Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 11, 25-30)
Naquele tempo, Jesus pôs-se a dizer: "Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.
Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a mim, todos vós, que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
A imagem do Cristo no Corcovado ilustra bem o contexto do Evangelho deste 14º Domingo do Tempo Comum, no qual Jesus aparece, por um lado, louvando ao Pai por ter revelado "estas coisas aos pequeninos" e, por outro, abrindo os braços com um brado redentor: "Vinde a mim, todos vós, que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso."
Para que se entenda melhor o contexto dessas palavras tão belas de Jesus, recorde-se que elas estão na sequência de dois episódios muito marcantes: o exorcismo de um mudo e a escolha dos doze Apóstolos. No capítulo 9 do Evangelho de São Mateus, Cristo efetua a cura de alguns cegos e expulsa o demônio de um mudo, para o espanto da multidão que O acompanhava: "Jamais se viu algo semelhante em Israel" (v. 33).
Os fariseus, no entanto, fecham o coração diante da manifestação gloriosa do poder de Jesus, acusando-O de agir em nome do "príncipe dos demônios" (v. 34). Movidos pela inveja e pelo orgulho, aqueles que deveriam pastorear as ovelhas de Deus negligenciam seu dever ao mesmo tempo em que perseguem o Supremo Pastor. Trata-se de uma demonstração clara de como o coração humano pode tornar-se insensível aos apelos de Deus e às necessidades dos irmãos. Cristo, por sua vez, lamenta pela multidão que caminha "como ovelhas sem pastor" e, tomado de compaixão, incentiva-a a pedir ao Senhor "que envie operários para sua messe" (v. 38).
Jesus então escolhe os doze Apóstolos para a missão e os envia "como ovelhas no meio de lobos", a fim de que tragam de volta à grei do Senhor as "ovelhas que se perderam da casa de Israel" (cf. Mt 10, 1-42).
É somente depois desses dois fatos que Jesus prorrompe em louvor ao Pai e acolhe, de braços abertos, os seus filhos, como narra o Evangelho deste domingo. A oração de Jesus é um ensinamento para seus discípulos: a Palavra de Deus só habita em corações humildes. Por essa razão, aqueles que desejarem conhecer os segredos do coração do Pai, devem, como fez o apóstolo São João, reclinar a cabeça sobre o peito do Filho, "que está no seio do Pai" (Jo 1, 18). Sem esse ato de humildade, torna-se impossível uma autêntica intimidade divina, pois "Deus resiste aos soberbos" (Tg 4, 6).
Os fariseus não tiveram acesso ao coração de Deus porque não acessaram o Coração do Filho. É deles que São João fala no prólogo de seu Evangelho: "Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu" (Jo 1, 10). Aos pequeninos, aqueles que O receberam e creram no seu nome, "deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus" (Jo 1, 12-13). O Evangelho deste domingo é, pois, um convite a uma verdadeira vida espiritual: Jesus convida o gênero humano a reclinar a cabeça sobre seu peito, entregando todas as fadigas e preocupações mundanas em troca de seu jugo, que é suave, e de seu fardo, que é leve.
O mundo coloca muitos fardos sobre as costas do homem. Com seus falsos amores e promessas, ele seduz cada pessoa para uma vida totalmente desregrada, iludindo-a com a mentira de que é possível ser feliz no pecado. Mas o filho do homem, diz Jesus, não tem onde reclinar a cabeça neste mundo (cf. Mt 8, 20). É para isso, portanto, que existem os sacramentos, sobretudo a Eucaristia e a Confissão: para que o homem desate os nós do pecado e encontre a felicidade verdadeira em Deus. A Missa é esse Coração de Jesus onde se pode deitar e confessar todas as amarguras desta vida temporal.
O Coração de Jesus é necessário também para que o homem consiga amar. De fato, os homens são incapazes de amar sem uma graça infusa em seu peito. Por causa do pecado original, as pessoas estão em um cabo de guerra consigo mesmas, ora odiando, ora se arrependendo. Jesus compreende essa fraqueza da humanidade e, buscando redimi-la, presenteia-a com seus dois únicos fardos que são o amor e a caridade. Depois da gastança do filho pródigo, Jesus o acolhe para ensiná-lo a amar de verdade.
Hoje no Brasil se recorda a memória de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Para os pecadores, a vida dessa santa religiosa é um espanto. Mas para os pequeninos que se deixaram curar pela graça divina, a vida de Santa Paulina é um exemplo de valentia e heroicidade, porque seu fardo era também carregado por um Cirineu. Cristo ajuda os santos a carregarem a cruz. E assim ela se torna um jugo suave e um fardo leve.
O cristão é como uma lâmpada de azeite, dizia Tertuliano. Para os que veem de fora, só há a chama que se consome e se destrói. Para os que veem a partir de dentro, porém, existe a unção do azeite, isto é, a graça santificante que o encaminha para a total comunhão com Deus.
Que neste domingo os cristãos se lembrem do medo de Santo Agostinho — "Tenho medo da graça que passa sem que eu perceba" — e se derramem sobre o altar de Jesus, como criancinhas humildes e sedentas de verdadeiro amor.
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