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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 23, 27-32)

Naquele tempo, disse Jesus: “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão! Assim também vós: por fora, pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça.

Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós construís sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas’. Com isso, confessais que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Completai, pois, a medida de vossos pais!”

I. Reflexão

Com grande alegria celebramos hoje a memória de São Luís, rei de França. É importante refletir sobre esse santo monarca num tempo em que, miseravelmente, muitos dos que estão no poder afastam-se cada vez mais do Evangelho e da verdade de Cristo. Quem foi São Luís? Ele viveu na Idade Média, no século XIII, e ascendeu ao trono francês com doze anos de idade. São Luís foi criado desde pequeno pela mãe, a rainha Branca de Castela, como um católico piedoso e voltado para Deus. Ele rezava desde criança e tinha grande devoção à Eucaristia. Recebeu de fato a melhor educação católica. Acontece que o pai, Luís VIII, voltando de uma batalha contra os cátaros no sul da França, morreu com apenas quarenta anos; mas, antes de expirar, deu à rainha, mulher de grande virtude, a seguinte orientação: ela iria governar, e o filho deveria ser levado imediatamente a Reims, onde os reis da França eram ungidos, para que aos vinte anos pudesse tomar a coroa. Luís foi logo encaminhado para o casamento.

Cumpridos os vinte anos, ele finalmente assumiu o governo do reino francês. Casado, teve onze filhos, e é interessante notar como era grande a sua alma de católico. Quando ia confessar-se, não deixava que o sacerdote o tratasse de majestade porque, segundo o rei, no confessionário todos são filhos, o padre é que é o pai. Luís se ajoelhava e levava ele mesmo um flagelo para que, feita a confissão, o padre o açoitasse. Eis a fé desse homem que sabia, como monarca, de sua responsabilidade pela salvação das almas de seus súditos. Ele não era apenas pai de onze filhos, encarregado de os levar ao céu; tinha também consciência de seu dever, por um lado, de administrar a justiça para que no reino houvesse a paz, a harmonia e a tranquilidade necessárias para as almas poderem ser salvas e, por outro, de não dar espaço ao que pudesse destruir o tecido da sociedade. 

Na época, havia na França uma heresia terrível que punha em perigo todo o corpo social. Eram os cátaros, uma seita religiosa com consequências sociais tremendas. Os cátaros, com efeito, condenavam os juramentos, base sobre a qual estava cimentada toda a sociedade feudal. Ora, o que é um juramento? É uma aliança que os homens fazem uns com os outros em ordem ao bem comum. Se não pode haver juramentos, tampouco pode haver fidelidade a pactos e alianças, o que torna impossível a vida em sociedade. E o que vivemos hoje em nossa sociedade?... Se se inspirassem em São Luís, os políticos deveriam ser homens de Deus, preocupados em manter a paz e a ordem na sociedade, a fim de que todos tenham condições de alcançar o fim último de todas as coisas, que é a glória de Deus, em Cristo e por Cristo. Mas o que temos hoje é todo o contrário de um São Luís, sempre consciente de sua missão, como político, de prover as condições para a liberdade da Igreja Católica, para a pregação do Evangelho, para a administração do santos sacramentos; numa palavra, para o povo trilhar o caminho da salvação.

Há políticos hoje que querem o bem, não o comum, mas o próprio, e para isso não receiam passar por cima da salvação de milhões de almas, da ordem e estabilidade familiar, da inocência das crianças etc. São Luís, pelo contrário, soube ser pai também de seu povo. Os conselhos que deu antes de morrer ao filho, herdeiro do trono, são extraordinários até hoje. Certa vez, falando a um de seus amigos fiéis e conselheiros, perguntou: “Joinville, que preferes: contrair lepra ou cometer um pecado mortal?”, e o amigo respondeu: “Prefiro trinta pecados mortais a ficar leproso”. O rei, escandalizado, olhou para ele e disse: “És então um insensato porque não há lepra que seja tão terrível como um único pecado mortal”. Eis um rei santo e um santo rei! 

São Luís é verdadeiramente um modelo de político, de pai, de esposo, de homem, enfim, que soube santificar-se no mundo. A corte não o seduziu, o poder não o seduziu, a riqueza não o seduziu. Ele era seduzido por Cristo e seu Evangelho, a ponto de dar a vida pelo bem comum. Durante uma cruzada na África, quando ele finalmente caiu ferido, vendo que estava prestes a morrer, pediu a sagrada comunhão e que o pusessem no chão em cima de cinzas; com o braço em forma de cruz, quase sem poder falar, o rei sussurrou as últimas palavras: “Senhor, entrarei em vossa casa e vos adorarei em vosso santo tabernáculo”. São Luís morreu às três da tarde do dia 25 de agosto de 1270, mesma hora em que Jesus entregou o espírito na cruz. — Que São Luís interceda por nós, pelo nosso país e pelos nossos políticos, para que temam a Deus, queiram confessar-se como Ele, peçam perdão de seus pecados e tragam ao nosso país a paz e a ordem necessárias para a evangelização e a salvação das almas. 

II. Comentário exegético

Breve explicação do Evangelho. — V. 25-28 (cf. Lc 11,39ss.44). Com uma dupla imagem ou comparação condena Cristo a hipocrisia dos sinedritas: a) a de quem, antes de comer ou beber, limpasse o copo por fora, mas não por dentro; b) e a do sepulcro branqueado, mas cheio de podridão. Alude ao costume judaico de lançar cal sobre túmulos abertos, sobretudo antes das festas pascais, para que nenhum desavisado passasse por cima e se tornasse legalmente impuro (cf. Nm 19,16). Os fariseus, portanto, simulam ter virtudes que, na realidade, não possuem. Em Lc., por outro lado, se condena mais a dissimulação de vícios reais, i.e. os fariseus são semelhantes a sepulcros que não se deixam reconhecer como tais porque não são visíveis externamente (gr. τὰ μνημεῖα ἄδηλα = sepulcros escondidos, ou sem indicação).

V. 29-33. É a última das oito lamentações (cf. Mt 23,13-33; Lc 11, 39-48) contra os chefes do povo. Os escribas e fariseus erigiam e enfeitavam monumentos, sepulcros etc. para os profetas a quem haviam matado seus pais, mas afirmavam não ter nada que ver com tal crime. Eles mesmos, no entanto, se condenam por seu próprio testemunho, pois reconhecem ser filhos dos que mataram os profetas e, com suas ações, mostram ter a mesma índole de seus antepassados. Por isso o Senhor lhes diz: Completai pois a medida de vossos pais!, i.e. “Eles mataram os servos; matai pois o Senhor” (Haymo de Halberstadt, In Isaiam I: M 116,723D).

Há certa dificuldade em concordar os evangelhos de Mt. (cf. 23,31) e Lc. (cf. 11,48); este, com efeito, escreve: Vós servis assim de testemunhas das obras de vossos pais e as aprovais, porque em verdade eles os mataram, mas vós lhes edificais os sepulcros. É provável, diz Maldonado, que Cristo tenha dito as duas coisas, embora cada um dos evangelistas tenha registrado apenas uma parte do discurso. É evidente que o Senhor não quis dizer que os judeus construíam sepulcros em honra dos profetas em sinal de aprovação do crime de seus pais. O sentido mais provável destas palavras, segundo alguns intérpretes, parece ser esta: “Enquanto edificais sepulcros para os justos, por vossos atos e pela intenção que tendes de matar-me a mim e aos Apóstolos que enviarei, mostrais que sois imitadores de vossos pais; dir-se-ia que, se estes mataram os profetas, fostes vós que lhes abristes a sepultura”.

Comentário espiritual. — 1) A ciência de Cristo. Nosso Senhor, que por seu entendimento divino tudo conhecia, via também, por ciência infusa, os segredos dos corações, como diz o evangelista São João: Ele não necessitava que alguém lhe desse testemunho do homem, pois ele bem sabia o que havia no homem (Jo 2,25). Por isso, repreendia com justa dureza os escribas e fariseus, cuja hipocrisia, por oculta que fosse aos homens, estava sempre descoberta aos seus olhos: Væ vobis, scribæ et pharisaei hypocritæ! — 2) As duas caridades. Ao repreender os chefes do povo, Jesus dá exemplo dos dois amores que motivam e, em certos casos, até exigem, com prudência e discernimento, a correção fraterna em público: a) amor ao pecador, para que se converta e emende sua vida; b) amor aos circunstantes, para que não se escandalizem e aproveitem, aplicando-a si, a correção feita a outro.

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