Rm 1, 17); movem-no não as coisas sensíveis, como acontece com os animais, mas as realidades espirituais, como convém a verdadeiros filhos de Deus. A estes, que O amam e guardam seus Mandamentos, Cristo verdadeiramente vem (v. 18), não corporalmente, como veio há dois mil anos e como virá no fim dos tempos, mas espiritual e invisivelmente, através da graça [3]. Vivamos, pois, para implorar de Deus essa sua presença permanente no meio de nós, recorrendo sempre e com mais intensidade à oração. Sem ela, definitivamente não podemos e, na prática, não nos diferenciamos em nada daqueles que vivem, inertes e despreocupados, atados às ninharias deste mundo.
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