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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9, 46-50)

Naquele tempo, houve entre os discípulos uma discussão, para saber qual deles seria o maior. Jesus sabia o que estavam pensando. Pegou então uma criança, colocou-a junto de si e disse-lhes: “Quem receber esta criança em meu nome, estará recebendo a mim. E quem me receber, estará recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior”.

João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lho proibimos, porque não anda conosco”. Jesus disse-lhe: “Não o proibais, pois quem não está contra vós, está a vosso favor”.

A humildade, caminho para a glória. — Nas poucas palavras que Jesus profere hoje, referidas de diferentes formas pelos evangelistas, se contêm tantas verdades e aplicações para a nossa vida espiritual, que não podemos fazer delas mais do que um brevíssimo resumo. Jesus, como ouvisse os discípulos a murmurar sobre qual deles seria o maior no Reino de Deus, os reuniu em torno de si para lhes dar profundos ensinamentos sobre a virtude da humildade:

1. Mc 9, 35: Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos. De muitas maneiras se pode entender essa doutrina: a) quem se exalta será humilhado; b) quem, no Reino de Deus, quiser superar os outros em glória procure na Terra superar a todos em humildade; c) todo o que for elevado por alguma dignidade ou cargo eclesiástico deve, por isso mesmo, servir a todos, como Cristo, que é Cabeça da Igreja, é de todos os membros ministro e servidor; d) mais do que honras e honrarias, é a humildade de coração, modos e vida que devemos buscar.

2. Mt 18, 2ss: Para tornar mais eficaz sua exortação, Jesus pegou uma criança e, tendo-a abraçado (cf. Mc 9, 36), disse aos Apóstolos: a) Se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, isto é, inocentes, sinceros, simples, não entrareis no Reino dos Céus, ou seja, não sereis dignos de ser contados entre os meus discípulos e membros do reino messiânico; b) aquele, pois, que se fizer humilde e simples como esta criança será maior (gr. ὁ μείζων = “máximo”), quer dizer, digno do maior louvor, superior a todos no Reino dos Céus [1].

3. Lc 9, 48: Quem receber esta criança em meu nome, estará recebendo a mim, o que se pode entender de dois modos. — a) Ao propor à imitação dos discípulos a inocência e simplicidade das crianças, Jesus lhes manifesta, por um movimento espontâneo de seu Coração, o cuidado especial que tem por elas: Quem receber esta criança, isto é, quem, por caridade, tomar sob seus cuidados um destes pequeninos, em meu nome, ou seja, por minha causa, estará recebendo a mim, pois todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (Mt 25, 40). E porque os obséquios feitos a Cristo são feitos também em honra do Pai, por isso conclui o Senhor: E quem me receber, estará recebendo aquele que me enviou.

b) Mas também se podem entender essas palavras como referidas ao próprio Cristo, isto é, como uma ilustração viva de sua própria humildade: Quem receber esta criança, imagem natural de humildade e dependência, estará recebendo a mim, quer dizer, terá compreendido que, se o Filho de Deus se rebaixou para nos servir, assumindo a condição de escravo e humilhando-se até a morte, e morte de cruz (cf. Fp 2, 6ss), não deve o cristão ter outra norma senão o humilhar-se e fazer-se de todos escravo e servidor. E se foi por sua humilhação que Deus exaltou o Filho (cf. Fp 2, 9), estará também na humildade o caminho para a nossa futura glorificação; daí serem as últimas palavras de Cristo uma explicação das precedentes: Pois, ou seja, por essa razão, aquele que entre todos vós for o menor, como Eu mesmo me fiz o menor de todo, esse é o maior no Reino dos Céus, seja pela santidade ainda in via, seja pela glória já in patria.

Referências

  1. Tradução levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Marietti, 1930, vol. 1, p. 410s, n. 286.
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