Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 9, 14-15)
Naquele tempo, os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?”
Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”.
Estamos na primeira sexta-feira da Quaresma e o Evangelho nos fala sobre o jejum. Em primeiríssimo lugar, é importante recordar que fazer jejum não é necessariamente ficar sem comer absolutamente nada. Antes do atual Código de Direito Canônico, os católicos jejuavam durante os quarenta dias da Quaresma da seguinte forma: uma refeição principal até a saciedade (que, geralmente, era o almoço) e duas pequenas refeições pela metade (a do café da manhã, um pouco mais fraquinha; e a do jantar, um pouquinho maior que a do início do dia mas não até a saciedade). Durante quarenta dias, vivia-se esse jejum, tendo dias de abstinência e outros dias em que se podia comer carne. Esse era o regime disciplinar anterior ao Código de 1983.
Hoje, as coisas estão mais atenuadas. O jejum obrigatório é feito apenas na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, mas nada nos impede de generosamente fazer jejum em outros dias, como por exemplo nas sextas-feiras da Quaresma.
Durante todo o ano a sexta-feira é dia de abstinência de carne — isto vale para o ano inteiro, não somente para a Quaresma. A abstinência de carne, de acordo com o conceito canônico, significa não comer qualquer alimento que seja a carne de um animal, exceto peixe e frutos do mar. Portanto, é importante entender que, nas sextas-feiras do ano inteiro, já se tem o dever da abstinência de carne.
Como a sexta-feira da Quaresma é um dia de especial penitência, nas palavras do próprio Código de Direito Canônico de 1983 afirma isso, somos convidados a acrescentar alguma coisa a mais à abstinência do ano inteiro. Por isso, as sextas-feiras da Quaresma são realmente propícias para o jejum — não por obrigação (pois a lei da Igreja não o exige), mas como um ato de generosidade para com Deus.
Aceitemos esse convite à generosidade e jejuemos juntos nas sextas-feiras da Quaresma. Alguém que talvez esteja relutante pode perguntar: “Mas, padre, pra que fazer esse jejum?” Em primeiríssimo lugar, em honra ao jejum de Nosso Senhor Jesus Cristo, que deixou de comer durante 40 dias por amor a nós. Ele, fazendo jejum, venceu a fraqueza que temos de ficar cedendo aos nossos instintos carnais.
Assim, a graça de Deus vem em nosso auxílio para que ordenemos nossa vida, deixando-nos governar pelo Espírito Santo. Ele submete amorosamente a alma, que, por sua vez, submete amorosamente o corpo. Essa é a ordem que deve existir em nós. Já a desordem do pecado faz o contrário: o corpo, tiranicamente, espanca a alma, que termina expulsando de nossas vidas o Espírito Santo e a presença de Deus. Portanto, o jejum é uma forma sadia de submetermos o nosso corpo amorosamente ao domínio da alma, que deve se deixar dominar pela graça e pelo poder do Espírito de amor.
O que achou desse conteúdo?