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O que nos ensina a história do profeta Jonas?

Nem o profeta Jonas, nem a pregação de Jesus Cristo, nem "os mais belos discursos dos maiores santos seriam capazes de fazer brotar um só ato de amor" em uma alma, se ela não fosse, antes, iluminada pelo Espírito Santo. É esta a essência não só do milagre de Nínive, mas de toda e qualquer conversão que acontece a Deus. Assist...

Texto do episódio
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No Evangelho de hoje, Nosso Senhor afirma que, à sua geração má, “nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas” (Lc 11, 29). Para entendermos o que é o sinal de Jonas, é necessário recordarmos uma frase de Jesus na Última Ceia.

No Evangelho de São João, Jesus diz: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15). Ou seja, Nosso Senhor está dizendo aos Apóstolos que eles são seus confidentes e amigos íntimos, que deu a eles conhecer todos os seus segredos, tudo o que Ele tinha para dizer. Porém, alguns versículos depois, Jesus também diz: “Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de suportá-las agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, então ele vos guiará a toda a verdade.” (Jo 16, 12)

O que esses dois versículos nos ensinam? Ora, ninguém duvidaria que Jesus é um excelente pedagogo. Se há alguém que sabe falar bem, que é capaz de convencer e ensinar as pessoas, é Jesus. No entanto, ainda que Nosso Senhor tenha dado aos Apóstolos conhecer “tudo o que ouvi de meu Pai”, eles não o puderam compreender naquele primeiro momento. Em outras palavras, parece que a pregação de Jesus “não adiantou”, uma vez que Ele mesmo diz: “...não sois capazes de suportá-las (de compreendê-las) agora”, e em seguida complementa que quando vier “o Espírito da Verdade, então ele vos guiará a toda a verdade”. Então, isso quer dizer que não importa quem esteja “aqui fora” ensinando: se é Salomão, o Padre Paulo Ricardo, Jonas ou o próprio Jesus — esse professor não será capaz de nos ensinar nada, a não ser que dentro do nosso coração o Espírito Santo acenda uma luz, e então enxerguemos a verdade. Santo Tomás de Aquino nos ensina isso dizendo que existem duas revelações: uma revelação externa e uma revelação interna.

Quem está aqui fora ensinando pode ser o maior de todos os sinais, como Cristo pregador; ou pode ser um sinal frágil, como Jonas, um profeta “pateta”. Por que digo isso? Porque o pobre Jonas não tinha virtude: foi mandado por Deus para ir converter a cidade de Nínive, sobre a qual viria um grande castigo, mas o profeta não queria ir, e preferiu dar as costas e deixar os ninivitas sofrerem as consequências de seus pecados. Mas, para obrigar Jonas a cumprir sua missão, Deus mandou uma tempestade obrigá-lo a lançar-se no mar, onde uma baleia o engoliu e nadou por três dias até vomitá-lo justamente na praia de Nínive. 

Então Jonas, profeta maldestro, ao chegar na cidade de Nínive, tão grande que eram necessários três dias para atravessá-la, durante apenas um dia, sem grande afã ou esforço, saiu pregando, dizendo simplesmente: “Ainda quarenta dias e Nínive será destruída” (Jn 3, 4b). Cumprida legalisticamente a sua missão, Jonas subiu na montanha ao lado de Nínive e recostou-se para assistir à destruição da cidade. Ele pensou que veria o “espetáculo” do grande castigo: aquela imensa cidade obliterada por Deus.

No entanto, o que aconteceu é que Deus fez um milagre: o profeta que pregou externamente era um sinal fraco, apenas uma voz vacilante chamando aquele povo à conversão. Interiormente, porém, a partir daquela débil exortação o Espírito do Senhor tocou os corações dos ninivitas, e assim todos os habitantes da cidade, desde o rei até os animais, cobriram-se de cinzas, vestiram sacos e fizeram penitência — realizando assim uma quaresma muito mais devota e fervorosa do que a nossa. Milagre dos milagres de Deus! O Espírito Santo falou ao coração dos ninivitas e eles se converteram.

Agora podemos entender melhor o Evangelho de hoje. Jesus é um sinal externo infinitamente maior do que Jonas, do que Salomão; e, no entanto, se Nosso Senhor Ressuscitado lá do Céu não mandar o Espírito Santo em seu coração, ninguém será capaz de converter você. “Eu, porém, vos digo a verdade: é bom para vós que eu vá. Se eu não for, o Paráclito não virá a vós, mas se eu for, eu o enviarei a vós. (...) Quando ele vier, o Espírito da Verdade, então ele vos guiará a toda a verdade” (Jo 16, 7ab. 12b).

Ontem, enquanto eu estava rezando, me veio a inspiração de abrir as Obras Completas de Santa Teresinha, e então me deparei com uma carta que ela escreveu para sua irmã Celina, na qual dizia mais ou menos assim: “Eu fico feliz, Celina, em saber que as cartas que lhe escrevo dão fruto espiritual; mas deixe-me dizer a você: nem todos os santos, com todas as suas mensagens e pregações maravilhosas, seriam capazes de fazer surgir no coração de uma pessoa um único ato de amor”. Eis o Evangelho de hoje! Isto é, ninguém seria capaz de fazer brotar em nosso coração um único ato de amor se Aquele que, ressuscitado, tem o poder de mandar o Espírito Santo, não enviá-lo a nós. Por isso, peçamos mais fé!

Pedir a fé é o mesmo que pedir o Espírito Santo. De fato, o ato de fé só é possível se o Ressuscitado, enviando o Espírito Santo, convidar a nossa vontade e iluminar a nossa inteligência, para que diga: “Creia! É Ele que está falando!” O Espírito Santo enviado pelo Ressuscitado toca o nosso interior e convida a nossa vontade. Nós ouvimos aquilo e vemos que é belo, enxergamos essa luz quando vemos a verdade que está por trás mesmo daquilo que está sendo pregado displicentemente por Jonas. A nossa inteligência é iluminada, e essa luz afeta a nossa vontade, que é convidada por essa beleza extraordinária e dizer: “Creia, é Ele quem fala!”

Sem o auxílio divino, o acendimento desta luz é impossível, e, como disse Santa Teresinha: nem todas as doutrinas e ensinamentos de todos os santos seriam capazes de fazer surgir um único ato de amor numa alma — nem o débil e fraco sinal de Jonas, nem o farol luminoso do Cristo. Se não abrirmos o nosso coração para a graça do Espírito Santo que o Ressuscitado quer enviar, nada acontecerá.

Por isso, peçamos a fé, peçamos o Espírito Santo, para que haja em nosso coração a abertura, para que o nosso interior abra os olhos para essa luz, para que a nossa vontade seja aquecida, a nossa inteligência seja iluminada e possamos dizer do fundo da alma: “Creio!”

É a fé que nos une a Deus. “O justo viverá pela fé” (Hb 10, 38), assim como o feto vive pelo cordão umbilical. Se é a fé que nos une a Ele, precisamos desejá-la mais do que ao ar que respiramos, desejá-la como o bem mais precioso que poderíamos adquirir nesta vida, e deveríamos dançar de alegria ao saber que Ele quer nos dar essa preciosa virtude.

Deveríamos também bater no peito e nos penitenciar, jogar cinzas na cabeça e vestir as vestes de saco dos ninivitas ao ver que somos homens e mulheres de pouca fé e, portanto, de pouca união com Deus. Mas aproximemo-nos hoje mesmo deste altar e digamos: “Eu creio, Senhor, mas a minha fé é tão fraca! Eu creio, Senhor, ajudai a minha falta de fé. Eu creio, Senhor, mas aumentai a minha fé!”

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