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Somos salvos pelos sacramentos!

A humanidade inteira já foi redimida na Sexta-feira Santa. Os méritos de Nosso Senhor, o amor com que nos amou, foram suficientes para salvar todo o mundo. Agora, porém, é preciso tomar essas graças da Cruz e aplicá-las em nossa vida. É o que faz a Igreja através dos sete sacramentos!

Texto do episódio
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Com esta Vigília Pascal, finalmente estamos vivendo a alegria da Páscoa! Ontem, celebrávamos a Paixão e morte de Jesus na Cruz; foi ontem, na Sexta-Feira Santa, que Jesus venceu o maior inimigo: Satanás e os seus anjos. Cristo venceu, na Cruz, o pecado e o Inferno. Sim, porque todos nós, pecadores, fomos merecedores do Inferno. Esta é a grande desgraça, a grande miséria, o grande mal!

Os outros males têm cura; o Inferno, não. É importante entendermos isso com clareza porque, além de Satanás, temos a tendência de nos deixar levar por um outro inimigo da alma: o mundo. Isso quer dizer que as pessoas pensam somente em se livrar dos males físicos: a doença, a pobreza, o mal-estar, os sentimentos ruins. Tudo isso, naturalmente, é mal — mas são daqueles que têm cura.

Quando vier o último dia, em que Jesus nos ressuscitará dos mortos, ninguém mais será pobre, doente ou terá outros sofrimentos físicos — isso se entrarmos no Céu, onde viveremos a felicidade eterna. Mas há o mal que não tem cura: é o da condenação eterna. São aqueles que morreram em pecado mortal e por isso foram imediatamente para o Inferno; e que depois, no Fim dos Tempos, também terão seus corpos ressuscitados, mas para irem de corpo e alma para o Inferno, assim como aqueles que forem salvos irão de corpo e alma para o Céu.

É fundamental dizer essas coisas, que fazem parte do catecismo básico, porque se não temos ideias claras, acabamos nos perdendo. Isto posto, Deus veio a este mundo para vencer o inimigo maior que é o Inferno, e Ele conseguiu essa vitória na cruz. E após passar três dias no túmulo, Jesus ressuscitou [1].

Ressuscitando, Jesus mostra a vitória de Deus alcançada na Cruz. Por este triunfo, nós estamos salvos, e toda a humanidade foi redimida. Agora, atenção para o centro daquilo que vou ensinar para vocês nesta noite santa: Jesus, com seu sangue derramado na Cruz, obteve méritos suficientes para salvar a nós todos. Com Cristo ressuscitado, começa um novo tempo — o tempo de pegarmos essas graças da Cruz e aplicá-las à nossa vida.

Para usar uma linguagem teológica, existe uma salvação objetiva e uma salvação subjetiva. Jesus, objetivamente, já salvou a humanidade inteira por meio de seu amor, morrendo na Cruz por nós. O amor de Cristo é suficiente para salvar todos os homens que já existiram, todos os quase 8 bilhões que vivem agora e todos os outros que ainda nascerão. Mas agora é preciso que tomemos a decisão individual de aplicarmos essa salvação a nós mesmos. Quando não fazemos isso, o nosso caminho é o Inferno.

Então, o que celebramos a partir da Vigília Pascal é o Tempo Pascal; a Igreja se reveste de branco, é uma festa de alegria. E o que a Igreja faz nesta Missa especial da noite do Sábado Santo? Celebra os sacramentos. Em várias paróquias do mundo, nesta Missa Solene, pessoas estão sendo batizadas, crismadas e recebendo a Primeira Comunhão. Porque agora começa o tempo da Igreja, tempo em que os méritos da Cruz de Cristo serão aplicados a nós: “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” (Mt 28, 19)

Depois da teoria, agora vamos entender isso na prática. O que aconteceu ontem (Sexta-Feira Santa)? Lemos no Evangelho de São João que o soldado pegou uma lança e atravessou o peito de Jesus, do qual saíram “água e sangue”. Aí está a fonte dos sacramentos, que dá início a este tempo da Igreja.

No Antigo Testamento não havia sacramentos. Havia o matrimônio, mas não era sacramento, mas o matrimônio natural. Os sete sacramentos brotaram do peito de Cristo. Começa então a Igreja, que vive dos sacramentos.

Há muitos que dizem: “Eu leio a Bíblia em casa mesmo; e isso basta”. Mas em casa você não tem os sacramentos e, portanto, não tem a vida da Igreja que está presente neles. Quem quer se unir a Jesus, quem deseja que a salvação conquistada por Ele na Sexta-Feira Santa entre em sua vida, precisa dos sacramentos!

Pobrezinhos de nossos irmãos protestantes: jogaram fora todo o sistema sacramental que Jesus nos conquistou na Cruz. Ainda que muitos deles tenham um Batismo válido, a maioria sequer acredita que este sacramento tenha alguma eficácia na alma. A maior parte deles nem têm pressa de batizar; e alguns dizem que nem é preciso. Crisma? Nem vale a pena mencionar! Eles têm a chamada “Ceia”, mas não é Jesus que está ali — é somente uma cerimônia em que distribuem pão e vinho (que alguns ainda substituem por suco de uva); mas não é algo do qual se possa dizer: “Quem come a minha carne, quem bebe o meu sangue”. Eles não acreditam que seja Jesus, substancialmente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade naquelas espécies.

Imagine, hipoteticamente, que um católico desinformado se ajoelhe diante daquele pão e vinho da cerimônia da Ceia protestante — isso seria cometer uma idolatria, e eles mesmo dirão isso. Caso uma fiel daquela igreja se ajoelhe diante daquele pão e vinho e diga: “Jesus, eu te adoro”, seria seriamente repreendida pelo pastor como motivo de escândalo e idolatria. E, realmente, não é Jesus que está ali, ao contrário do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, diante do qual nós católicos ajoelhamos e incensamos, porque se trata do próprio Jesus!

O fato é que a Igreja vive dos sacramentos, principalmente da Eucaristia, que é o maior dos sete. Quando Jesus foi transpassado pela lança, de seu lado saíram água e sangue: a água simbolizando o Batismo, que é o primeiro sacramento; e o sangue, a Eucaristia, que é o maior sacramento. Ali estão resumidos todos os outros sete. Ali, brota de Cristo o rio de água viva dos sacramentos que precisam ser aplicados à nossa vida, porque são nosso caminho de santificação.

Mas, afinal, o que são os sacramentos? São sinais visíveis através dos quais é infundida em nós a graça santificante; ou seja, os sacramentos são a forma de Cristo ressuscitado tocar, efetivamente, a nossa alma.

Eis aí, meus irmãos: nesta noite de Páscoa, Jesus ressuscitado quer nos tocar! Ele toca as crianças que serão batizadas: “Deixai vir a mim as criancinhas”; é Ele quem tira delas a mancha do pecado original, unindo-as com Ele, para que também sejam filhas de Deus. Jesus toca as pessoas que são crismadas; Ele, que é o Cristo, o ungido pelo Espírito Santo, faz de nós também ungidos com os dons do Espírito Santo, para que possamos amar a Deus como Deus nos ama e conhecer a Deus como Deus se conhece.

Quando ainda estava em Nazaré, na Galileia, Jesus trabalhava na carpintaria e modelava a madeira com o serrote, com o martelo, com o formão, e assim dava forma aos móveis que queria fazer. Agora, Jesus ressuscitado tem uma nova carpintaria: nós somos a madeira, e Ele agora nos toca com o Batismo, com a Crisma, com a Eucaristia, com a Confissão, com a Unção dos Enfermos, com a Ordem e com o Matrimônio. Em cada sacramento, Jesus ressuscitado nos toca e modela a alma.

Precisamos viver agora o tempo da Igreja, o tempo dos sacramentos, que são a  vida dessa Igreja. Quando Ele voltar, no último dia, os  sacramentos não serão mais necessários, porque vamos ver a Deus face a face no Céu. 

No Antigo Testamento não havia sacramentos, e quando Jesus voltar também não haverá. Os sacramentos estão, desta forma, entre as duas vindas de Cristo, são próprios deste tempo da Igreja. É claro que haverá a Igreja no céu, mas a triunfante, e não a militante, da qual agora fazemos parte, e que luta neste mundo para que as pessoas façam parte da maravilha que é o Céu.

Meus queridos, nós iremos viver o Tempo Pascal quando nós realmente nos aproximamos dos sacramentos. A Igreja, que é Mãe, começou a notar durante uma certa época na Idade Média que as pessoas estavam com medo de receber os sacramentos, e por isso passavam anos sem se confessar e comungar. Então, em um dos Concílios de Latrão, a Igreja decidiu estabelecer uma lei para o bem do povo de Deus. Desde então, fazem parte dos cinco mandamentos da Igreja estes dois: “Confessar-se ao menos uma vez por ano” e “Comungar pela Páscoa da ressurreição”. O que quer dizer “comungar pela Páscoa”? Quer dizer que, a partir da Vigília Pascal até Pentecostes, o católico tem cinquenta dias para “regularizar” a sua situação. Portanto, se você está sem se confessar e pode fazê-lo, então deve se confessar e comungar nesse período.

Alguém pode me perguntar: “Não seria muito pouco se confessar e comungar uma vez por ano?” Sim, é muito pouco, mas a Igreja tem essa lei para o Tempo Pascal, e por ela podemos recordar que não podemos ficar acomodados sem nunca nos confessarmos. Afinal, se Jesus vivo e ressuscitado quer nos tocar por meio dos sacramentos, devemos deixar que, através desses sinais eficazes, Ele realmente modele a nossa alma.

Você já foi batizado? Ótimo; o Batismo é só uma vez na vida. Crismado? Se não foi, está faltando o quê? Lembre-se de que a Crisma é o sacramento do soldado de Cristo no combate contra Satanás. Todos os dias nós precisamos de força para essa batalha! Está com uma doença grave, que está enfraquecendo você espiritualmente? Você pode recorrer à Unção dos Enfermos: é a Igreja que vem fortalecer o fiel no combate contra as tentações na hora da doença. Depois, temos a Ordem: homens escolhidos para o sacerdócio, que continuarão administrando os sacramentos em nome da Igreja, fazendo o papel de Cristo. Enfim, temos o Matrimônio, que é a santificação da união conjugal através do amor de Cristo e da Igreja.

Todos esses cinco sacramentos citados acima são sacramentos que recebemos poucas vezes: Batismo, Confirmação e Ordem só podem ser recebidos uma vez; a Unção dos Enfermos pode ser repetida, em caso de outra doença ou proximidade da morte; mas é raro, não é todo dia. E quanto ao Matrimônio, geralmente as pessoas recebem uma única vez em caso de viuvez é possível recebê-lo novamente.

A Confissão e a Comunhão, por sua vez, são o nosso dia a dia. Nós estamos neste mundo para, continuamente, confessar e comungar — e fazer isso com frutos, e não apenas “automaticamente”. Então, muitos de vocês que se prepararam e que se confessaram para a comunhão pascal irão tocar o Ressuscitado! Não como São Tomé, que tocou as chagas de Nosso Senhor; pois é o próprio Cristo quem toca aquele que comunga.

Para quem está há muito tempo sem se confessar: o quanto antes é a ocasião mais propícia. Não perca tempo! Sei que há pessoas que ainda não podem se confessar, porque estão em alguma situação de pecado que ainda não conseguiram deixar. Para estes, não pode haver outro conselho: procure uma solução, uma forma de deixar o pecado. Tenha coragem!

Você não foi feito para o pecado. Abandone o que você precisar abandonar, procure um sacerdote com quem se aconselhar — mas é fundamental deixar o pecado. Lembre-se, é inaceitável essa desculpa de que “o padre me deu permissão de comungar sem eu deixar o pecado”. Isso não existe. Nenhum padre, nenhum bispo, nem o Papa tem o poder de conceder esse tipo de permissão. O próprio Jesus não faria isso, pois é Ele quem, diante do arrependimento, dá o perdão e exige: “Vai e não tornes a pecar” (cf. Jo 8). Não existe perdão de qualquer pecado sem abandono do mesmo. 

Há até quem tenha medo de dizer o ato de contrição direito. Em sua forma mais comum, o ato de contrição sempre tem uma parte importantíssima, na qual o fiel diz: “prometo, com a vossa graça, nunca mais pecar”. Muitos hesitam aqui! Pensam que seria uma promessa vã garantir que nunca mais se irá pecar. Mas precisamos entender que, apesar de não podermos garantir com convicção que nunca mais cometeremos um pecado venial, é possível, sim, quanto aos pecados mortais, dizermos a Deus com convicção: “Nunca mais vou pecar!”

Recordemos que o pecado mortal é aquele que rompe o nosso relacionamento com Deus. Vamos dar um exemplo que, confesso, é bastante doloroso e horrível, mas que nos ajudará a entender melhor essa firme resolução que devemos ter: imagine que, num momento de loucura, você ofenda gravemente a sua mãe, dando-lhe um tapa e cuspindo em seu rosto. Só que depois você cai em si: “Ai, meu Deus! Cometi um pecado gravíssimo!” De coração contrito, você então decide pedir perdão à sua mãe. Antes, porém, compra uma caixa de bombons e um buquê de rosas para ela e, quando finalmente a encontra, diz com todo afeto: “Ó mãezinha querida, perdão!” E ela responde: “Meu filho, eu perdoo! Mas você promete que nunca mais vai fazer isso com a mamãe?” Pois bem, você acha que seria razoável, neste momento, dizer para ela: “Ah, mãe… eu prometo que vou me esforçar”? 

Pare por um momento e pense: que tipo absurdo de promessa seria dizer “eu vou tentar nunca mais bater e cuspir no rosto da minha mãe”? Evidentemente, não seria razoável. Mas é exatamente isso que fazemos quando hesitamos em prometer nunca mais cometer um pecado mortal — algo ainda mais grave que o exemplo acima, pois é uma ofensa direcionada ao próprio Deus, de infinita dignidade; um rompimento que custa a nossa salvação eterna. 

Por isso, prometa, sim, nunca mais cometer um pecado mortal, ainda que custe o seu sangue: “antes morrer do que pecar”. E busque lutar também contra os pecados veniais, procurando “matar esses infelizes” um por um. É isso que todos nós precisamos fazer.

Tenha coragem! Busque ter a firmeza de dizer, com sinceridade: “Não quero mais! Chega!” Mas e se na semana seguinte você cair novamente? Então faça outra resolução, ainda mais firme, vá se confessar e repita: “Nunca mais!”, quantas vezes forem necessárias. Faça uma resolução cada vez mais confiante, pois Jesus quer lhe dar essa força de amar, através de comunhões bem feitas, pelas quais seremos tocados e moldados por Ele.

Então, meus queridos, é isso o que eu desejo que guardemos no coração nesta noite santa de Páscoa: Jesus, na Sexta-feira Santa, salvou a todos; agora, é preciso aplicarmos a salvação a cada um. O remédio está aqui: Jesus, pela Cruz, comprou o medicamento para todos; agora, temos de entrar na fila para recebê-lo.

O tempo da Ressurreição é o tempo em que vamos ouvir Jesus instituindo e celebrando os sacramentos através do Evangelho. Ao partir o pão para os discípulos de Emaús, vemos a Eucaristia; ao se apresentar aos Apóstolos e dizer “Recebei o Espírito Santo”: Crisma e Ordenação. Tantas coisas que estão ligadas ao Espírito Santo! “Aqueles a quem perdoardes os pecados eles lhe serão perdoados”: Confissão.

Então, é neste Tempo Pascal que Cristo vai confirmando os Apóstolos, para que comece esse tempo lindo da Igreja, o tempo do nosso caminho sacramental: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Confissão, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Estes são os sete sacramentos que brotam do costado de Cristo na Sexta-feira Santa e que, através do Espírito Santo, são aplicados a nós pela Santa Igreja.

Lembre-se: Confissão e Comunhão — é a mão chagada de Cristo que se ergue no confessionário e diz: “Eu te absolvo dos teus pecados”; é o Cristo sacerdote que diz: “Isto é o meu corpo. Isto é o meu Sangue”. É o tempo dos sacramentos, é o tempo da Igreja, é o tempo de sermos tocados pelo Ressuscitado.

Notas

  1. Esse cálculo dos “três dias” é feito da seguinte forma. Considerando que Jesus foi morto na tarde de sexta-feira, passou todo o dia de sábado no túmulo e, na noite de sábado para domingo, ressuscitou, o motivo de celebrarmos a Páscoa já na Vigília Pascal, na noite de sábado, se dá porque na contagem do calendário judaico o dia não começa à meia-noite, mas quando aparece a primeira estrela. Então, liturgicamente, na Vigília Pascal, já estamos celebrando o Domingo de Páscoa, pois já se trata do terceiro dia, no qual Jesus ressuscitou.

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