Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17, 5-10)
Naquele tempo, os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” O Senhor respondeu: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria.
Se algum de vós tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: ‘Vem depressa para a mesa?’ Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: ‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois disso tu poderás comer e beber?’ Será que vai agradecer ao empregado, porque fez o que lhe havia mandado? Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’”.
Meditação. — 1. A fé e a humildade são como que a base de todo edifício espiritual. Sem essas duas virtudes, o homem não pode dar passos concretos na santidade. É por isso que, no Evangelho deste domingo, Nosso Senhor adverte os discípulos contra a incredulidade e a soberba, ensinando-os a se comportarem como “servos inúteis” nas mãos de Deus.
Os discípulos queriam que Jesus aumentasse a fé deles. Nosso Senhor aproveita-se disso para explicar-lhes o poder transformador da fé, recorrendo evidentemente a uma figura de linguagem: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria”. Ou seja, Jesus está dizendo que a fé é capaz de mudar nossos corações, é capaz de arrancar os nossos “maus hábitos”, mesmo os mais enraizados, e fazê-los precipitarem no mar.
A fé é, segundo Santo Tomás de Aquino, um hábito propriamente humano. E, na verdade, essa fé já se manifesta desde a tenra idade, por exemplo, nas crianças que creem no amor de seus pais e justamente lhe obedecem, ainda que isso seja custoso. Transformado pela graça batismal, por sua vez, o homem recebe uma fé teologal, com a qual pode prestar o assentimento de sua inteligência às verdades reveladas por Deus. Nesse sentido, ter fé verdadeira significa crer em tudo aquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou e revelou por meio da pregação de sua Santa Igreja.
Essa fé católica, no entanto, precisa estar bem unida à humildade, a fim de que o homem reconheça os limites de sua inteligência — que é infinitamente inferior à dos anjos e, sobretudo, à de Deus — e não se eleve acima de suas próprias forças. Porque sem a humildade, a razão humana tende a questionar a realidade e a própria vontade de Deus, para erigir-se em regra última de todo ser. E, no fim das contas, uma inteligência dominada assim pela soberba fica obstinada no erro, e é incapaz de dobrar-se diante da Sabedoria Divina. Torna-se, portanto, uma “dura cerviz”.
Para que não caiam nesse erro, Jesus recomenda aos discípulos a fé do “servo inútil”. Trata-se de ser mesmo um “escravo”, como está no original grego Δοῦλοι (Douloi), submetendo-se a todas as ordens do Senhor, e sem qualquer tipo de objeção ou desejo de recompensa, mas unicamente pela certeza da Palavra que foi proferida. Se tivessem agido dessa maneira, se tivessem acreditado humildemente na ordem de Deus para não comerem do fruto proibido, Adão e Eva não teriam introduzido o pecado e a rebeldia no mundo.
2. Naturalmente, a condição pós-lapsária do ser humano torna essa humilde obediência à vontade de Deus uma coisa bastante difícil. Aos mandamentos da Lei Divina, o homem costuma apresentar uma série de obstáculos e desculpas, a fim de não precisar cumpri-los integralmente. Em razão disso, toda pessoa precisa buscar crescer na fé, como pediram os discípulos a Jesus, porque o crescimento na fé consiste, ao mesmo tempo, no crescimento nas demais virtudes. E é somente pelas virtudes que o homem retira os obstáculos à graça, e a alma humana pode assim submeter-se totalmente a Deus.
Pois bem, a virtude teologal da fé tende a crescer na medida em que a inteligência humana se debruça diligentemente sobre as verdades reveladas por Deus. A alma que deseja estar mais unida a Deus e, por conseguinte, mais disposta a cumprir os mandamentos, precisa necessariamente ter uma vida de oração para aprender a amar a vontade divina. Ao contrário, o homem que deixa a sua inteligência ocupada com as coisas do mundo, ainda que sejam coisas honestas, só conseguirá viver para as coisas do mundo. Será uma alma agitada como a alma de Marta, que se perturbava por qualquer panela.
A oração verdadeira é, aliás, um ato de fé exercido pela inteligência e pela vontade, de modo que o homem se submete à inteligência e à vontade de Deus. Por isso, quando a alma se dobra humildemente às palavras do Evangelho, crendo em tudo o que ensina Nosso Senhor Jesus Cristo, ela recebe uma força para abandonar os seus maus hábitos arraigados, vive uma verdadeira purificação, unindo-se a Deus como a prata se une ao ouro.
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