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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 16, 29-33)

Naquele tempo, os discípulos disseram a Jesus: “Eis, agora falas claramente e não usas mais figuras. Agora sabemos que conheces tudo e que não precisas que alguém te interrogue. Por isto cremos que vieste da parte de Deus”. Jesus respondeu: “Credes agora? Eis que vem a hora – e já chegou – em que vos dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis só. Mas eu não estou só; o Pai está comigo. Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo, tereis tribulações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo!”

Continuamos nossa novena de Pentecostes pedindo a Deus que nos envie o Espírito Santo, unidos durante esses dias a Maria, Mãe de Jesus, e aos Apóstolos no Cenáculo. Deus, quando criou o ser humano, pondo os nossos primeiros pais, Adão e Eva, no jardim paradisíaco, quis fazer do próprio coração humano um jardim de delícias. No coração de Adão e Eva, com a graça do Espírito Santo, Deus encontrava o jardim de suas delícias, pelo qual podia passear à vontade. Sucede que, com o pecado original, os nossos primeiros pais expulsaram de si o Espírito Santo. A Escritura nos diz no capítulo 3 do Livro do Gênesis que Adão e Eva foram expulsos do paraíso. Sim, mas, se olharmos a essência das coisas, foi o Espírito Santo, que até então habitava no coração de Adão e Eva como amigo, quem foi expulso do seu jardim interior. Ao pecarem, Adão e Eva perderam o impulso do amor, da caridade. Eis a grande miséria. Lemos nas SS. Escrituras que Adão e Eva foram expulsos do paraíso para viver numa terra árida, repleta de espinhos, trabalhos, suores, dores. São sinais claros para indicar a miséria que é a vida do homem longe de Deus e de seu amor. O mundo tornou-se um lugar de trabalhos, cansaços, dores e angústias. Mas Deus, olhando para o estado miserável em que se encontravam os primeiros pais, compadeceu-se deles, e o Espírito Santo começou a preparar sua volta ao nosso coração. Foi assim que, no meio de povos pagãos, que adoravam ídolos e demônios, Deus enviou o seu Espírito como um raio de luz a Abraão, nosso pai na fé. É com esse título que a Igreja costuma celebrar Abraão, e é por isso que a ladainha do Espírito Santo chama à terceira pessoa da Trindade illuminatio Patriarcharum, isto é, a luz dos Patriarcas. Sim, quando surge a fé num coração, já existe ali uma ação do Espírito Santo. Abraão, que morava em Ur, na Caldéia, em meio a ídolos e deuses falsos, recebeu uma iluminação interior. Era o Espírito Santo chamando-o a abandonar aquela terra e seus deuses falsos: “Sai da tua terra e vem para a terra que eu te mostrar” (Gn 12, 1), para um novo lugar preparado para ti. O Espírito Santo o inquieta, e Abraão deixa tudo para ir em busca do Deus verdadeiro. É muito importante entender que, por causa dos nossos pecados e da nossa desordem interior, terminamos muitas vezes apegando-nos às criaturas e pondo-as no lugar de Deus, criaturas que Ele mesmo nos deu para ser sinais do seu amor por nós. Eis a nossa horrível condição! É como a de uma moça que recebe do namorado um anel de noivado. É um anel precioso, engastado de jóias brilhantes. Ela fica fascinada com o presente; mas, insensata, ao invés de olhar para o anel e ver nele o amor de seu noivo, ela se esquece do noivo para se apaixonar pelo anel. O noivo telefona, quer falar com ela, mas a moça se esquiva: “Mãe, diz para ele que eu não estou!”, e fica trancada no quarto, extasiada com o brilho das jóias. O noivo vai até a casa e bate à porta, mas a moça não a abre nem atende aos chamados dele, porque está fascinada com o anel. Essa é a nossa situação, é isso que acontece conosco quando pecamos. Nossos primeiros pais, Adão e Eva, que eram “noivos” de Deus e viviam unidos a Ele pela graça do Espírito Santo, abusaram do dom da criação e voltaram as costas para aquele mesmo que lhas dera de presente. Qual foi a consequência do pecado original? Não foram somente dores, desolação, trabalhos e miséria, foi também o assassinato de Abel! Não é chamativo que as Escrituras revelem que a primeira morte humana não foi natural? A primeira pessoa humana que morreu na história foi morta num assassinato fratricida! Foi morto como que prenunciando a morte de Cristo, morto também Ele, inocente, por seus irmãos! Essa é a miséria do pecado. Ora, Deus quer que nos desapeguemos: “Noiva insensata, desapega-te do anel e lembra-te do noivo”! Abraão, sai da tua terra e vai para aquele que eu mostrarei! Abraão, crê em Deus, crê na promessa, crê a tal ponto que estejas disposto a imolar Isaac, o filho da promessa! É isso que faz o Espírito Santo. O Espírito Santo nos torna outra vez apaixonados por Deus, tudo deixando e tudo esquecendo por amor a Ele. Mesmo os dons mais preciosos de Deus só têm utilidade se servem para manifestar com que amor Deus nos amou. Sim, Deus nos amou: se, portanto, as criaturas nos têm servido de lembrete do amor de Deus, então elas estão sendo bem utilizadas; se, no entanto, elas têm tomado o lugar de Deus em nossos corações, então é preciso fugir delas! O que era dom de Deus transformou-se em ídolo. O Espírito Santo, que iluminou Abraão, nosso pai na fé, quer nos iluminar também a nós, para que nos desapeguemos de tudo o que temos posto no lugar de Deus. São presentes, dons de Deus, dos quais abusamos, esquecendo-nos daquilo para que realmente servem. Que o Espírito Santo, nessa novena de Pentecostes, nos ajude a nos desapegarmos do que nos está impedindo de voar livremente. Um passarinho amarrado por mil fios pode cortar todos e deixar um, e este, só, já é suficiente para o impedir de voar. O Espírito Santo quer que sejamos livres para voar. Peçamos a graça de nos desapegarmos de todo afeto desordenado às criaturas. Nada nos deve levar ao esquecimento de Deus. O Espírito Santo, luz dos Patriarcas, é para nós memória de Deus, memória de Deus em todas as coisas criadas, feitas para a honra e a glória de Nosso Senhor!

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