Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
Mateus (Mt 13, 24-43)
O Evangelho escrito por São Mateus é dividido em cinco grandes sermões: o primeiro é o “sermão da montanha” (5-7); o segundo, o chamado “sermão da missão” (10), é o em que Ele envia os apóstolos para evangelizar; o terceiro é o “sermão das parábolas” (13); o quarto, o “sermão eclesiástico” (18); e o quinto, o “sermão escatológico”, é o em que ele fala das últimas realidades. Com esses discursos, Jesus é apresentado como o “novo Moisés”, ou melhor, como realização daquilo de que Moisés era somente a promessa. É sabido que “o Senhor falava com Moisés face a face, como alguém que fala com seu amigo” [1]. Isso, no entanto, era uma pequena amostra do que seria, na plenitude dos tempos, a encarnação do Verbo. De fato, “ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer” [2].
Ao falar em parábolas, como faz no capítulo 13 de São Mateus, Nosso Senhor lança mão de um recurso pedagógico que, ao mesmo tempo em que revela, deixa algo escondido. É um pouco do que experimentamos quando nos apresentamos diante de Deus: ao mesmo tempo em que Ele é extremamente simples, é-nos profundamente misterioso.
A parábola com que Jesus encerra o Evangelho deste Domingo é a famosa passagem do joio e do trigo. Interessa-nos, sobretudo, a sua explicação:
“Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifeiros são os anjos. Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará seus anjos, e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.”
Ao dizer que se deve deixar crescerem juntos o joio e o trigo, até a colheita, Jesus aponta para a onisciência divina, que já sabe quem se vai salvar e quem será condenado. Se, no entanto, isso é claro aos olhos de Deus, permanece uma incógnita para nós: assim como o joio e o trigo são plantinhas pequenas e muito semelhantes, neste mundo, é tarefa árdua distinguir os bons dos maus, sendo necessário, para isso, esperar o “tempo da colheita”, que “é o fim dos tempos”.
Por isso, a grande protagonista dessa parábola é a paciência de Deus. Em Sua misericórdia, o Senhor contraria a pressa dos homens – como a dos filhos de Zebedeu, que perguntaram a Jesus se não queria que mandassem “fogo do céu” para destruir os ímpios [3] – e deixa que o joio e o trigo cresçam juntos. Como diz São Paulo, “Ele quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” [4].
Também São Pedro recorda que a paciência divina é, para todos nós, fonte de salvação: “O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se” [5]. As demoras de Deus são sinais da Sua benevolência, da grandeza do Seu coração, que “não deseja que ninguém se perca”. A virtude da paciência consiste nisto: em carregar um fardo, um peso sobre as costas. Não foi justamente o que fez Nosso Senhor, ao carregar o fardo de nossos pecados e o peso da Santa Cruz? Não foi justamente a atitude do pai da parábola do filho pródigo, que esperou pacientemente a volta de seu filho mais novo, chegando a fazer uma grande festa com sua chegada?
Muitas vezes, comportamo-nos, diante dos maus, como aquele filho mais velho, enciumado com o amor do pai por seu irmão rebelde. Diante das injustiças, somos tomados pelo espírito de Tiago e João e queremos invocar a justiça divina... Mas, estamos realmente seguros de estar do lado do trigo? Se Nosso Senhor voltasse hoje para a colheita, não seríamos os primeiros a ser lançados no inferno, nós, “a quem muito foi dado” e, portanto, muito será exigido [6]?
A parábola do joio e do trigo é, na verdade, um resumo de toda a história da salvação. O Senhor desposa o Seu povo com uma aliança de amor, à qual é integralmente fiel; em troca, no entanto, só recebe infidelidades e prostituição. E, ao invés de assinar o libelo de divórcio, Ele é paciente e continua a amar-nos, mesmo em nosso egoísmo e amor-próprio desordenado. É que, como canta o Apóstolo, “o amor é paciente, é benfazejo; (...) não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido (...). Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” [7].
Santa Faustina Kowalska escreve:
“Quando uma vez perguntei a Jesus como pode suportar tantos delitos e diversos crimes e não os castigar, respondeu-me o Senhor: – Para os punir, tenho a eternidade, por agora prolongo-lhes o tempo da Misericórdia (...).” [8]
Vivamos sob a luz dessa caridade, dessa misericórdia infinita de Deus. E, quando formos tentados a perder a paciência com os outros, lembremo-nos de somos objeto da paciência divina.
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