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Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 13, 1-9)

Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia. Uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia. E disse-lhes muitas coisas em parábolas: “O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. Mas, quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz.
Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!”

No Evangelho de hoje, Jesus inicia o grande discurso das parábolas. Trata-se do capítulo 13 do evangelho de São Mateus. Por meio de parábolas, Jesus quer nos ensinar os mistérios do reino de Deus. Hoje, Ele conta a parábola do semeador. Ainda essa semana iremos voltar a essa parábola, que Jesus irá explicar detalhe por detalhe. Por isso, em vez de comentar a parábola em si, vale a pena refletir antes por que Nosso Senhor ensinava por parábolas. É uma espécie de introdução ao capítulo parabólico de Mateus. Pois bem, somos seres humanos, não anjos. Isso quer dizer que a nossa inteligência se comporta de forma diferente. Os anjos, quando vêem uma verdade, a vêem imediatamente. Têm aquilo que se chama em filosofia inteligência intuitiva, isto é, a intuição direta da verdade, de modo que ninguém precisa explicar-lhes nada. Enxergam as coisas como elas são. Nós não. Nós seres humanos temos inteligência discursiva. Isso significa que precisamos trabalhar um pouco para poder enxergar a verdade. Por quê? Porque a verdade não é óbvia.

Infelizmente, estamos numa cultura que perdeu a noção da verdade. Se perguntarmos a qualquer pessoa na rua o que é a verdade, é bem provável que ouçamos como resposta que a verdade é o palpável, o que pode ser comprovado “cientificamente”. Ora, quando se fala de “ciência” hoje em dia se entende quase sempre o mesmo que “levar ao laboratório”, “pôr na balança”, “olhar no microscópio”, “comprovar após observações” etc. Portanto, é um conceito muito superficial de verdade. A verdade não é simplesmente o que dizem os sentidos. Se achamos que a verdade é apenas o que vemos, o que ouvimos, o que podemos apalpar, o nosso conceito de verdade é ainda muito superficial. É claro que os sentidos têm importância, mas porque são o primeiro passo na direção da verdade. Sejamos sinceros — também os animais têm sentidos. Os animais, de certa forma, percebem pelos sentidos as mesmas coisas que nós. Aliás, alguns deles as percebem até melhor. O olhar de uma águia é muito mais penetrante que o de um ser humano; a audição de um morcego é muito mais aguda que a de um ser humano; o faro de um cachorro é muito melhor que o nosso… No entanto, os animais só chegam até as sombras da verdade. Percebem as coisas, mas não conseguem inteligir, isto é, não conseguem ver o sentido profundo das coisas. 

Nós somos capazes, por exemplo, de meditar sobre o futuro. Pensamos em como vai ser a semana que vem, o ano que vem, qual deve ser o nosso projeto de vida, qual é o sentido dela… O homem se projeta para o futuro; os animais não, porque não têm domínio sobre ele. Não conseguem meditar sobre o futuro, enquanto nós podemos não só meditar como entrar em crise se não vemos sentido nele, ou seja, quando nos parece que a vida não tem uma missão, não tem um projeto. Só o homem pode perguntar-se: O que Deus espera de mim? Qual é a minha missão? Por que vim ao mundo? Nenhum animal se faz perguntas, muito menos essas. Ora, para chegar a responder a elas, é preciso ter inteligência. É com isso que Jesus tenta nos ajudar por meio das parábolas. Como funciona a inteligência humana? Começamos pelos dados sensoriais. É o que todo o mundo enxerga. Se queremos a verdade, temos de abrir os olhos e os ouvidos, essas cinco grandes janelas que Deus nos deu para o mundo externo que são os sentidos. Como diziam os antigos filósofos, nada chega à inteligência sem ter passado antes pelos sentidos. Mas é preciso ir além deles. Na parábola do semeador, vemos que as pessoas lançam sementes ao chão e que essas sementes podem comportar-se de diferentes formas: podem brotar facilmente, mas não ter futuro porque caíram no caminho; podem brotar nas pedras, mas ser causticadas pelo Sol; podem brotar num terreno coberto de espinhos e ser sufocadas… Tudo isso se pode facilmente observar pelos sentidos. Mas é necessário agora elaborar esses dados e trabalhá-los dentro de nós para que tudo faça sentido. 

Primeiro sentimos, depois temos de buscar o significado, para o que é necessário usar a imaginação. Jesus, ao revelar os mistérios aos anjos, não precisou de parábolas, mas para nos ensinar a nós Ele se serve delas porque a imaginação, no homem, é o gatilho para a reflexão. É por meio dela que começamos a “cavoucar” e “ruminar” o imaginado, as informações recebidas, até que apareça no nosso interior uma verdade maior, um sentido maior, um significado, a verdade profunda. É isso o que Jesus quer: a nossa reflexão e meditação sobre os ensinamentos da Igreja a partir das coisas criadas por Deus. Precisamos aprender a refletir, a meditar. 

Concretamente, como meditar as verdades de Deus? Chegamos ao centro de tudo. Tudo o que dissemos até aqui foi uma preparação para entender que, quando formos rezar, a primeira coisa que devemos fazer é colocar-nos na presença de Deus, pedindo-lhe graça e luz para aquele momento de oração. Feito isso, temos de usar a imaginação para ver as coisas a respeito das quais iremos rezar. Tomemos uma cena qualquer do Evangelho; por exemplo, Jesus no Horto das Oliveiras. Busquemos vê-lo suar sangue, o anjo consolá-lo, a respiração pesada do Senhor, arfando angustiado, enquanto os discípulos, a poucos metros dali, dormem à luz da Lua cheia etc. Aplicada a inteligência por meio da imaginação, pela qual se dá o primeiro acesso à intelecção, então se pode começar a discorrer, isto é, a pensar. É assim que, pela luz da graça de Deus, chegaremos a enxergar o profundo significado e a profunda mensagem ali contidos. É o que iremos ver quando meditarmos nos próximos dias o discurso das parábolas e virmos o profundo e verdadeiro significado da parábola do semeador. Por enquanto, façamos isso, cumpramos a missão diária de meditar a Palavra de Deus colocando-nos no lugar, pedindo a Deus que nos inspire para que finalmente vejamos a verdade, não somente o que nos deram os sentidos, mas vejamos o sentido das coisas. Então o Verbo de Deus, Jesus, terá iluminado nossa inteligência.

* * *

As parábolas do Senhor. — “É familiar aos sírios e sobretudo aos palestinos agregar parábolas a todos os seus sermões, para que o que não pode ser retido pelos ouvintes por um simples preceito seja retido por semelhanças e exemplos” (São Jerônimo, In Matt. 18, 23: PL 26, 138). Cristo, acomodando-se livremente a este costume dos orientais e ao método rabínico, utilizava com frequência parábolas em seus sermões, de forma que os evangelistas puderam escrever sobre o seu modo de pregar: e não lhes falava [i.e., às turbas] sem parábolas (Mt 13, 34; cf. Mc 4, 33).

1. Definição. — Nos evangelhos, o vocábulo grego παραβολή (usado 48 vezes apenas nos sinóticos) aproxima-se mais do mashal bíblico e rabínico, em toda a sua ampla acepção, que da παραβολή clássica, figura retórica para ilustrar por meras comparações uma noção ou princípio abstrato. Assim, o termo παραβολαί é empregado em Lc 4, 23 para significar provérbio; em Mt 15, 15 = Mc 7, 17, dito sentencioso; em Mc 3, 23 = Mt 24, 32, simples comparação, ou breves sentenças mais ou menos parecidas com enigmas, ideias que, nas línguas modernas, se poderiam traduzir como linguagem figurada. Em resumo, as parábolas evangélicas podem ser definidas da seguinte forma: comparações em forma de narrações fictícias, tomadas de elementos da natureza ou da sociedade humana, por meio das quais, graças a certa semelhança, Cristo ilustra e expõem verdades de ordem sobrenatural.

2. Natureza. — Assim definida, a parábola compõe-se de um duplo elemento essencial: uma imagem ou narração fictícia (um “tipo”) e um sentido espiritual contido sob essa narração (um “antitipo”), e de um duplo elemento secundário, a saber: que a narração seja tomada da natureza ou da sociedade humana e que se estabeleça por meio dela uma comparação da verdade significada (i.e., do antitipo) e da imagem (i.e., do tipo). 

Daqui se seguem algumas conclusões:

a) A parábola não é uma simples comparação, mas uma comparação em forma de narração, não demasiado extensa (cf. Mt 13, 33.44ss), mas independente o bastante para ter sentido completo em si mesma.

b) Enquanto narração fictícia, a parábola é muito semelhante à fábula e ao mito, isto é, ao que chamamos conto, mas deles difere quanto ao seguinte: α) a fábula se ordena à transmissão de verdades éticas naturais e, no mais das vezes, utiliza coisas ou pessoas não como são na realidade, mas de modo imaginário ou fantástico, ao passo que a parábola se acomoda à índole real das coisas; β) o mito tem quase sempre o objetivo de agradar ou entreter, enquanto a parábola busca ensinar e, no caso da parábola evangélica, expor verdades de ordem sobrenatural.

c) Pelo fato de basear-se em comparações, a parábola difere grandemente da alegoria, baseada em metáforas. Se na alegoria a verdade que se pretende exprimir é identificada com a própria imagem (i.e., a verdade não é descrita em termos próprios, mas metafóricos), na parábola a verdade (antitipo) e a imagem (tipo) são apenas comparadas uma com a outra (só a imagem é descrita diretamente em termos próprios). Por isso se pode dizer que a alegoria é um sermão algébrica: a cada signo corresponde um significado, enquanto a parábola é um sermão analógico.

d) É próprio e essencial das parábolas evangélicas conter uma verdade mais sublime e de ordem sobrenatural, no que difere, e.g., das parábolas socráticas, ainda que tal propriedade não chegue a constituir um gênero literário diverso. A parábola evangélica, noutras palavras, é uma narração terrestre com significado celeste.

e) De regra, a comparação da verdade significada pela imagem e da própria imagem ou tipo com o antitipo é feita no início da narração e em termos expressos, como é semelhante a…, é como… etc.; às vezes, é estabelecida somente na conclusão (cf. Lc 17, 10); em alguns casos, poucos e raros, nem mesmo aparece (cf. Mc 4, 3ss; Mt 5, 25s).

f) É próprio das parábolas do Evangelho que a imagem seja tomada de elementos da natureza ou da sociedade humana, o que é muitíssimo conveniente para significar verdades mais altas. Isso porém vale apenas em termos gerais, com respeito ao conjunto da parábola, uma vez que nelas aparecem muitos detalhes ou circunstâncias sem correspondência real (e.g., que o semeador semeie sobre pedras ou espinhos, que uma semente dê o cêntuplo, que os condenados tenham compaixão dos vivos ou peçam ajuda aos justos etc.). As parábolas, portanto, embora transmitam sempre coisas verossímeis ou possíveis, não oferecem um quadro exato da realidade em todos os detalhes. Com efeito, o Mestre às vezes modifica certas condições naturais das coisas para acomodá-las ao objetivo da pregação. Por isso é comum distinguir entre parábolas demonstrativas (ou exemplificativas) e ilustrativas, que admitem maior liberdade.

g) O fundamento de um sermão parabólico é a íntima analogia que, graças ao ensinamento de Cristo, alcançamos enxergar entre a ordem física e a ordem sobrenatural da graça, analogia que as parábolas buscam pôr em evidência. Com efeito, o divino Salvador, Mestre sapientíssimo, nos conduz pela mão do fácil para o difícil, do mais para o menos conhecido, tornando fácil o caminho da sabedoria cristã, já que é mais breve e eficaz o caminho que se percorre com a ajuda e o exemplo de um guia do que aquele que se atravessa apenas com preceitos e indicações (cf. Sêneca, Ep. 6).

h) Ainda que as parábolas evangélicas guardem muitas semelhanças com as rabínicas, ao menos quanto à forma externa, delas diferem quanto à perfeição literária e ao conteúdo, mais sublime e universal [1].

3. Finalidade. — A finalidade dos sermões parabólicos de Nosso Senhor não parece ser outra além da que flui espontaneamente da natureza de uma parábola, i.e., propor e descrever, a partir de algo sensível tomado quer da natureza (e.g., um grão de mostarda, os lírios do campo), quer da sociedade humana (e.g., as bodas de um filho, o arrendamento de uma vinha), uma verdade de ordem superior, em matéria de fé ou moral. Há, no entanto, uma passagem dos sinóticos que parece contradizer esse fim. É aquela em que Jesus, logo após a parábola do semeador, responde aos discípulos por que falava às turbas por semelhanças e figuras, como se lê em Mateus (13, 13): Porque olhando, eles não vêem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías (6, 9): Havereis de ouvir, sem nada entender etc.; em Marcos (4, 12): Desse modo, eles olham sem ver, escutam sem compreender; e em Lucas (8, 10): De forma que vendo não vejam, e ouvindo não entendam.

Para compreender o sentido dessa passagem, deve-se notar o seguinte. a) As parábolas de Cristo eram, em si mesmas, aptas para ensinar a verdade, e com esse objetivo, como se vê pela índole delas e pelo espírito pedagógico que anima todo o Evangelho, foram propostas por Nosso Senhor. — b) Às vezes, porém, se valia Jesus desse método de ensino para expor a doutrina do reino de maneira enigmática, sob o manto de certa obscuridade. Atestam-no explicitamente os evangelistas, ao menos no caso das parábolas do lago (cf. Mt 13, passim), embora seja provável que o Senhor o tenha feito noutras ocasiões. — c) Este como que ocultamento da verdade procedia não tanto da vontade de Cristo como da indisposição dos ouvintes. Por isso há que distinguir: a) aos discípulos e israelitas piedosos, que buscavam a verdade e a justiça, as parábolas serviam como instrumento não de punição, mas de iluminação; b) aos escribas e fariseus, que buscavam qualquer palavra mal colocada para acusar o Mestre, essa pregação enigmática tinha como efeito (quase per accidens) ocultar de fato a verdade, para que não fossem atiradas aos porcos as pérolas da doutrina divina (cf. Mt 7, 6).

E as turbas? Também delas escondeu Cristo a verdade revelada? Acaso lhes falou por parábolas tendo em vista algum outro fim que não o de as instruir e iluminar? À primeira vista, parece que não. Se, com efeito, lermos a versão de Marcos, que refere neste ponto as intenções de Cristo em termos mais duros que os outros evangelistas, não veremos nas turbas indícios de infidelidade e obstinação, mas, pelo contrário, de docilidade e desejo de escutar o Evangelho. Como, pois, o mansíssimo Jesus seria capaz de esconder a verdade das turbas que a Ele acorriam? 

Observe-se que: a) muitas turbas acudiam a Jesus não tanto por desejo de justiça e verdade como pela ânsia desordenada de bem-estar terreno; b) os evangelistas fazem questão de notar que, naquele dia, Jesus não ensinou o Evangelho a não ser por parábolas (cf. Mt 13, 34; Mc 4, 33s); c) isso supõe, nas diferentes classes de ouvintes, diferentes luzes e capacidades, como se diz logo em seguida: Porque a vós é dado compreender etc. (Mt 13, 11); d) esta dissimulação da verdade não era, como diz o próprio Marcos (cf. 4, 33), penalidade, mas misericórdia: Era por meio de numerosas parábolas desse gênero que ele lhes anunciava a palavra, conforme eram capazes de compreender (καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν), i.e., de modo imperfeito, por uma revelação algo obscura, segundo o exíguo entendimento deles.

Conclusão: Cristo, por conseguinte, ocultou de certo modo a doutrina do reino, não para deixar cegas as turbas, mas para lhes insinuar a verdade e estimular o desejo de uma compreensão mais plena. Assim, não lhes revelando abertamente os mistérios, como no sermão da montanha, evitava a um só tempo lançar o que é santo aos cães e induzir os ouvintes que se criam já muito instruídos a maior soberba ou mesmo à infidelidade. É mais correto dizer, pois, que Cristo falava às turbas em parábolas, não para que não entendessem e ficassem cegas, mas porque já eram cegas e pouco dispostas para acolher as verdades do reino.

Referências

  1. “Ambos os lados empregaram sentenças curtas, às vezes muito enigmáticas; parábolas propriamente ditas, algumas em forma de pequenas histórias; parábolas recheadas de alegorias, nas quais se podia tirar mais de uma lição” (M.-J. Lagrange, L’Évangile de Jésus-Christ. Paris, J. Gabaldas et Cie., 1954, p. 177). — “As personagens que [os rabinos] põem em cena não são, em geral, mais do que silhuetas sem vida. O pensamento é na maioria das vezes sutil. Tudo é mesquinho, esquemático, artificial” (M. G., La Vie de Jésus, 1932, p. 270s).

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