Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 43-48)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!
Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa?
E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.
No Evangelho de hoje, Jesus nos coloca diante de um Evangelho impossível. Não, não é impossível; mas, passionalmente falando, para os nossos afetos desordenados, parece um pedido impossível. Jesus pede para amar o inimigo, fazer o bem a quem nos odeia. Como assim? O Evangelho não é uma boa-nova? O Evangelho não é uma coisa boa? Como Jesus coloca um fardo desse tamanho nas nossas costas? “Poxa vida, ter de amar o inimigo… Mas se está difícil de amar minha mulher, meu marido, meus filhos, minha mãe, meu pai… Amar o inimigo ainda por cima? Já é difícil amar a mim mesmo!”
G. K. Chesterton, famoso jornalista inglês, tem uma frase que ficou famosa, na qual ele diz: “Jesus nos pede para amar o inimigo, não somente os amigos, também os inimigos, porque, geralmente, são as mesmas pessoas”. É que dependendo do momento do dia e do que você está vivendo, aquela pessoa que é um grande amigo pode parecer seu inimigo. Sabe por quê? Porque, pelo pecado original, pela mordida do pecado original, nós temos desordens dentro de nós, que nos fazem ver o outro como inimigo. Ou seja, se você não estiver disposto a amar o inimigo, no fundo você não vai amar ninguém. Você tem de enxergar isso porque, de vez em quando, até você mesmo se sente como seu inimigo, mas você tem de se amar por um mandamento divino!
Meus queridos, aqui está a sabedoria. Primeiro, uma sabedoria muito prática, que é colocada e revelada por Nosso Senhor. Você diz assim: “Tudo bem, entendi, devemos amar os inimigos, ou seja: porque, se eu não amo os inimigos, não vou amar nem os amigos, porque os amigos, por causa do pecado original, muitas vezes se apresentam como inimigos”. Por exemplo, Deus se apresenta como inimigo muitas vezes. Não que Ele seja inimigo, mas a gente o sente como um inimigo, como Adão, que ouviu os passos de Deus e se escondeu atrás do arbusto. “Então tudo bem, entendi, está bom. Mas isso não torna a tarefa menos difícil. Entendi por que Jesus pede; mesmo assim parece esmagador”... A não ser que você receba a graça, que vem através da fé. Pela fé, somos capazes de enxergar aquilo que nos diz São Paulo: “Quando nós éramos inimigos de Deus” (cf. Rm 5, 8-10), Ele morreu por mim, e morreu por mim não somente me perdoando a ofensa, mas me defendendo diante de Deus.
O Evangelho de Lucas diz que Jesus dizia repetidamente ao ser crucificado: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem” [Lc 23, 24]. Jesus ia fazendo aquela prece, aquele pedido como grande advogado nosso, como advogado de defesa. Jesus, ali condenado como réu por juízes iníquos, executado por carnífices como nós, nós que, com o nosso pecado, temos as mãos manchadas, tingidas com o Sangue do Cordeiro. Não temos em Jesus um “satã”, um acusador; mas, ao contrário, um paráclito, um advogado de defesa. Ele nos defende, Ele amou os inimigos. Ele disse: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”, e tendo sido amados assim, nós podemos amá-lo de volta.
Então, se você tem dificuldade de dar o passo de amar o inimigo, o que você deve fazer? Reze, reze muito e diga: “Jesus, não é por essa pessoa que eu não estou conseguindo amar, mas por Vós, que me amastes quando eu era inimigo, Jesus, eu perdôo e amo”. Dê esse passo por amor a Jesus. É um passo extraordinário que Ele nos concede, mas é necessário pedir, pedir muito e insistentemente. Assim, livres para amar os inimigos, nós encontraremos uma grande verdade que não conseguimos ainda perceber: na prática, nós não temos inimigos porque, se Deus é por nós, quem será contra nós? [cf. Rm 8, 31].
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