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A Luz do Ressuscitado dissipa nossas trevas

A noite do Sábado Santo é marcada pela Vigília Pascal, que, para ser bem entendida, deve ser vista como uma liturgia batismal. Nela, a Igreja celebra a Ressurreição de Jesus recordando quão necessária é também a nossa passagem da morte para a vida eterna.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 16, 1-7)

Quando passou o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus. E bem cedo, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo. E diziam entre si: “Quem rolará para nós a pedra da entrada do túmulo?” Era uma pedra muito grande. Mas, quando olharam, viram que a pedra já tinha sido retirada. Entraram, então, no túmulo e viram um jovem, sentado do lado direito, vestido de branco. E ficaram muito assustadas. Mas o jovem lhes disse: “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui. Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito”.

A noite do Sábado Santo é marcada pela Vigília Pascal, que, para ser bem entendida, deve ser vista como uma liturgia batismal. 

Algumas pessoas podem não perceber que a Vigília é uma liturgia batismal pelo fato de que, em algumas paróquias, nem sempre há Batismo quando ela acontece. Apesar disso, ela não deixa de ser uma liturgia batismal, já que a Igreja celebra a Ressurreição de Jesus recordando quão necessária é a nossa ressurreição espiritual, ou seja, a nossa passagem da morte para a vida eterna. Essa passagem é o sinal histórico de Deus, Salvador, agindo em nossas vidas. É justamente para isso que Cristo veio a este mundo. 

Os primeiros cristãos passavam a noite inteira do Sábado Santo numa grande vigília, de modo que, no dia seguinte, quando o Sol nascia, encontrava o Círio Pascal ainda aceso, representando assim que se iniciava uma nova história. 

Na manhã de Páscoa, ainda de madrugada, Maria Madalena e as outras mulheres foram até o túmulo de Cristo, levando incensos perfumados. No entanto, elas não tinham mais fé. Simbolicamente, isso é retratado na Vigília Pascal por meio do diácono, que proclama o Evangelho acompanhado somente de incenso, e sem velas. Os acólitos que levam o incenso vão, como as mulheres, para o sepulcro; e como elas até então não tinham fé na Ressurreição de Cristo, as velas acesas não são levadas para a proclamação do Evangelho. 

Logo no início da Vigília Pascal, temos a liturgia do fogo, que parece não fazer sentido para nós, que vivemos na era da energia elétrica. Porém, antigamente, toda casa tinha uma lareira, ou um lugar onde o fogo era mantido aceso para iluminar durante a noite; e os cristãos, quando iam para a Vigília de Páscoa, apagavam esse fogo. Embora ele fosse aceso com muita dificuldade a partir das faíscas de duas pedras, batidas uma na outra, nessa noite, os cristãos dissipavam as chamas de suas casas e iam no escuro para a Vigília. 

Cristo, a rocha firme, como nova faísca, acende o fogo santo, que simboliza a Luz da sua Ressurreição. Assim, a Vigília Pascal se inicia com a benção do fogo novo, que depois era levado pelos antigos cristãos para suas casas, para que acendessem suas lareiras a partir do fogo de Cristo. 

Nós, do século XXI, ao participar da Vigília Pascal, devemos ter em conta o fato de que entraremos na Igreja com velas acesas, representando o nosso Batismo. Nas igrejas em que haverá o rito batismal, os catecúmenos não entram com velas acesas, pois ainda estão nas trevas. Somente depois de serem batizados é que o celebrante entregará a eles a vela acesa, a vela batismal. 

Portanto, a vela que nós acendemos no Círio Pascal é uma expressão litúrgica da chama da graça. E isso deve nos levar ao seguinte questionamento: estamos indo para a Vigília Pascal em estado de graça, ou a vela do nosso coração está apagada? Se nós nos preparamos para a Páscoa com uma frutuosa e boa confissão, então saímos das trevas para a luz, da morte para a vida, e acontecerá de fato essa passagem, representada pela liturgia batismal.

Hoje, quando o padre ou o diácono disser: “Eis a luz de Cristo”, saibamos que ele verdadeiramente anuncia, como as mulheres na manhã de Páscoa, a Ressurreição. 

É interessante que, nessa fase da Missa, o celebrante e seus assistentes estão com paramentos roxos; mas o diácono que carrega o Círio Pascal está de dalmática branca, pois ele leva o anúncio da Ressurreição de Cristo. Então se canta, subindo o tom gradualmente, três vezes: “Lumen Christilumen Christi, lumen Christi”. É a referência à Santíssima Trindade, que ilumina os nossos corações. Portanto, a bênção do fogo novo, que inicia a liturgia do Sábado Santo, é o símbolo de algo muito real: a Luz de Cristo Ressuscitado nos ilumina. 

O diácono, depois, canta o “Exultet”, o Precônio Pascal. É a alegria pascal, que vai muito além da alegria de Cristo estar ressuscitado; é uma alegria que se estende concretamente a nós: porque estávamos mortos e voltamos à vida; estávamos condenados e, agora, nossos nomes estão escritos no Céu.

A morte que o pecado nos deu é muito mais grave, tremenda e cruel do que a do próprio Cristo na Cruz, porque Ele, ao padecer, não foi para o Inferno; já nós, se morrermos em pecado mortal, merecemos o Inferno, ou seja, a morte eterna. 

Cristo, então, se sacrifica para nos livrar desse terrível sofrimento. A morte dele na Cruz é, na verdade, um grande ato de amor e de vida, pois embora Ele esteja morrendo fisicamente, não há nada mais vivo do que Cristo, porque Ele é a Vida Eterna, o Amor Encarnado. Do peito aberto de Jesus brota a fonte batismal. Quando o padre abençoa a água batismal ou a água lustral para nos aspergir, o coro canta: “Vidi aquam egredientem de templo a latere dextro”, — “Eu vi água saindo do Templo do lado direito”. João, Apóstolo e Evangelista, é testemunha desse acontecimento, podendo dizer: “Vi a fonte da vida brotando daquele peito aberto; vi a nova vida dos cristãos”. Todos os Sábados Santos da história vivem da água que brotou do lado aberto de Cristo. 

A humanidade de Cristo morreu, mas não o seu por nós, que continuou vivo na sua alma santíssima. Dizemos, então, o aleluia pascal de júbilo, de alegria, de exultação pela vida que brota da morte: “Ó morte, onde está tua vitória? Ó morte, onde está teu aguilhão?” Não podemos achar que a Ressurreição de Jesus é apenas a “revivificação” de um morto. É muito mais: a nossa humanidade, pecadora, liberta-se da escravidão de Satanás e entra na vida gloriosa e eterna de Deus.

Quando nós temos nossos pecados lavados pelo Sangue de Cristo na Cruz; quando nós, batizados, temos a graça de Deus viva em nossos corações, os anjos exultam admirados, porque estão vendo um milagre maior do que a Criação: “Exsultet iam angelica turba caelorum”. Santo Agostinho dizia que o resgate de um pecador é maior do que o milagre da Criação, já que esta é tirar, do nada, o ser, e aquele é tirar, da criatura, o divino. Isso quer dizer que a pessoa merecedora do Inferno, condenada às trevas eternas, agora faz parte da vida de Deus. A Criação é uma passagem do nada para a natureza; a Redenção é a passagem da natureza decaída para o divino. 

A liturgia da noite de Páscoa, com toda a sua riqueza, quer que nós vivamos a alegria pascal de termos a vida divina em nós. Se não entendermos isso, perderemos o verdadeiro sentido da liturgia da noite de Páscoa.

Hoje também é dia de renovarmos as graças sacramentais recebidas em nossa vida cristã: o Batismo, que fez de nós filhos de Deus; a Crisma, onde nós fomos ungidos com o mesmo amor de Deus; e a divina e santíssima Eucaristia, pela qual nos unimos a Cristo. 

Quando a Igreja, na Idade Média, criou o preceito de comungarmos ao menos uma vez por ano, na Páscoa da Ressurreição, ela estava nos pedindo que fizéssemos o exercício de voltar à fonte pascal, de voltar àquela noite na qual todos nós nascemos. Mesmo que tenhamos sido batizados em uma outra data, em toda Páscoa é celebrado e renovado o nosso Batismo. Por isso, é muito importante que a renovação das promessas batismais e a renúncia a Satanás, ao pecado e às suas seduções não sejam apenas gestos litúrgicos formais; mas, sim, uma oportunidade de revivermos nossa identidade cristã.

Que alegria ser cristão! Como cantar dignamente essa misericórdia? Com que língua louvaremos isso, se nem a língua dos anjos é suficiente? Que tempo podemos empregar para louvar a Deus por tudo que Ele nos deu e concedeu na Páscoa? Escravos que éramos de Satanás e dos seus demônios, Cristo nos faz livres, conduzindo-nos à liberdade de poder amar a Deus e de se entregar a Ele. 

Como não possuímos nem esse coração nem essa língua, unimo-nos a Nossa Senhora, a São José, aos anjos e aos santos do Céu, porque a liturgia que se celebra aqui na terra é reflexo de uma outra liturgia, celebrada desde agora no Céu, nas núpcias do Cordeiro, em que a esposa, unida ao seu divino Esposo, canta o aleluia eterno: “Caiu, caiu a Babilônia” (Ap 18, 2). Aproxima-se a noiva; ela está preparada, vestida de linhos puros. Ela, usando a veste branca do Batismo, vem e não precisa mais de lâmpadas, porque o próprio Cristo é a sua Luz.

Que esta Páscoa seja abençoada e santa, e que nós, olhando para o Círio Pascal, possamos viver a luz de Cristo em nossos corações, que nos iluminará em direção à vida eterna.

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