Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 2,1-12)
Alguns dias depois, Jesus entrou de novo em Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a Palavra. Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Ora, alguns mestres da Lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações: “Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus”. Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: “Por que pensais assim em vossos corações? O que é mais fácil: dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega a tua cama e anda’? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados, - disse ele ao paralítico: - eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa! O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvavam a Deus, dizendo: “Nunca vimos uma coisa assim”.
Celebramos hoje a Memória de Santo Antão, Abade — é importante lembrarmos aos brasileiros e às pessoas de língua portuguesa que o nome Antão é simplesmente a forma arcaica de dizer Antônio. Logo, estamos falando de Santo Antônio do Deserto, um monge dos primeiros séculos que não devemos confundir com Santo Antônio de Lisboa, frade medieval.
Santo Antão viveu na mesma época em que a Igreja estava deixando de ser perseguida, aproximadamente na virada do século III para o IV. Era um grande eremita do deserto do Egito. A biografia de Santo Antão escrita por Santo Atanásio conta que um dia ele entrou na igreja enquanto o diácono lia a seguinte passagem: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu; depois vem e segue-me” (Mt 19, 21), e Antão, por iluminação divina, considerou que aquela Palavra era, literalmente, para ele. Então vendeu os seus bens e foi viver no deserto, fazendo penitência e dedicando-se à oração.
Essa entrega total de Santo Antão pode parecer a algumas pessoas absurda e inútil, uma vez que, havendo tantas coisas para fazer no mundo, como ajudar os pobres e pregar o Evangelho, ele aparentemente não “arregaçava as mangas”. Como um eremita recluso e retirado no deserto cuidaria da própria santidade? Não era um grande egoísmo por parte dele?
Para bem compreender o sacrifício desse santo, primeiro é importante notar que na Santa Igreja Católica nunca fazemos nada sozinhos: existe o mistério da comunhão dos santos. Quando um membro da Igreja se aperfeiçoa, os outros saem ganhando. Santo Antão não foi para o deserto para aperfeiçoar a si mesmo como um monge budista no Tibete. Quando um católico se dedica à vida monástica, o que o leva a isso é um grande amor por Jesus.
É exatamente isso o que Jesus pediu ao jovem rico na passagem do Evangelho ouvida por Santo Antão: “Vai, vende tudo e segue-me”. Cristo nos pede um amor incondicional: devemos amá-lo de todo coração, com toda a nossa alma, com todo o nosso ser. Essa é a vocação de todos. Entretanto, Santo Antão sentiu, por inspiração divina, que aquela era a forma com que ele iria manifestar o seu amor por Jesus como seu Senhor, Deus e Salvador.
Além de ser movido por um grande amor a Cristo, o monge também possui grande amor ao próximo, porque se dedica à oração e à penitência não somente por sua própria santificação, mas pela santificação da Igreja inteira, principalmente dos pecadores. Os santos têm na vida um período em que trabalham na própria purificação; mas, chegados a certo ponto, já não têm o que purificar, então começam, de forma vicária, a se purificar por nós, pagando em seus corpos e em suas vidas as penas e misérias que nós deveríamos pagar, e carregando as cruzes que nós deveríamos carregar. Esse é o amor universal dos santos.
Santo Antão passou sua vida no deserto do Egito, mas as consequências de seus nobres atos persistem ainda hoje em nós graças à sua entrega, ao seu sacrifício, ao seu amor. Quem de nós pode avaliar as consequências espirituais devidas a tantos santos e santas que se entregaram escondidos? No Céu, ficaremos enormemente surpresos ao ver revelados diante de nossos olhos os frutos espirituais que colhemos graças a homens e mulheres desconhecidos que, nos desertos da vida monástica, entregaram-se por nós e fizeram-nos bem sem que o soubéssemos.
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