Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 13,54-58)
Naquele tempo, dirigindo-se para a sua terra, Jesus ensinava na sinagoga, de modo que ficavam admirados. E diziam: “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram conosco? Então de onde lhe vem tudo isso?” E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus, porém, disse: “Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família!” E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé.
Celebramos hoje a Memória do extraordinário Cura d’Ars, São João Maria Vianney, o Padroeiro dos párocos. Por que a Igreja escolheu este homem para ser o Padroeiro dos párocos, quando existiram milhares de sacerdotes santos ao longo desses dois mil anos de Igreja? Porque São João Maria Vianney é um raio de luz no meio das trevas que inauguraram os tempos modernos.
Sim, o mundo como nós o conhecemos foi moldado pela Revolução Francesa, e São João Maria Vianney é uma resposta do Céu a esta revolução.
Em que sentido? O mundo da Revolução Francesa é um mundo que se tornou cada vez mais materialista, ou seja, a resposta para a felicidade do homem está aqui nesta terra; Deus é alienação, simplesmente uma fábula, uma ideologia, um “jogo linguístico” — diríamos nós hoje — para escravizar as pessoas. Assim, vemos que as pessoas começam a se comportar como animais.
Ars, à qual São João Maria Vianney chegou, uma cidade abandonada, sem cuidado pastoral nem padres, era verdadeiramente um lugar em que as pessoas estavam reduzidas à animalidade muito mais do que nós possamos suspeitar. Então, qual foi a resposta de São João Maria Vianney? Alguns de nós responderiam com manifestações de poder, através de propaganda, de palavras de ordem, de força, de “ideologia contra ideologia”.
Não foi isso o que São João Maria Vianney fez. Ele simplesmente viveu o Evangelho na sua radicalidade. O verdadeiro sacerdote católico compreende que, se quiser ser sacerdote, só pode sê-lo como Jesus o foi, a saber, sendo vítima. Sim, São João Maria Vianney se ofereceu a Deus em sacrifício e penitências, em obras de amor e caridade aos pobres, num engajamento de sua própria pessoa, oferecida em holocausto a Deus pela salvação das almas.
Nós, certamente, diante de outra Revolução Francesa, que tratasse a Igreja como uma instituição de poder, estimularíamos a luta pelo poder. A resposta de São João Maria Vianney, porém, é a resposta de Cristo: ao invés de se manifestar como um sacerdócio de poder, ele se manifesta como um sacerdote que é vítima.
O Concílio Vaticano II tentou responder a essas acusações de que a Igreja quer poder e de que o sacerdócio é um instrumento de poder; mas a resposta não é a que alguns miseravelmente dão, não por causa do Concílio, mas por sua própria conta: laicizar os padres, transformando-os em funcionários públicos, leigos iguais aos outros.
A resposta aos que acusam a Igreja de ser uma instituição de poder é mostrar que, sim, nós temos um poder, mas é o poder da Cruz; nós temos um poder, mas é o poder de quem ama até o desprezo de si mesmo, de quem ama a Deus e assim consegue edificar a única cidade que é objeto de missão da Igreja, a cidade do Céu.
Santo Agostinho dizia com toda a clareza que existem duas cidades: uma que vai do amor de si até o desprezo de Deus (que é justamente a que Revolução Francesa e o mundo moderno buscaram edificar); e outra, a cidade do Céu, edificada por São João Maria Vianney, que parte do desprezo de si, porque é nele que está fundado o amor de Deus: do amor de Deus até o desprezo de si mesmo.
Eis aí como ele, sacerdote e vítima, entregou-se com uma eficácia tremenda, a tal ponto que o governo francês obrigou-se a construir uma estrada de ferro para levar os milhares de peregrinos que iam até a desconhecida Ars. Para ver o quê? Um padre santo, que se oferecia como vítima a Deus.
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