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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Celebrar no mês vocacional o Sagrado Coração de Jesus, recordado na primeira sexta-feira de cada mês, é celebrar a nossa vocação primária, pela qual somos chamados a ter um coração configurado ao de Cristo.

Durante o discernimento vocacional, muitas pessoas sentem dúvidas quanto ao estado de vida que irão assumir: se o sacerdócio, se a vida religiosa, se o matrimônio ou a vida de leigo celibatário… No entanto, a maioria das pessoas não percebe que a sua vocação primária é unir-se a Jesus, e que a escolha entre o sacerdócio, a vida religiosa ou o matrimônio não é mais do que decidir em que circunstâncias se viverá essa união, necessária a todo fiel. Todo o mundo precisa dar-se conta de que não nasceu para si. Ninguém se pertence, porque todos nascemos para Jesus, para Aquele que nasceu e viveu por nós, a fim de termos nEle vida, e vida em abundância.

O Papa Pio XII, na Encíclica “Mystici Corporis”, afirma que, desde o seu primeiro instante no ventre de Maria SS., Nosso Senhor conhecia a cada um de nós, membros de seu Corpo místico:

Esse amorosíssimo conhecimento que o divino Redentor de nós teve desde o primeiro instante da sua encarnação, excede tudo quanto a razão humana pode alcançar; pois que ele pela visão beatífica de que gozou apenas concebido no seio da Mãe Santíssima, tem continuamente presente todos os membros do seu corpo místico e a todos abraça com amor salvífico (n. 75).

Como diz o profeta Isaías, acaso “pode uma mãe esquecer-se do filho do seu ventre? Não ter ternura pelo filho de suas entranhas? Ainda que existisse tal mulher, eu não me esquecerei de ti” (Is 49, 15). É o que vemos cumprir-se em Nosso Senhor, que não passou nem passará um só instante sem ter-nos presentes ao seu amoroso olhar.

O Verbo encarnou-se neste mundo por nós, homens: propter nos homines et propter nostram salutem, como professamos no Credo. Ele se fez homem em nosso favor e para a nossa salvação, unindo-se a nós de uma maneira nunca antes imaginada. Na Última Ceia, Ele mesmo revelou que a sua mais ardente vontade era unir-se a nós no banquete eucarístico, isto é, no seu sacrifício redentor, em cujos frutos tomamos parte, de modo particular, na comunhão eucarística: “Com grande desejo desejei celebrar esta Páscoa convosco” (Lc 22, 15): Magno desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum. Nosso Senhor quer com extremos de desejo estar unido a nós. Poderíamos até dizer, talvez forçando um pouco as palavras, que é essa a sua “vocação”, revelada em seu próprio Nome: Yeshua, “Deus conosco”.

Limitados porém pela nossa natureza e pelas fraquezas da inteligência, pensamos que a nossa “vocação” é ser padre ou religioso ou pai ou… Afligimo-nos entre tantas alternativas porque esquecemos que todas têm, em verdade, o mesmo objetivo, a união com Cristo Jesus, variando apenas os meios e as circunstâncias. Os distintos gêneros de vida em que se há de realizar essa união, repita-se, são apenas meios, diferentes paisagens pelas quais se passa até alcançar o mesmo destino.

Nenhuma dificuldade, nenhum entrave, nada deve ser um obstáculo para chegarmos lá. Antes, pelo contrário, sucede muitas vezes de serem as dificuldades, os “torneios” que nos dá a vida, humilhando nossos desejos, fazendo pouco caso de nossas preferências, a forma escolhida por Deus para nos conduzir a essa união de amor com o seu Filho unigênito. Vêm-nos espontâneas aquelas palavras de S. Paulo:  “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?” (Rm 8, 35). E conclui: “Estou convencido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8, 38–39).

Imploremos a Deus Todo-poderoso, que nos destinou a cada um de nós para nos conformarmos à imagem de Cristo, a graça dessa convicção profunda: nada, se formos fiéis às moções do Espírito, nos poderá separar do amor de Cristo. No ocaso da vida, tudo nos será tirado, família, riquezas e até a pouca memória que houvermos semeado no mundo, salvo o amor de Cristo, a quem permaneceremos unidos eternamente. Abramo-nos à graça divina e permitamos que o nosso coração, endurecido pelo egoísmo, seja configurado cada dia mais ao Sacratíssimo Coração de Jesus.

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