Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 10,22-30)
Celebrava-se, em Jerusalém, a festa da Dedicação do Templo. Era inverno. Jesus passeava pelo Templo, no pórtico de Salomão. Os judeus rodeavam-no e disseram: “Até quando nos deixarás em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente”. Jesus respondeu: “Já vo-lo disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu Pai dão testemunho de mim; vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um”.
Continuamos a meditar um pouco a respeito de Jesus, o Bom Pastor, mas agora o ambiente se torna mais conflitivo. Jesus está diretamente em conflito com os chefes dos judeus, e a situação torna-se bastante tensa. Jesus, porém, dá uma mensagem clara de poder: ninguém vai conseguir arrancar-lhe as ovelhas. A imagem do rei pastor torna-se clara e evidente.
Sabemos que o povo de Israel teve um grande rei mil anos antes de Cristo: o rei Davi. Davi, pequeno pastor capaz de enfrentar leões com sua funda, salvou o povo de Israel de Golias. Na sua pequenez, soube usar a arte, aprendida no pastoreio, de cuidar de ovelhas e de as proteger de leões para vencer o inimigo.
Foi o que fez dele rei: Davi, o rei pastor. Jesus é o rei pastor que realiza a profecia da qual Davi era a simples figura. Ele vem como Filho de Davi, o Prometido, o Messias, para uma batalha, um duelo de vida e morte — “mors et vita duelo”, como diz a sequência Pascal. Nesse duelo de vida e de morte, Jesus manifesta seu poder.
Mas de onde Jesus tira esse poder? Como as ovelhas não lhe serão arrancadas? O poder de Cristo é paradoxal porque lhe é dado quando Ele morre na Cruz. No seu discurso do Bom Pastor, Jesus diz com toda a clareza: “O pastor dá a vida pelas ovelhas”. Ele dá a vida em dois sentidos: primeiro, dá a vida porque derrama o sangue; segundo, porque transmite vida.
Pois bem, se Ele nos transmite vida, vemos o seu poder manifestar-se no “fracasso” da Cruz. Nela, seu maior poder é a vitória sobre o inimigo; nela é pisada a cabeça da serpente; nela acontece a vitória sobre Golias, o demônio, exatamente como foi a vitória de Davi — na pequenez e na humildade.
Jesus carrega a Cruz humildemente. Não há humildade maior do que a de Nosso Senhor. Ele realmente nos serve. Na Última Ceia, Ele lavou os pés aos discípulos, qual pastor que cuida da ovelha enfaixando-lhe as feridas, tosquiando-a, tirando-lhe carrapato e sujeiras. Ora, quando Ele bondosamente cuida dos discípulos lavando-lhes os pés, mostra o grande serviço que irá realizar ao morrer por nós na Cruz.
Ele derrama o sangue, lava-nos dos nossos pecados, vence os nossos inimigos e nos dá vida dando sua própria vida. Como Davi, pequenino, derrubou Golias, também Cristo, na pequenez da Cruz, venceu o antigo inimigo. Por isso ninguém, absolutamente ninguém, será capaz de arrancar de sua mão as ovelhas.
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