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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Celebramos hoje a Memória do glorioso São Sebastião, um grande mártir. Ressaltamos, nesta celebração, a figura deste santo leigo que testemunhou a Cristo com uma admirável prudência, mas também com grande valentia e fortaleza.

Primeiro, vamos nos aprofundar na narrativa da vida de São Sebastião. Ele nasceu em Narbona, no sul da França (na época, a província romana da Gália), no ano 255. A palavra “Sebastião” (em latim, “Sebastianus”) vem de “Sebastos”, que quer dizer “alguém que é venerável”. Era um título dado ao imperador, mas a palavra popularizou-se em um outro formato, “Sebastianus”, tornando-se um nome bastante comum. Ainda muito cedo, ele ficou órfão de pai, e sua mãe então se transferiu com ele para Milão, no norte da Itália.

Conta-nos a tradição que, sabendo da perseguição aos cristãos em Roma, perpetrada naquela época principalmente pelo imperador Diocleciano, Sebastião decidiu ir até a capital do Império para servir de apoio aos cristãos, para que estes não fraquejassem na fé. O rapaz, que havia decidido seguir a carreira militar, avançou na hierarquia com um sucesso fulminante. Chegou até a Guarda Pretoriana, o corpo de soldados de elite responsável por garantir a proteção do próprio imperador romano e de sua família. Na cidade de Roma, havia uma fronteira “sagrada” dentro da qual era proibido portar armas, o Pomério, e a única exceção era aberta aos pretorianos.

Desse modo, os pretorianos eram dotados de tamanha confiança que tinham acesso ao local mais seguro da cidade de Roma, uma colina chamada Palatino, onde morava o imperador (é do Palatino que vem a origem da palavra “palácio”). Estamos, portanto, contextualizando a vida de São Sebastião, um jovem soldado de elite de 32 anos, que fazia parte dos homens de confiança do imperador de Roma. Havia uma coisa, porém, que o imperador não sabia a respeito de Sebastião: o fato de que ele era cristão.

Precisamos entender o seguinte: os cristãos não são e nunca foram “suicidas”. São Sebastião era cristão e havia ido para Roma exatamente para, na condição de militar, dar apoio e suporte aos seus irmãos. Sebastião evangelizava e ajudava como podia os cristãos, mas não “cometeu suicídio”. Ele não foi até o imperador para dizer: “Olá, imperador! Eu sou cristão. Pode me matar”. Houve o momento em que ele precisou testemunhar abertamente a sua fé diante do governante, mas isso não foi necessário no início, e assim podemos aprender sobre a virtude da prudência com esse grande santo.

O que São Sebastião fazia? Ele ia até os cristãos e os apoiava. Certa vez, por exemplo, havia dois irmãos gêmeos na prisão do Palotino porque, por serem cristãos, se recusaram a sacrificar aos deuses romanos. Sebastião soube que eles estavam vacilando na fé: seus pais os visitavam na prisão e tentavam convencê-los a renunciar à fé em Cristo para que não fossem mortos. Quando os gêmeos estavam para apostatar, o pretoriano cristão, que tinha acesso à prisão, foi até lá e pregou para fortalecer a fé dos prisioneiros. Estavam lá, como testemunhas, o carcereiro e uma mulher que era muda e prestava serviço no local. Esta mulher tinha vontade de se tornar cristã, mas ainda não possuía coragem para dar o passo da conversão.

Os relatos nos dizem que, ao pregar o Evangelho, o rosto de Sebastião começou a brilhar com a luz divina. Diante daquele prodígio, todos ficaram espantados e admirados. Os irmãos que eram prisioneiros recuperaram todo o ardor de sua fé, a mulher muda ficou curada e o próprio carcereiro também se converteu; e os quatro depois morreram como mártires, dando testemunho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pode ser que alguém, não compreendendo o que aconteceu nessa cena, diga: “Mas que hipocrisia a de Sebastião! Incentivou os outros a morrer, mas ele mesmo ficou escondido!” Vamos entender: não é hipocrisia. Aqueles gêmeos já estavam presos por não renegarem a fé cristã, já estavam numa situação sem saída. A vida faz isso conosco em certas situações. Enquanto conseguimos manter a nossa vida servindo e testemunhando a Cristo, devemos continuar assim; mas pode chegar uma certa hora em que podemos nos ver diante de uma encruzilhada: uma situação em que testemunhamos a Cristo ou nos tornamos apóstatas, traidores. Este momento tinha chegado para os gêmeos, mas ainda não para Sebastião, que foi lá secretamente e, com a graça de Deus que operava em seu coração, foi instrumento da Providência para corroborar a fé de seus irmãos. E então eles morreram gloriosamente, como mártires.

Diante da grande perseguição de Diocleciano, que foi a maior de todo o período do Império Romano, muitos cristãos estavam vacilando e caindo. Na hora em que mais precisavam testemunhar a sua fé, muitos acabavam recuando. São Sebastião então decidiu ir até Roma com essa intenção: encorajar os mártires e depois, secretamente, sepultá-los e venerá-los. E foi assim que Deus permitiu que acontecesse, até a chegada do tempo propício: Sebastião foi denunciado por alguém da Guarda Pretoriana. O imperador então o chamou e não quis acreditar: “Não é possível que um servo tão leal e dedicado seja um cristão! Tu és cristão?” Sebastião não teve dúvidas. Respondeu: “Sou cristão!”, e testemunhou assim a sua fé. Aquilo que antes ele dissimulava transformou-se em explícita profissão de fé.

Sebastião viu-se finalmente diante daquela encruzilhada: era necessário testemunhar; do contrário, estaria traindo a Deus. Nosso Senhor é o nosso maior exemplo no que se refere à prudência. Durante os três anos de sua vida pública, o que Jesus fazia? Pregava o Evangelho. Nesse período, tentaram matá-lo várias vezes, mas Ele escapava. Até que chegou a sua hora, o momento de entregar-se à sua Paixão. Da mesma forma, São Sebastião professou a fé, e o imperador não hesitou: reuniu um grupo de arqueiros da Mauritânia e, lá no próprio Palatino, mandou amarrá-lo numa árvore, onde foi cravado de inúmeras flechas. E, ao contrário do que estamos acostumados a ver nas imagens, os relatos da hagiografia dizem que foram tantas flechas que o corpo de São Sebastião parecia um ouriço (e ainda que isso seja um exagero literário, certamente foram mais flechas do que as poucas que vemos nas imagens do santo).

Terminada a execução, ao longe os soldados viram aquele corpo todo espetado com suas setas mortais, e naturalmente deram Sebastião como morto, largando-o para ser devorado pelos abutres e feras selvagens. No entanto, milagrosamente, o santo sobreviveu — contrariando o que muitos pensam, a imagem tradicional de São Sebastião não retrata o momento de sua morte —, tendo sido resgatado por uma caridosa mulher cristã que também trabalhava no Palotino, Santa Irene, viúva de São Cástulo. Ela recolheu Sebastião, cuidou de suas feridas e ele se recuperou milagrosamente.

No entanto, agora São Sebastião tinha uma nova vocação: não deveria mais, às escondidas, dar apoio aos cristãos; uma vez descoberto, quase morto e recuperado, sua vocação agora era testemunhar a fé com destemor, com parresia (παρρησία, em grego). Movido pelo Espírito Santo, este grande místico viu que Deus desejava que ele testemunhasse diante do imperador. E então aquele que havia sido “executado” por ordem do imperador, agora milagrosamente são, foi mais uma vez até Diocleciano, para repreender o soberano romano e fazer uma profecia: que aquilo que o imperador estava fazendo com os cristãos era uma grave injustiça e, por isso, ele seria punido com o Inferno se não se convertesse; e que depois viria um imperador que daria liberdade aos cristãos e, portanto, Diocleciano não deveria se iludir, pensando que seu projeto de destruir o cristianismo poderia prevalecer.

São Sebastião não chegou a ver o tempo de Constantino, o imperador que, duas gerações mais tarde, cessou a perseguição aos cristãos. Não viu a paz da Igreja nem o fim das perseguições, mas profetizou e testemunhou diante de Diocleciano, preocupado com a salvação do imperador que estava caminhando para a condenação eterna de sua alma. Sebastião, por uma moção de Deus, viu que era seu dever fazer aquele ato, e de dedo em riste acusou o imperador de seus grandes e graves pecados, exortando-o ao arrependimento.

A vida de São Sebastião, com essa primeira fase de discrição e um momento de testemunho claro e destemido, revela-nos algo importante sobre a vida cristã. Em alguns momentos devemos agir discretamente, mas sem hipocrisia. O que é hipocrisia? É colocarmos uma máscara; é uma simulação, é fingirmos ser o que não somos. São Sebastião não simulava coisa alguma, mas dissimulava. Qual é a diferença? Simulação é uma falsidade, é mostrar algo que você não é. Por exemplo, o hipócrita não é santo, mas quer “fazer cena” de santo; ou, nos primeiros séculos, havia aquele cidadão que não era pagão, mas agia como pagão para fugir da perseguição aos cristãos. A simulação é uma mentira. A dissimulação, por outro lado, apresenta-se na vida de São Sebastião como um capítulo da virtude do pudor: ele jamais fingiu ser o que não era, mas apenas escondeu aquilo que era.

Muitas vezes, no caso concreto, agir com virtude é esconder aquilo que somos. Por exemplo, todos nós estamos escondendo os nossos corpos com vestimentas. Isso não é mentira, mas pudor. E por que escondemos nossos corpos? Simplesmente porque devido ao pecado original as pessoas não se amam o suficiente para verem uns aos outros nus. No Céu, onde todos estarão confirmados no amor, nós estaremos vestidos, não de roupas, mas da própria glória de Deus. Seremos, como Nossa Senhora, a “mulher vestida de sol”, e não precisaremos mais nos esconder, como aqui na terra.

Podemos dizer que os imperadores perseguidores da religião cristã, como o imperador Diocleciano, não amavam suficientemente os cristãos. E o que estes faziam? Eles se escondiam. Aqueles cristãos não estavam mentindo. Eles mentiriam se aceitassem ir sacrificar aos deuses, fingindo ser pagãos, de “dedos cruzados”. Isso seria uma grave ofensa a Deus. Portanto, podemos nos esconder quando nos manda a prudência, mas jamais mentir. Por isso, existe um tempo na vida de cada um. Em um período de sua vida, Sebastião foi chamado a dissimular e a se esconder; em outro, foi chamado a se manifestar abertamente. Há os tempos de Deus.

Há de se destacar também a grande caridade de São Sebastião ao se preocupar com a salvação da alma do imperador. Nestes tempos atuais de tantos conflitos em nosso país, infelizmente algumas pessoas estão cometendo o pecado de desejar o mal para alguns de nossos políticos, juízes e militares. Mas o que nós precisamos desejar é, a exemplo de São Sebastião, que as autoridades se convertam. Nós precisamos pedir a Deus Nosso Senhor com orações, sacrifícios e jejuns — e os padres com exorcismos —, para que essas pessoas sejam libertas da escravidão de Satanás; porque todo ditador que deseja nos escravizar está ele mesmo, na verdade, sendo escravizado. Eles são os primeiros escravos de Satanás, tão profundamente escondidos nas trevas que parecem inacessíveis às nossas orações, que não estão os alcançando para salvá-los e libertá-los. Por isso, precisamos rezar e suplicar mais intensamente, para que nossas orações sejam eficazes.

É uma ingenuidade pensarmos que as pessoas envolvidas com magia negra, satanismo e feitiçaria em nosso país estão de braços cruzados. Mas, ao contrário de muitos de nós, essa gente crê no poder da “oração” deles. Eles fazem sacrifícios aos demônios, pactos, magia negra e, com esta miséria espiritual, estão acorrentando o nosso país e seus dirigentes. Nós precisamos querer profundamente ver a libertação dessas pessoas. Nós precisamos, como Sebastião, desejar a conversão do imperador. Eis a verdadeira caridade cristã.

São Sebastião, no fundo de seu coração, queria que Diocleciano se convertesse e assim se transformasse num grande santo, alguém muito maior do que ele mesmo. Certamente, se Diocleciano tivesse ouvido os rogos de Sebastião, hoje nós teríamos igrejas de São Diocleciano, que poderia ser muito mais milagroso do que o próprio São Sebastião. Infelizmente, não foi o que aconteceu, mas isso não quer dizer que algo similar não possa acontecer. Pessoas que hoje estão cometendo graves injustiças, atentando contra o Estado Democrático de Direito, buscando implantar uma ditadura cruel em nosso país, podem ser resgatadas — por Nossa Senhora, por nossas orações, pelo santo sacrifício da Missa —, por mais que hoje estejam acorrentadas num poço de trevas.

Ora, se sacrifícios aos demônios podem fazer o “prodígio” de amarrar o nosso país, o que não fará o sacrifício de Cristo na Cruz renovado no altar? A única coisa que está impedindo que isso aconteça é a nossa fé fraca, a nossa esperança cambaleante, a nossa caridade sem vigor. Com verdadeira fé, esperança e caridade, podemos nos aproximar do altar de Deus e celebrar o santo sacrifício para então sermos novos “Sebastiões”: uns secretamente, outros mais claramente, dependendo daquilo que Deus nos reservou em nossas vidas.

Enquanto isso, consolemo-nos mutuamente, renovando a fé uns dos outros, como Sebastião fez com aqueles pobres homens que estavam na cadeia, e que acabaram se tornando mártires ao destemidamente derramarem seu sangue. Naquele momento, ainda não era a hora do testemunho de Sebastião, mas de seu serviço discreto aos irmãos. Mas é importante que todos saibamos ler o momento histórico em que seremos convocados por Deus a dar o nosso grande testemunho.

Rezemos intensamente por todos os líderes do nosso país. Nós somos a “guarda pretoriana” espiritual de nossos políticos, juízes e militares, porque nós precisamos cobri-los de oração para arrancá-los das influências malignas. Nós cremos que maior que qualquer influência do mal é o poder de Cristo, o Filho da Virgem Maria que, com sua morte na Cruz, esmagou a cabeça da serpente.

Peçamos a intercessão de São Sebastião, que já libertou o Brasil uma vez. São Sebastião foi visto na Baía da Guanabara em 1567, liderando as tropas portuguesas contra os invasores protestantes, calvinistas franceses. Que esse grande mártir — como os orientais o chamam, megalomártir — interceda por nós para que também possamos dar nosso testemunho de fé.

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