Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 14, 6-14)
Naquele tempo, Jesus disse a Tomé: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”.
Disse Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!” Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai, e o que pedirdes em meu nome, eu o realizarei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o realizarei”.
Celebramos hoje, com grande alegria, a Festa de São Tiago e São Filipe, dois Apóstolos cujos corpos estão enterrados juntos na Basílica dos Doze Apóstolos. São Tiago foi o primeiro bispo de Jerusalém, e São Filipe evangelizou boa parte da região do Oriente próximo. Então, depois da Queda de Constantinopla, suas relíquias foram trazidas para Roma.
Os trechos da Sagrada Escritura que vemos neste dia são muito oportunos para este Tempo Pascal. A Primeira Leitura deste dia (1Cor 15, 1-8) mostra-nos o escrito mais antigo que temos atestando a Ressurreição de Jesus Cristo — feito na década de 50; portanto, aproximadamente 20 anos depois da Ressurreição —, onde São Paulo fala acerca da Tradição.
Antes de tudo, devemos saber que ainda não existia a “Bíblia”, ou seja, só havia o Antigo Testamento dos judeus, sem os 27 livros do Novo Testamento. No máximo, tinha a Carta aos Tessalonicenses, pois as cartas de São Paulo estavam sendo escritas. Porém, aquela que vemos hoje, depois de Cristo, já fala sobre a Tradição. É importante lembrarmos disso porque a Igreja não ficou católica: ela nasceu católica, e essa é uma das dificuldades que os protestantes têm de admitir.
São Paulo diz com toda clareza: “Irmãos, quero lembrar-vos o Evangelho que vos preguei e que recebestes, e no qual estais firmes. Por ele sois salvos, se o estais guardando tal qual ele vos foi pregado por mim. De outro modo, teríeis abraçado a fé em vão. Com efeito, transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo tinha recebido” (1Cor 15, 1-3) Eis aí a transmissão, a parádosis, a Tradição.
Numa época em que o Novo Testamento estava apenas se iniciando, São Paulo diz “eu transmiti o que eu recebi”, e coloca-nos diante de uma “fórmula” que foi dada a ele, atestando a Ressurreição: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que, ao terceiro dia, ressuscitou, segundo as Escrituras; e que apareceu a Cefas e, depois, aos Doze. Mais tarde, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma vez. Destes, a maioria ainda vive e alguns já morreram. Depois, apareceu a Tiago e, depois, apareceu aos Apóstolos todos juntos. Por último, apareceu também a mim, como a um abortivo.” (1Cor 15, 3-8).
É interessante notarmos aqui a menção do Apóstolo Paulo a Tiago, que era bispo de Jerusalém e era chamado “irmão de Jesus”, por ser parente de sangue de Nosso Senhor. Ele, assim como os outros Apóstolos, entregou-nos uma fé que precisa ser defendida e atestada de tal forma que devemos estar dispostos a derramar o nosso sangue para não mudá-la ou negá-la. Todo cristão é defensor de uma Tradição, e a Igreja Católica não tem dúvida nenhuma de mencioná-la como a dupla fonte da Revelação que nos foi transmitida ao longo dos séculos e que vem dos Apóstolos e das Sagradas Escrituras. Portanto, se algum dia for necessário, tenhamos a coragem e a determinação inabalável de São Tiago e São Filipe, que pela fé morreram heroicamente.
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