A pergunta básica que direciona o início do nosso novo curso, Glorioso São José, é esta: por que precisamos de São José? Em outras palavras, por que precisamos conhecê-lo mais, amá-lo e aumentar nossa devoção a ele?
A pergunta não é ociosa.
Quando pensamos na Virgem Maria, é algo óbvio. Sabemos que, ao entrar em uma igreja católica, veremos ao menos um crucifixo e uma imagem de Nossa Senhora, havendo apenas dúvidas com relação a qual das invocações será feita à Santíssima Mãe. Podemos afirmar, assim, que a devoção mariana é universal. Mas, e São José?
Na prática, apesar de haver inúmeros devotos, vemos que sua veneração não é um costume unânime. Recentemente, em 2021, tendo o Papa Francisco proclamado um Ano Jubilar em honra a São José (através da Carta Apostólica Patris Corde), muitos fiéis o têm descoberto e aumentado sua devoção a ele.
A questão do desconhecimento a seu respeito, de certa forma, foi fruto da história da Igreja ao longo dos séculos. Os Evangelhos, por sua vez, dedicam-lhe pouquíssimos versículos, sendo centrados em revelar a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo como Filho de Deus. (E, evidentemente, não convinha falar da filiação adotiva de Cristo antes de inculcar nos homens a verdade de sua filiação divina e eterna no seio da Santíssima Trindade.)
Por isso, São José ficou “na penumbra” durante 15 séculos. Quando se analisa a cristandade, não se tem notícia de igreja dedicada a São José com mais de mil anos; todas são relativamente recentes. E a Igreja proclamou São José como Padroeiro da Igreja há apenas 150 anos, no pontificado do Beato Papa Pio IX.
No entanto, podemos dizer que não foi Pio IX quem o constituiu patrono da Igreja. Foi o próprio Deus Altíssimo. “Nestes dias, que são os últimos” (Hb 1, 2), a Igreja nos dá São José, assim como Deus Pai entregou a Igreja nascente — Jesus Cristo e Maria Santíssima — à sua proteção. São José foi escolhido desde o início, pensado para proteger a vida daquele que é a Cabeça da Igreja — como fica patente no episódio da fuga para o Egito — e defender a honestidade de sua Mãe.
Quando proclama São José seu padroeiro, portanto, a Santa Madre Igreja procede como aquele pai de família do Evangelho, “que do seu tesouro tira coisas novas e velhas” (Mt 13, 52). São José está sendo descoberto com o tempo, sim, mas, se olharmos bem os Evangelhos, ele sempre esteve lá.
E não foi por acaso que ele entrou na história da salvação: desde toda a eternidade Deus o pensou em seus decretos, razão pela qual podemos dizer que, na verdade, São José não é pai adotivo, mas “pai adotado” do Verbo feito carne — fato singular e misterioso, porque, verdadeiramente, o Filho eterno de Deus precede o seu pai adotivo na terra: “Antes que Abraão fosse, eu sou” (Jo 8, 58).
Mas por que agora a paternidade e a intercessão deste santo se fazem tão importantes?
Quando proclamou São José como Padroeiro da Igreja no decreto Quemadmodum Deus, no dia 8 de dezembro de 1870, o bem-aventurado Papa Pio IX tratou de explicar um pouco o contexto de sua época: “Nestes tempos tristíssimos em que os inimigos da Igreja a atacam de todos os lados, é tão grave a sua tribulação que os homens ímpios pensam que finalmente as portas do Inferno irão prevalecer contra ela”.
Adaptando para hoje, 150 anos depois, poderíamos dizer que é tão grave a situação da Igreja, que não só os homens ímpios, mas até os homens devotos, os homens de Igreja, estão pensando: “Mas será que as portas do Inferno irão prevalecer?”. Vivemos em um mundo no qual parece existir um triunfo da maldade sobre o bem, onde nações inteiras estão perdendo a fé. Mas nós sabemos que Deus Pai, na sua Providência piedosa e misericordiosa, está nos oferecendo este tempo de presente para a purificação da Igreja.
São emblemáticas nesse sentido as aparições de Nossa Senhora em Fátima, no ano de 1917, quando a Virgem Santíssima previu toda a nefasta história do século XX: perda da fé, cidades em ruínas, nações aniquiladas, cristãos sendo martirizados, a Igreja sendo provada etc. Eis, em suma, todo o conteúdo do chamado “terceiro segredo” de Fátima.
E, diante desse cenário catastrófico, para fortificar os pastorinhos — e toda a humanidade, no fundo, que conheceria depois a sua mensagem —, o que faz Maria? Vem abençoar o mundo, a 13 de outubro, no Milagre do Sol. Mas não o faz sozinha: vem trazendo no colo o Menino Deus e ladeada por seu esposo virginal, São José. Segundo o relato da Irmã Lúcia, na ocasião, cada um deles traçou sobre a multidão reunida, três vezes, o sinal da Cruz [i].
Olhando em retrospectiva, não há dúvidas: cumpriu-se tudo aquilo que predissera Nossa Senhora. Agora, porém, resta-nos travar a “última batalha de Satanás contra Deus”, que é “no terreno da família” [ii]. De fato, renovam-se cada vez mais os atentados à família natural e, com fúria realmente diabólica, como se fossem novos Herodes (cf. Mt 2, 16), os governos de nossa época não poupam nem mesmo a vida dos mais inocentes, procurando a todo custo promover e liberar o aborto.
Para nos ajudar nesse combate, no entanto, temos Jesus, temos Maria e temos José! Eis o seu kairós, o tempo oportuno deste santo, o tempo de recorrer à sua poderosa intercessão. De 150 anos atrás até os dias de hoje, aumentou no mundo inteiro a devoção ao Patriarca da Sagrada Família, sendo criados centros de estudo especializados e até uma nova disciplina teológica: a josefologia.
Vale a pena advertir, a respeito disso, que existem diversas revelações privadas e escritos apócrifos sobre a vida de São José — os quais têm o seu valor e utilidade —, mas nosso curso não se fundamenta em nenhum deles. Preferimos amparar-nos em bases sólidas: a Tradição católica e os Santos Evangelhos. (Tal como Santa Teresinha do Menino Jesus, que, no leito de morte, rejeitou assim o consolo de uma irmã: esta lhe dissera “que os Anjos viriam em sua morte para acompanhar Nosso Senhor, e que ela os veria resplendentes de luz e beleza”; ao que lhe respondeu a santa “Todas essas imagens não me fazem nenhum bem. Não posso me alimentar senão da verdade. É por isso que jamais desejei ter visões. Não se pode ver, na terra, o Céu, os Anjos, tais como eles são. Prefiro esperar para depois da morte” [iii].)
“Não posso me alimentar senão da verdade”. Eis a razão de ser deste curso: dar a você o alimento da verdade — a fim de que, conhecendo as coisas de Deus através da inteligência, você passe a amá-las com a sua vontade, e assim vá crescendo genuinamente a sua caridade e disposição em servir a Deus, como a que teve São José.
A devoção a este santo, enfim, tem uma nota característica toda especial. (E, aqui, falo a partir de um testemunho meu e de vários outros devotos de São José.) Quando se tem devoção a Nossa Senhora, muitas pessoas, inclusive eu, sentem que ela é um porto seguro, um porto de paz. Ela é, verdadeiramente, a Rainha da Paz. Por isso, ao entregar nossas angústias a ela, sentimo-nos protegidos e acolhidos em seu colo materno. Mas São José é o santo do discernimento. Com efeito, um dos momentos mais dramáticos de sua vida (senão o maior) foi quando, por não saber explicar o mistério da concepção virginal de sua esposa e, ao mesmo tempo, para não difamá-la, ele resolveu em seu íntimo rejeitá-la secretamente. Era um momento de grave perturbação interior. José tinha diante de si muitos caminhos e precisava tomar uma decisão. Eis que vem, então, o anjo e lhe diz: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mt 1, 19-20). O anjo, no momento de maior aflição, valeu a José para conceder o discernimento e a luz necessária na escolha do caminho conforme a Verdade.
Assim, quando nos encontrarmos em uma encruzilhada na vida e não enxergamos por onde vai a vontade de Deus, devemos recorrer ao Patrono da Igreja. Deus deseja nos dar a sua luz, cujo reflexo é visto na glória de São José, aquele que viveu o drama do discernimento e pode nos iluminar nos momentos de indecisão.
Eis o tempo oportuno! Sejamos verdadeiros devotos de São José, grande mestre da vida contemplativa e guardião espiritual em nossas vidas. — Valei-nos, São José!
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