CNP
Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
Todos os direitos reservados a padrepauloricardo.org®
Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 17, 1-9)

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhe Moisés e Elias, conversando com Jesus. Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!” Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”. Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.

Meditação. — No 2.º Domingo da Quaresma, contemplamos tradicionalmente o Evangelho da Transfiguração do Senhor. Para compreendermos bem essa realidade sobrenatural, é necessário identificarmos o seu contexto entre os demais acontecimentos do Evangelho.

Jesus começa sua vida pública depois de ser batizado por João e de ir ao deserto para ser tentado pelo demônio. Durante esse tempo, Ele busca — por meio de pregações, milagres e exorcismos — fazer com que os discípulos tenham verdadeira fé. E, aos poucos, eles vão se dando conta de quem Ele é de fato; até que, finalmente, em Cesareia de Filipe, Jesus questiona os doze: “E vós quem dizeis que eu sou?” (Mt 16, 15). Ao que Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus” (Mt 16, 16), demonstrando, assim, que a fé havia florescido no coração dos Apóstolos. Então, Jesus, exultante de alegria, diz: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 17-18). Logo em seguida, de forma contrastante ao que havia dito anteriormente, Jesus fala que deveria ir a Jerusalém para morrer na Cruz. Ao ouvir isso, Pedro chama Nosso Senhor à parte e o contesta: “Que Deus não permita isso, Senhor! Isso não te acontecerá!” (Mt 16, 22). Então, Cristo o repreende de forma incisiva: “Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!”.

Percebemos, assim, a contradição entre a fé de Pedro e, logo em seguida, a sua aparente falta de fé, que o leva a tentar evitar a Cruz. Embora frágil, a fé de Pedro era verdadeira, pois professou que Jesus era o Messias anunciado no Antigo Testamento. No entanto, Pedro ainda não estava preparado para crer que Jesus era também o Servo Sofredor, profetizado por Isaías. Então, Nosso Senhor o adverte severamente, a fim de que se emende.

Uma semana depois, Jesus sobe a uma montanha — provavelmente o monte Tabor — levando consigo Pedro, Tiago e João, e transfigura-se diante deles, assumindo uma forma resplandecente. Na ocasião, também aparecem ao lado de Nosso Senhor duas personagens do Antigo Testamento, Moisés e Elias, que falam com Ele sobre sua morte na cruz (cf. Lc 9, 31). Vemos, aqui, que a Transfiguração gloriosa do Senhor é um ato cujo significado não se em si mesmo, senão que aponta para o sacrifício da Cruz.

Mesmo assim, Pedro, estupefato com o que vira, propõe que fizessem três tendas (cf. Mt 17, 4), a fim de que permanecessem naquele momento de consolação, através do qual estavam experimentando antecipadamente a glória do Céu. Nosso Senhor, porém, desce com ele do monte Tabor, mostrando que a glória definitiva só é alcançada por meio da Cruz, e que as consolações vividas na Transfiguração eram uma preparação para o sofrimento do Calvário. Esse ensinamento é fundamental para nós que muitas vezes buscamos nas consolações uma solução mágica para a vida de fé, como se pudéssemos resumi-la a um retiro ou a uma experiência de oração em que “sentimos” a ação de Deus em nós. De fato, as consolações são importantes, mas não são um fim em si mesmas; ao contrário, são um meio através do qual recuperamos nossas forças para continuar a caminhada de fé.

Retomando a narrativa do Evangelho, vemos que Pedro ainda estava falando quando Deus, por meio de uma nuvem luminosa, dirigiu as mesmas palavras que proferira no Batismo do Senhor: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado” (Mt 17, 5). Ou seja, Deus Pai declara que depositou todo seu amor no Filho. Santo Tomás de Aquino, no Comentário ao Evangelho de São Mateus, explica-nos que, por ter recebido amor, o Filho realiza obras dignas de amor, que despertam o agrado de Deus Pai.

Após essas palavras já ditas no Batismo, Deus Pai acrescenta uma ordem: “Escutai-o!” (Mt 17, 5), com a qual Ele exorta os discípulos, principalmente Pedro, a ouvirem aquilo que Cristo tantas vezes lhes dissera: que Ele precisava passar pela Cruz, na qual se manifesta o amor que agrada ao Pai. Por isso, também nós devemos “escutar” as palavras do Filho segundo as quais não é possível evitar a cruz; e, aderindo a elas, precisamos nos unir a Ele nos momentos de sofrimento da vida cotidiana, oferecendo nossa dor, a fim de que o Espírito Santo a transforme em atos de amor a Deus.

Embora muitos tentem dela se esquivar, a cruz é inevitável. Todos a temos. Tanto um cristão quanto um ateu a experimentam. A diferença, porém, é que os cristãos veem na cruz uma oportunidade de amar a Deus de volta, já que Ele nos amou por primeiro (cf. 1Jo 4, 19).

Assim, neste 2.º Domingo da Quaresma, Nosso Senhor nos ensina, por meio do Evangelho da Transfiguração, que não alcançaremos a glória do Céu sem passarmos pelo sofrimento da Cruz. Por isso, quando surgirem na nossa vida os desastres e as dificuldades, não desanimemos, mas supliquemos ao Espírito Santo que transforme a nossa dor em amor a Deus. Não queiramos, como Pedro, ficar apegados às consolações de tal forma que venhamos a fugir da cruz quando a nós ela se apresentar. Mas saibamos que as consolações do Tabor são uma preparação para enfrentarmos o Calvário desta vida.

Oração. — Senhor Jesus Cristo, Vós que levastes os discípulos ao monte Tabor a fim de que se preparassem para o Calvário, fazei com que nos desapeguemos das consolações que recebemos e consigamos abraçar as cruzes de todos os dias. Assim seja. 

Material para Download

O que achou desse conteúdo?

Mais recentes
Mais antigos
Texto do episódio
Material para download
Comentários dos alunos