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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Com grande alegria celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Deus, Santíssima Virgem e Senhora nossa. O que significa celebrar a Imaculada? Primeiro, significa celebrar o modo pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo salvou Maria. Em segundo lugar, é exaltar o modo pelo qual Ele também nos salva pela salvação que deu à Virgem Maria.

Jesus é o Salvador do universo e, portanto, Maria, nossa Mãe bendita, também foi salva por Jesus no santo sacrifício do Calvário. Como se deu isso? Aqui estão o milagre e o mistério que celebramos nesta Solenidade da Imaculada Conceição. Para entendermos melhor, vamos recorrer a alguns cálculos. Tradicionalmente, diz-se que Nossa Senhora concebeu Jesus aos doze anos de idade. Essa não é uma “crença obrigatória”, mas simplesmente uma tradição. Podemos ficar escandalizados por estarmos falando de uma menina, mas, “tecnicamente”, quando uma mulher ovula já tem o corpo para ser mãe. É um dado da natureza. Notoriamente, isso não significa que, ao ovular, uma menina seja mentalmente capaz para a maternidade. No entanto, é evidente que no coração de Maria Santíssima, dotada de extraordinária maturidade, já havia mais capacidade de ser mãe do que todas as mães que existiram e existirão.

Desse modo, a tradição nos diz que Nossa Senhora teria concebido Jesus na primeiríssima ovulação; o que faria de Nosso Senhor primogênito em todos os sentidos: concebido no primeiro óvulo produzido por Maria. Considerando esses dados, uma vez que Maria concebeu com 12 anos e Jesus morreu na Cruz com 33 anos, então Nossa Senhora tinha 45 anos no momento da crucificação. Pois bem: no Calvário, ao morrer na Cruz, Jesus salvou Maria; no entanto, essa salvação realizada na Paixão de Nosso Senhor teve efeito 45 anos antes, no ventre de Sant’Ana. É isso o que celebramos no dogma da Imaculada Conceição. Um grande milagre, verdadeiro mistério de Deus.

Nós lemos na coleta desta Solenidade: “Deus, tendo em vista os méritos de Jesus no Calvário…”; isto é, olhando para o amor de Cristo Redentor na Cruz, Deus antecipou o fruto da salvação no ventre de Sant’Ana, quando Maria foi concebida. E uma vez que é necessário termos as ideias bem claras daquilo que a Igreja crê, devemos saber que Maria Santíssima foi concebida por um ato sexual normal entre São Joaquim e Sant’Ana.

Há, no entanto, um primeiro milagre a ser considerado nessa concepção: São Joaquim e Sant’Ana não somente eram estéreis, como já estavam em idade avançada; portanto, Sant'Ana era duplamente incapaz de conceber. Mas Deus fez com que aquela senhora de idade avançada ovulasse e, num ato conjugal normal com seu marido, no momento da concepção (que é sinônimo de “conceição”), ou seja, no momento em que aquele óvulo foi fecundado no tubo uterino, Deus realizou o mais esplendoroso milagre da graça: derramou naquela criança uma quantidade de graça — em outras palavras, uma quantidade de seu divino amor — superior à graça que já havia concedido, concede e concederá a toda a multidão de anjos e santos juntos.

Quer dizer: se pudéssemos pesar numa balança todo o amor de Deus derramado em toda a milícia celeste — trilhões de serafins, querubins, tronos, dominações, potestades, virtudes, principados, arcanjos e anjos, todos maravilhosamente admiráveis e santíssimos —, mais a graça que Deus derramou no coração de todos os santos que já existiram e existirão — Santa Teresinha, Padre Pio, os doze Apóstolos etc. —, esta graça ainda seria uma migalha diante da abundância derramada na alma de nossa Mãe bendita no primeiro instante da sua concepção. É isto o que estamos celebrando.

Recorramos a uma comparação para entendermos de forma ainda mais clara. Imagine-se no campo, na área rural ou no Pantanal, à noite, num dia de céu limpo — sem nuvens ou lua: é possível enxergar miríades de estrelas, e até mesmo a Via Láctea, formando uma nuvem luminosa de estrelas, num grandioso espetáculo celeste. Mas o que acontece com esse mesmo céu numa noite de Lua cheia? As estrelas se apagam. A luz da Lua cheia é tão forte que ofusca as estrelas. Assim é Maria, comparada com os anjos e santos! As estrelas do céu são todos os anjos e santos que brilham com a graça de Deus, num espetáculo luminoso de amor. No entanto, quando surge a Lua cheia, a glória de Maria, então a luz dos santos torna-se um “nada”. E é claro que, quando surge a mais luminosa luz de todas, a do Sol — isto é, a luz de Cristo — a Lua também se apaga.

Estamos, portanto, celebrando a Imaculada Concepção, quando Nosso Senhor Jesus Cristo salvou Maria doze anos antes de Ele sequer nascer. Que maravilha da graça! O Filho de Deus, que já existia na eternidade, e que se encarnaria para nos salvar, recebendo um corpo e uma alma para que humanamente sofresse por amor a nós e morresse na Cruz, mostrando o ápice de seu amor, derrotou no Calvário a Satanás, a antiga serpente. No entanto, essa derrota do inimigo de nossas almas começou a se manifestar e teve o seu fruto mais precioso 45 anos antes da Cruz.

Deus é o Senhor do tempo, e pode perfeitamente fazer com que uma causa futura realize um efeito passado. Portanto, quem causou a salvação de Maria? Jesus. E quando Ele causou essa salvação? No ano 33. E quando foi que Maria foi salva? Ora, foi salva 45 anos antes da Cruz, no ano 12 a.C. E como ela foi salva? Existem duas maneiras de salvar uma pessoa. Quando estamos doentes, um médico pode nos receitar um remédio. Mas algo ainda melhor é quando o médico não deixa sequer que o paciente adoeça, prevenindo a enfermidade. Deste modo, Deus preservou Maria para que ela jamais tivesse qualquer relacionamento com Satanás e com o pecado.

Para sermos bem claros, todos nós nascemos “escravos de Satanás”. Por causa do pecado original, existe um certo domínio do Diabo sobre a humanidade. Nossa Mãe, porém, nasceu intacta, porque Satanás nunca a alcançou, nunca teve qualquer domínio sobre ela, de tal modo que a vitória de Cristo na Cruz se manifestou na concepção daquela perfeita criatura, 45 anos antes da Cruz, no ventre de Sant'Ana.

Assim diz a profecia do Gênesis, nas palavras que Deus dirige à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Ela te esmagará a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15). Qual a resposta do debate teológico a respeito de quem esmaga a cabeça da serpente, a mulher ou a descendência da mulher? Resposta: os dois. Quem esmaga a cabeça da serpente é Jesus, descendência da mulher, que na Cruz derrotou Satanás. Uma correta ilustração dessa realidade está no filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson. Na cena do Horto das Oliveiras, vemos Jesus pisando a cabeça da serpente; horas depois, na Cruz, ouvimos Ele dizer: “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito”, e, com um forte suspiro, entregar sua vida; esse é o momento em que o filme mostra Satanás gritando no Inferno, pois foi ali na morte de Jesus que aconteceu a derrota cabal do inimigo.

A partir da Cruz, podemos cantar: “Vitória, tu reinarás. Ó cruz, tu nos salvarás”; e no entanto, o primeiro fruto dessa vitória manifestou-se historicamente 45 anos antes da própria Cruz, no seio de Sant’Ana. Ali, Satanás já deu seu primeiro grito de horror, pois já estava nascendo um ser humano salvo por Deus, livre do pecado, a mulher na qual o Diabo jamais poria suas mãos. Na Imaculada Conceição houve um primeiro esmagamento da cabeça da serpente — feito por Cristo, mas em Maria. Sendo assim, desde o momento de sua concepção, nossa Mãe bendita esmagou também a cabeça da serpente, ao colher o fruto da Redenção de Cristo, que rompeu as barreiras do tempo por determinação bondosa da infinita misericórdia de Deus. Assim quis o Senhor preservar Maria, para que quando Jesus viesse se encarnar, pudesse ser recebido em alguém já redimido e salvo por Ele.

Jesus não foi acolhido nesta terra num leito de pecado, como que esbofeteado e alvo de cusparadas. Nosso Senhor foi acolhido pelo Imaculado Coração que ama a Deus mais do que todas as criaturas juntas jamais amaram, amam ou amarão.

Uma vez que compreendemos como Deus salvou Maria Santíssima, podemos nos perguntar: o que isso tem a ver com a nossa própria salvação? Vejamos como o Livro do Apocalipse se relaciona com aquela profecia sobre a mulher e a serpente do capítulo 3 de Gênesis: “Vi no céu um grande sinal, uma Mulher revestida de Sol…” (cf. Ap. 12). Isso quer dizer: “uma mulher revestida de Deus”; afinal, a Lua não é revestida do Sol? Não é deste astro que vem todo o esplendor do brilho da Lua? Então, na profecia de São João Evangelista, a “mulher revestida de Sol” trava uma batalha com um dragão cor de fogo — “a antiga serpente, chamada Diabo e Satanás”. Isso significa que o capítulo 12 do Apocalipse está fazendo uma relação direta com o capítulo 3 de Gênesis, quando Deus fala à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher”. Trata-se de um paralelo bastante evidente.

O livro do Apocalipse segue narrando que o filho dessa Mulher nasceu para reger as nações e foi levado ao Céu, mas a Mulher fugiu para o deserto; e conta que ela está a travar uma guerra contra Satanás, a antiga serpente, juntamente com “o restante de seus filhos”. Deste modo, todos nós chegamos ao seguinte impasse: nesta luta apocalíptica, é preciso escolhermos se somos filhos da serpente ou da Mulher.

Somos nós a descendência de Maria, dada a nós como Mãe por Cristo na Cruz: “Eis aí a tua mãe!” (cf. Jo 19, 27). Nossa Senhora trava uma batalha contra Satanás; ela não é como os outros santos que caridosamente intercedem por nós. Ela está além deles; Maria tem poder. Além da Ave Maria, cuja primeira parte é retirada de versículos da Bíblia, a oração mais antiga dirigida à Santíssima Virgem é a Sub tuum præesidium (“À vossa proteção”), que foi achada no Egito, num fragmento de manuscrito do segundo século. Estamos, portanto, nos referindo aos anos 100 a 199 d.C. É provável que o autor dessa oração tenha conhecido os Apóstolos, ou conhecido alguém que esteve com eles. O próprio São João ainda estava vivo no início do século II. Perceba que a oração não se refere simplesmente a “Maria, nossa companheira na fé”, ou sequer restringe Maria a “nossa intercessora”. A oração diz: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita”. Em outras palavras: Sub tuum praesidium confugimus, “Debaixo de teu poder nos refugiamos”. Trata-se de “poder” no sentido em que um general de exército tem poder. É o hino mariano mais antigo da Igreja afirmando que Nossa Senhora tem poder para nos proteger.

Nesse sentido, também percebemos claramente que a Igreja não se tornou, mas nasceu Católica. Ao contrário do que dizem os protestantes, a devoção a Nossa Senhora não foi uma “perversão” introduzida na Idade Média. Ora, a verdadeira perversão é tentar retirar a devoção de Nossa Senhora da Igreja! Vimos claramente que ela está presente na Bíblia e, sobretudo, na devoção cristã ao longo de dois mil anos. Não é possível amarmos plenamente a Jesus sem nos colocarmos como filhos da Mulher. É debaixo da proteção da Santa Mãe de Deus que nos refugiamos e pedimos que ela nos livre de todos os perigos. E com que poder ela nos livra! Afinal, é com ela que somos capazes de lutar na batalha contra a serpente.

Podemos encontrar igrejas, templos católicos, onde não haja uma imagem de Santa Teresinha. E, ainda que na minha visão seja um pouco “escandaloso”, podemos até encontrar templos sem a imagem de São José. Mas não existe uma igreja católica sem uma imagem de Nossa Senhora. Eis os nossos distintivos: o Crucifixo e a imagem da Santa Mãe de Deus!

A devoção à Santíssima Virgem, portanto, não é “opcional”, não é uma devoção “particular”. É uma devoção necessária para a salvação; afinal, devemos escolher ser filhos da Mulher. Por isso, peçamos ao bendito Deus que incline nossos corações diante do mistério de amor que salvou Maria abundantemente, derramando sobre ela uma graça maior que todas as graças juntas. Nas palavras de São Luís Maria Grignion de Montfort: “Deus juntou todas as águas e fez o oceano. Deus juntou todas as graças e fez Maria”. E agradeçamos, enfim, pelo dom de termos recebido do Senhor uma Mãe tão boa e generosa, que nos protege dia após dia, como se num braço nos segurasse em seu colo e com o outro portasse uma espada com a qual decepa a cabeça de inúmeras serpentes a fim de defender a nós, seus filhos.

Eis a nossa Mãe bendita, Mãe amável, Mãe sobrenaturalmente bondosa. Esta é a Mãe da nossa fé. É uma grande alegria sermos católicos e sabermos que podemos contar com o poder da Rainha dos Céus — um poder que vem de Cristo, mas concedido a ela por Ele —, defendendo-nos dos perigos e nos socorrendo em tantas necessidades. Um grande louvor e agradecimento a Deus por ela, a Imaculada Conceição, diante de quem o Inferno treme e o Céu canta glórias!

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