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Por que podemos chamar a Deus de Pai?

“A todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus” (Jo 1,12s).

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 11,1-4)

Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”.

O Evangelho de hoje é o Pai-nosso segundo a versão do evangelista São Lucas, a qual, estranhamente, não é “Pai nosso”, mas simplesmente “Pai”. É assim que Jesus ensina os seus discípulos a rezar. Existem algumas nuances — coisas bem interessantes — com relação à versão de São Lucas. Quando Deus nos dá vários Evangelhos diferentes, com variações, é porque Ele quer que nós aprendamos aspectos diferentes daquela mesma verdade.

Em primeiríssimo lugar, São Lucas é o evangelista da oração. Jesus estava rezando, então os discípulos, vendo-o rezar, como reação a Jesus que reza, pedem-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou aos seus discípulos”. Jesus então lhes ensina.

É interessante entendermos que é realmente importante aprender a rezar. Se alguém dissesse: “Fale russo” ou “Fale japonês”, você iria dizer: “Ninguém me ensinou! Eu não sei falar essas línguas”. A mesma coisa com relação à oração. A oração precisa ser aprendida porque nós precisamos entrar na linguagem de Deus. Jesus, aqui, nos coloca em cheio nessa realidade: chamar a Deus de Pai! Chamar a Deus de Pai, para nós cristãos, é algo com uma densidade muito grande.

Por quê? Porque não se trata simplesmente de dizer que Deus é nosso Pai metaforicamente. As outras religiões podem chamar a um deus de pai. Os gregos podiam chamar Zeus de pai, ou [os romanos] Júpiter de pai, mas é simplesmente por metáfora, pois eles sabiam que não eram filhos. Nós sabemos que Jesus é Filho, e é Filho de Deus porque “consubstancial ao Pai”, é da mesma natureza que o Pai, assim como o seu filho é da sua mesma natureza, ou o filho de um animal é da mesma natureza daquele animal.

Jesus é Deus porque Ele, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é da mesma natureza de Deus, vive na intimidade de Deus Pai e, portanto, pode dizer: “Pai, Abba”. Ora, ao nos ensinar a rezar, Jesus está nos introduzindo na intimidade de Deus, ou seja, numa realidade sobrenatural, numa realidade em que, lá no Céu, o Pai ama o Filho, e o amor deste Pai pelo Filho e o do Filho pelo Pai é, consequentemente, o Espírito Santo.

Nós entramos nessa felicidade trinitária, nós entramos na realidade trinitária, mas como nós podemos entrar? O próprio Jesus o disse: “Eu sou o caminho”. Jesus é a porta que nos conduz porque, se nós estivermos unidos a esta divina Pessoa, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que se fez homem igual a nós, consubstancial a nós — Ele se fez filho de Maria, ou seja, Filho de homem; Ele, o Filho de Deus, se fez Filho de homem —, então agora, unidos a Ele pelo Espírito Santo, podemos chamar a Deus de Pai.

Isso é fantástico, isso é grandioso! Nós somos filhos no Filho, Jesus. Isso é algo muito profundo porque, enquanto as outras religiões podem chamar a Deus de Pai por metáfora; nós podemos chamar a Deus de Pai pela graça. Jesus chama a Deus de Pai por natureza, nós chamamos a Deus de Pai porque recebemos a graça de sermos filhos. Não fomos gerados nem pela vontade da carne, nem pelo sangue; nós nascemos de Deus: Ex Deo nati sunt, como diz o prólogo de São João. Essa é a graça que nós recebemos do seu Filho, Jesus.

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