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Texto do episódio
07

O Evangelho deste domingo nos fala do sacrifício de nossa salvação. Está na frase que repetimos todos os domingos na Missa: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. O que quer dizer? Que Jesus é um cordeiro sacrificado a Deus para tirar o pecado do mundo. Sim, é isso o que quer dizer a frase, e é isso o que dizemos em cada Missa. 

Para entendê-lo bem, vejamos antes algo mais fundamental. Ao criar Adão e Eva, Deus quis que os seres humanos, pela inteligência, dominassem a terra e então, com plena liberdade, oferecessem tudo de volta a Ele. A essa ação de tomar posse para oferecer, em ato de culto e gratidão, que chamamos sacrifício.

Hoje, infelizmente, se perdeu a noção de que o homem tem uma inteligência que os animais não têm. Um cachorro, por exemplo, não é inteligente no sentido próprio da palavra. Para ele, um osso sempre será osso, um pedaço de pau sempre será pau. Não é capaz de aplicar a inteligência para transformar o pau em estaca ou em teto de casa, ou para construir bicicletas, depois motos, depois carros, depois aviões, até inventar uma nave espacial… 

O homem sim. Se alguém por acaso não vê a diferença, ante o abismo que há entre o homem e os outros animais, só podemos lamentar… Deus nos deu uma inteligência superior. Com ela somos capazes de compreender que uma injeção dolorosa, por exemplo, é no fim das contas uma coisa útil. Por isso temos a liberdade de tomar injeção apesar da dor que iremos sentir. Os animais não são livres para dizer: “Injeção dói, mas eu quero mesmo assim”. Só o homem vê a verdade, a bondade e a importância das coisas, de modo a ser capaz de abrir-se a uma decisão livre e voluntária: “Quero”, “Não quero”. Isso é ser humano, isso é ser livre.

Eis por que somos capazes de nos sacrificar por amor. Quem nunca se sacrificou por ninguém, nunca amou ninguém. Quem é pai ou mãe sabe perfeitamente o que significa sacrificar-se por amor. É importante sacrificar tempo para os filhos, investir dinheiro nos filhos, dar carinho aos filhos, suportar sofrimentos, dores etc. pela salvação dos filhos. Todo pai sabe disso, e o faz livremente.

Ora, o que fizeram os nossos primeiros pais? Pecaram. Eva se apropriou do fruto, ao invés de o sacrificar. Fez, no fundo, o que faz toda criança egoísta: “É meu, não dou! É meu!” É importante notar isso. Uma criança de quatro anos, por exemplo, ainda não é capaz de pecar, mas já é egoísta o bastante para fechar a mão: “É meu”, e escondê-la atrás das costas: “Não dou!” Eis o pecado original, a mordida da serpente aberta no nosso calcanhar. Todos somos desordenados, por isso temos medo de sacrificar.

Adão e Eva, antes do pecado, não tinham esse medo. Afinal, tinham sido criados justamente para isso. E — lembremos — o que é sacrificar? Sacrificar é ser dono para oferecer, é dominar para entregar, é ter para abrir mão. Ora, uma vez que o homem não é mais capaz de fazer isso, ou só o pode fazer de modo imperfeito e insuficiente, o que Deus fez? Veio em pessoa ao mundo oferecer-se em sacrifício. Jesus é senhor e rei do universo. Ele tudo domina, por isso tudo pode oferecer a Deus em sacrifício como sumo sacerdote.

A imagem de Cristo Rei, aliás, mostra-o vestido justamente de casula sacerdotal. Por quê? Porque Ele domina o universo. Ele tem o globo inteiro nas mãos, e o tem não só enquanto Deus, mas também enquanto homem.

A missão do gênero humano era dominar toda a terra, sujeitando-a em sacrifício e culto a Deus. O que sucedeu? Pelo pecado, de senhores nos tornamos escravos; em vez de dominar, somos dominados, arrastados como cachorros presos à coleira dos sentimentos. Uma hora nos leva a raiva, outra hora a tristeza, outra hora o tédio…

Precisamos de um Salvador. Por isso Deus se fez um homem, e este homem, Jesus Cristo, varão perfeitíssimo, dominava os próprios sentimentos. Quando o amor o levava a decidir que era necessário encolerizar-se, Ele se encolerizava, pegava do chicote e expulsava dos Templo os vendilhões. Quando o amor o levava a chorar, Ele realmente chorava por Jerusalém. Quando o amor o levava a se compadecer, Ele sentia compaixão: “São como ovelhas sem pastor”.

Mas para redimir a humanidade desordenada, o que Ele fez? Ele, senhor de todas as suas paixões e sentimentos, ao ver chegada a hora do sacrifício, deixou as paixões seguirem o seu caminho. É por isso que no Horto das Oliveiras vemos quase um “outro” Jesus. Sim, é o mesmo Jesus, perfeitamente dono de seus sentimentos, mas suando sangue em agonia.

Por quê? Porque lhe era necessário lutar a nossa luta, a luta em que fôramos derrotados, luta de angústia, de medo, de pavor: numa palavra, a luta entre a vida e a morte. Sim, a luta em que fomos derrotados, Jesus a lutou a partir do Horto das Oliveiras, antes mesmo de se oferecer em sacrifício: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Ele é o Cordeiro imolado, o homem plenamente sacrificado. Ele tudo domina, tudo entrega, a fim de tudo poder redimir.

E agora? O que fazer concretamente? Ter fé em Jesus, em primeiro lugar; além disso, ser batizado, estar em estado de graça e, se houver recaída no pecado, buscar a Confissão, para poder se unir ao sacrifício da Missa, renovação do sacrifício de Cristo no Calvário.

Até aqui entendemos o que quer dizer a palavra “sacrifício”. Sacrifício, de modo geral, parece algo doloroso. Não, sacrifício é antes de tudo um ato de amor. Sim, às vezes o sacrifício dói, às vezes não; às vezes é alegre, às vezes triste. Quantos pais se sacrificam alegremente pelos filhos sem sentir peso algum! 

O sacrifício perfeito, oferecido de forma dolorosa na Cruz, é renovado na Missa sem qualquer dor. Na Missa, Jesus não sofre. Se sofresse, não deveríamos celebrar Missa. Na verdade, seria um crime celebrar a Missa!

Jesus, porém, não sente mais dor. O pecado cometido hoje, Ele o viu e sofreu na carne há dois mil anos. Sim, os nossos pecados atuais torturaram o crucificado. Como? Deus não tem presente, passado ou futuro. Ele tudo vê como num único instante, imóvel e eterno. Na Cruz, Jesus sofreu e derramou o sangue por todos os pecados, pelos já cometidos, pelos que se estavam cometendo e pelos que ainda se haviam de cometer.

Há mais, porém. Na Cruz há uma realidade visível e outra invisível. A visível é o crime: Jesus, um inocente sendo morto e executado graças a um julgamento falso. Nesse sentido, a Cruz foi um crime; mas isso a Igreja não renova na Missa. Ora, se a Missa não é a renovação de um crime, ou, por assim dizer, da parte visível da Cruz, o que nela se renova? A parte invisível, o sacrifício de amor. Nas torturas que Jesus sofreu o que se vê é sangue e injustiça; mas no Coração dele tudo aquilo é convertido em amor salvífico.

O sacrifício da Missa se dá na consagração do pão e do vinho. O padre diz sobre o pão: “Isto é o meu Corpo, que é entregue”. Ora, corpo entregue é sacrifício. Quando Jesus entregou o Corpo? Na Cruz. O padre diz sobre o vinho: “Este é o cálice do meu Sangue, derramado por vós”. Ora, sangue derramado é sacrifício. Consagração do pão — corpo que é dado —, consagração do vinho — sangue que é derramado. De forma sacramental e invisível, renova-se o amor infinito de Jesus no Calvário. É o mesmo sacrifício, não outro, revivido porém sem o crime, sem a dor, sem a injustiça. Na Missa se imola a Deus o Cordeiro que tira o pecado do mundo, ou seja, o ato infinito de amor que nos livra de nossos pecados.

Quanto mistério por trás de uma frase, repetida às vezes sem pensar: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”! Cristo veio oferecer o sacrifício perfeito, e o entregou abraçando a todos nós, com os nossos pecados. Os nossos pecados foram a causa de seu padecimento e a razão de sua morte na Cruz. Mas esse crime — repita-se — não é renovado na Missa. O que se renova, na hora da consagração, é o amor sacrificial com que Ele se entregou por nós a Deus Pai, entrega essa materializada na separação sacramental de seu corpo e sangue sob as espécies de pão e vinho, respectivamente.

Sem Missa, não há renovação incruenta do sacrifício do Calvário. É ela o que aplaca a Deus, fazendo-o poupar o mundo dos grandes castigos que todos merecemos. Sim, a Missa está salvando o mundo, e se não houvesse mais Missas celebradas por verdadeiros sacerdotes católicos, o mundo pereceria.

Unamo-nos ao santo sacrifício. Domine a sua vida e a entregue a Deus. Entrega e sacrifício, essa é a nossa vocação, sempre com alegria, unidos ao Cordeiro de Deus no santo sacrifício do altar.

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