Isaías é considerado o grande profeta do Advento: ele prediz a vinda de Cristo (bem como a sua Paixão; Morte) de forma tão contundente que o seu livro foi chamado de “quinto Evangelho”. No final do Advento ouviremos a sua profecia mais direta: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (7, 14). No 2.º Domingo do Advento, porém, Isaías nos apresenta uma descrição vibrante da era messiânica, que se assemelha a uma ode pastoral: “O lobo e o cordeiro viverão juntos e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito” (11, 6).
Aqui, a natureza inteira permanece em harmonia e paz, o que nos faz recordar o Éden, livre de violência e morte. Essa visão de esperança, vinda do profeta da esperança, permite-nos vislumbrar a restauração deste mundo decaído.
Mas Isaías não é o único profeta que encontramos nestes dias. Também nos deparamos com São João Batista, o último e o maior da longa linhagem de profetas. Foi ele quem Isaías previu como “a voz daquele que grita no deserto”. A mensagem de João, porém, parece bem diferente: “Convertei-vos” (Mt 3, 2).

João sabia que a humanidade havia deixado o Éden há muito tempo. Aquela harmonia original fora destruída quando os nossos primeiros pais pecaram contra Deus, e todos nós seguimos o mesmo caminho ao longo dos tempos. Por isso ele batizava no rio Jordão. Embora seu batismo não fosse um sacramento — já que não podia apagar os pecados —, era uma forma de manifestar arrependimento pelos pecados, pois a purificação simbolizava o renascimento que o Batismo traria. Cada pessoa recém-batizada, independentemente da idade, emerge das águas como um recém-nascido, recuperando a inocência perdida.
Essa é certamente uma das razões pelas quais o Deus onipotente, criador do universo, veio à terra como um bebê: para nos lembrar da necessidade de sermos como crianças, de imitarmos a humildade e a confiança que as caracterizam. Como nos diz Isaías, “até mesmo uma criança poderá tangê-los” [isto é, o lobo, o leopardo e o leão] (11, 6). Jesus quer nos guiar rumo a essa inocência e alegria, mas sabemos que nem todos estão dispostos a segui-lo.
Certamente nem todos estavam dispostos a seguir o Batista. Eis os fariseus e saduceus, por exemplo, tão orgulhosos, tão presunçosos, tão consumidos por sua própria hipocrisia. João os repreende sem rodeios: “Raça de cobras venenosas” (Mt 3, 7). O próprio Jesus usará a mesma linguagem mais tarde, ambos alertando sobre o que aguarda aqueles que persistem em seus pecados.
Eles tiveram de usar uma linguagem muito forte: os fariseus e saduceus, cegos pela arrogância, achavam que não precisavam do chamado de João ao arrependimento. Por serem filhos de Abraão, todos pensavam que já tinham alcançado tudo. Vemos essa mesma mentalidade entre alguns irmãos na fé hoje: porque sou batizado, ou me considero uma boa pessoa, ou porque aceitei Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador, é claro que irei para o Céu.

O Batista ergue a mão e diz em voz alta: Não tão depressa. Só pode obter o favor de Deus quem reconhece o seu pecado, a sua constante necessidade de misericórdia e a sua própria inferioridade. O que é mais inferior do que as pedras? No entanto, João nos diz que Deus até mesmo delas pode fazer filhos de Abraão (cf. Mt 3, 9).
Isaías fala dessa humildade usando a imagem da raiz enterrada no solo: o pequeno tronco de Jessé (cf. 11, 10). Por meio de Davi, filho de Jessé, viria o Salvador prometido, assim como aquela raiz brotou para se tornar a madeira da Cruz. É o sangue aspergido a partir daquela Cruz que nos torna verdadeiros filhos de Abraão, admitidos por adoção na linhagem dos que se salvam.
E, como filhos e filhas recém-adotados, temos uma mãe a quem recorrer. Maria é o modelo perfeito de confiança e humildade. Quando celebramos a sua Imaculada Conceição, recordamos como ela permaneceu, ao longo de sua vida, inteiramente livre do pecado. Essa pureza de corpo e de mente permitiu-lhe ser o vaso honorífico de Deus, a alma imaculada que o engrandece [Magnificat anima mea Dominum].
Não é por acaso que, em suas muitas aparições, Maria aparece com tanta frequência às crianças. A docilidade, a abertura e a ausência de vaidade nelas permitem que a mensagem de Maria, que é sempre a mensagem de Cristo, seja recebida e anunciada sem obstáculos.
O próprio Deus veio a Maria como uma criança pequena e, por meio dela, Ele vem a nós, no Natal e sempre. A questão é: vamos recebê-lo com a mesma humildade de Maria?

Isaías e João apresentam um grande contraste na escolha que temos diante de nós. Podemos aceitá-lo e receber a alegria de sua paz, a bela harmonia descrita por Isaías. Para quem o rejeita, recusando humilhar-se, João não mede palavras: “a palha ele a queimará num fogo que não se apaga” (Mt 3, 12).
São dois caminhos, que conduzem a dois lugares bem diferentes. Não os percorremos sozinhos, no entanto, pois Deus sabe que nós, suas ovelhas, facilmente nos desviamos. Por isso ele enviou seu Filho para guiar-nos. Se o seguirmos, Ele não nos levará de volta ao jardim arruinado do Éden, mas sim adiante, para o jardim eterno do Paraíso.

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