Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9, 1-6)
Naquele tempo, Jesus convocou os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças, e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos. E disse-lhes: “Não leveis nada para o caminho: nem cajado nem sacola nem pão nem dinheiro nem mesmo duas túnicas. Em qualquer casa onde entrardes, ficai aí; e daí é que partireis de novo. Todos aqueles que não vos acolherem, ao sairdes daquela cidade, sacudi a poeira dos vossos pés, como protesto contra eles”. Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa Nova e fazendo curas em todos os lugares.
No Evangelho de hoje, vemos os discípulos sendo enviados por Jesus em missão. É interessante notarmos algumas peculiaridades do evangelista São Lucas. Em primeiro lugar, na primeira frase, nós temos uma espécie de contraste. A palavra “apóstolo” quer dizer “aquele que é enviado”. No entanto, inicialmente, eles não são os enviados, mas os convocados. Jesus convoca os Doze, congregando-os. É essa ideia de reuni-los, de juntar. E eles passam a ser os δώδεκα, os Doze. É o número que os define.
Essa cena nos remete a uma outra reunião: a das doze tribos de Israel. No início, quando o povo de Deus estava sendo constituído por essas tribos, Josué — nome homônimo de Jesus —, para tomar posse da terra prometida, convidou-as e congregou-as, a fim de “dar-lhes poder e autoridade” — notemos que apenas São Lucas fala dessas duas coisas [em grego, δύναμις (dinamis) e ἐξουσία (exousia)], enquanto os outros evangelistas falam apenas da autoridade.
Portanto, os Apóstolos e os sacerdotes ordenados da Igreja recebem de Jesus a força da santificação. No momento mais sublime das orações de ordenação sacerdotal, é recordado que aquele homem que está sendo ordenado receberá o Espírito Santo, o qual lhe renovará a santidade. Essa é a primeira realidade da graça santificante de Deus, a capacidade de amar que nós, seres humanos, não temos sem o Senhor.
Ao ganharem essa graça, os sacerdotes consequentemente também alcançam a autoridade. Se olharmos para a forma grega dessa palavra, veremos um sentido mais profundo, pois o prefixo ousia, οὐσία (de ἐξουσία) significa “ser”; logo, é a manifestação do ser. Não se trata de um marketing onde o padre “por fora é bela viola, e por dentro, pão bolorento”. A Igreja não permite tal coisa, e o sacerdote deve verdadeiramente manifestar a sua santidade para, desse modo, ganhar a autoridade de expulsar os demônios em nome de Cristo e agir pela própria Pessoa de Cristo.
Assim, eles são enviados, da mesma forma como Jesus mandou os seus Apóstolos em missão. Contudo, essa dinâmica deve ser mesmo objeto de meditação não somente para os sacerdotes, mas para todos, porque esta é a realidade do ser cristão: estar com Jesus, receber o poder da graça e ter a autoridade de pregar o Evangelho, expulsando os demônios, que atormentam a humanidade, e curando as doenças, que a afligem.




























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