Uma série de polêmicas recentes trouxe à tona o tema da nudez na arte, especialmente pela acusação de que até mesmo na arte sacra haveria a retratação de corpos nus. Diante disso, é preciso que os cristãos estejam cientes, em primeiro lugar, de que a nudez na arte foi algo típico e característico do período renascentista, época em que se ressuscitou a cultura pagã na Civilização Ocidental.
Na antiguidade greco-romana, os deuses eram retratados nus. Com o surgimento do cristianismo, porém, o nudismo foi se tornando cada vez mais raro, de modo que praticamente desapareceu da arte, limitando-se apenas a representações de verdades teológicas ou ensinamentos importantes, como no caso dos retratos da expulsão de Adão e Eva do paraíso, que tinham a função de educar as pessoas acerca da gravidade e das consequências ruins do pecado. A nudez, neste caso, tinha uma conotação pejorativa de desgraça, castigo e vergonha.
A Idade Média, época bastante marcada pela influência da fé cristã, não tratava da nudez com o mesmo despudor da cultura moderna porque, depois do pecado original, os corpos despidos deixaram de refletir a real profundidade do ser humano. Diferentemente do que pensava o filósofo Jean Jacques Rousseau, os cristãos nunca compreenderam o homem como um bom selvagem que, apenas em contato com a civilização, se torna corrupto. O pecado original causou prejuízos graves à visão humana, modificou a forma natural como ela percebe as coisas à sua volta, sobretudo os seus próprios irmãos. Com efeito, os corpos que antes transluziam a alma, agora, depois da queda, refletem apenas a matéria.
Hoje, quem olha para uma mulata sambando em cima de um carro alegórico, no carnaval, não pensa nas qualidades espirituais dessa mulher, mas apenas nos atributos físicos dela. Quando se retira o véu do corpo, coloca-se um véu na alma. Por isso os cristãos sempre defenderam a necessidade do pudor e da modéstia.
Devido a uma série de eventos catastróficos no final da Idade Média — como a peste negra, por exemplo —, a civilização europeia decidiu ressuscitar o paganismo, o que a levou a uma profunda crise moral, que atingiu a própria Igreja. Nos livros de História, costuma-se celebrar o Renascimento como uma vitória das luzes sobre a “Idade das Trevas”, como propaganda ideológica contrária ao cristianismo. A verdade, porém, é que o Renascimento foi nada mais que um retorno a um estilo de vida absolutamente desumano. Foi no Renascimento que a prática escravagista passou a ser novamente aceitável. Foi no Renascimento que as mulheres voltaram a ser tratadas como objetos de seus maridos. Isso só mostra que todo o preconceito contra a Idade Média, quando não havia mais escravidão e as mulheres eram coroadas como rainhas e honradas como abadessas, é fruto de ignorância ou desinformação ideológica.
É preciso entender que, quando a Igreja permitiu as pinturas da Capela Sistina, por exemplo, ela também estava em um novo ambiente cultural, cuja base não era mais cristã. As obras em que Michelangelo representou Jesus, Deus Pai e a Virgem Maria tiveram como inspiração os deuses pagãos Apolo, Júpiter e Vênus, respectivamente. E embora a Igreja os tenha cobertos em hora oportuna, o conceito pagão ainda permaneceu. Portanto, não é válido o argumento de que a Igreja aceitou tranquilamente a nudez como estilo de arte honesto. Quando permitiu tais pinturas, ela infelizmente também estava em um período de declínio de sua própria história.
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