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A última Confissão

Nesta aula, Padre Paulo Ricardo explica o significado do sacramento da Confissão, dando uma visão mais aprofundada do por que devemos contar nossos pecados ao sacerdote e como o podemos fazer bem, aproximando-nos do tribunal da penitência "como se aquela fosse a última confissão de nossa vida".

Texto do episódio
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Na luta contra o pecado, uma das grandes armas de auxílio do cristão é o sacramento da Penitência. Quando, por infelicidade, o homem cai no abismo do pecado, é por meio da Confissão que ele se reconcilia com a Igreja; é através da acusação aos sacerdotes, "embaixadores em nome de Cristo" [1], que ele recupera a graça de Deus.

Para colher os frutos deste sacramento, além do simples perdão dos pecados, é necessária a colaboração do homem. Os sacramentos, enquanto instrumentos de Deus para aplicar os méritos de Cristo, aumentam a graça de forma infalível (ex opere operato), mas, na prática, o seu efeito santificador é proporcional às disposições interiores da alma (ex opere operantis). Se uma pessoa que se confessa quotidianamente não consegue notar nenhum progresso na vida espiritual ou nenhum sinal de que está trilhando a senda da santificação, isto pode acontecer não por causa da ajuda divina, mas pela imperfeição de suas próprias disposições.

Assim como o sol é um só, mas atua diferentemente quando seus raios caem no metal ou no barro, a graça de Deus também atua sobre todos aqueles que a pedem, mas alguns, abrindo-se mais à Sua ação, se santificam mais que outros. O calor que o sol provoca é diferente não por um defeito seu, mas justamente porque age sobre materiais diferentes. Na eficácia do sacramento o homem não influi como causa, mas como recipiente.

Quanto às disposições interiores do penitente, elas dividem-se em habituais e atuais.

As primeiras resumem-se, de modo prático, às três virtudes teologais. Quem quer que se achegue ao tribunal da Confissão deve aproximar-se dele com espírito de fé, afinal, embora vá acusar seus pecados a um homem, pecador como ele, quem age na absolvição dos pecados e aconselha o penitente é o próprio Cristo. "Só Deus perdoa os pecados", indica o Catecismo da Igreja Católica. No entanto, "em virtude de sua autoridade divina, [Ele] transmite esse poder aos homens para que o exerçam em seu nome" [2]. Ao entrar no confessionário para ouvir os fiéis, também os sacerdotes deveriam tomar consciência da dignidade deste "ministério da reconciliação" [3]  exercido por ele in persona Christi.

O penitente deve ainda se aproximar deste sacramento com a máxima confiança (esperança) de ser perdoado – contanto que esteja verdadeiramente arrependido de suas faltas – e com amor de Deus, sem o qual ele não pode se desapegar de seus pecados, por leves que sejam.

As disposições atuais para receber este sacramento são aquelas necessárias ao penitente à hora da acusação. O que é necessário para se confessar – e se confessar bem? O padre Antonio Royo Marín escreve:

"Em primeiro lugar, acercar-nos-emos do tribunal da penitência em cada ocasião como se aquela fosse a última confissão de nossa vida, como preparação imediata para o viático e o juízo de Deus. Deve-se combater com energia o espírito de rotina, não se confessando por mero costume de fazê-lo a cada tantos dias, mas empregando o máximo empenho em conseguir, com a graça de Deus, uma verdadeira conversão e renovação de nossa alma." [4]

A primeira das disposições atuais tratadas pelo padre Royo Marín em sua obra é o exame de consciência. Quem está habituado a realizar esta prática todos os dias [5], não sentirá muitas dificuldades em examinar-se antes da confissão, já que terá sempre diante de si as faltas cometidas, prontas a serem contadas ao sacerdote. À hora do exame, é importante não desculpar os próprios defeitos, tentando atribuir a causa dos pecados a fatores externos, nem inventar pecados que sequer foram cometidos – prática comum de almas escrupulosas. Ao mesmo tempo, quanto às faltas veniais, não se deve perder tempo com detalhes, mas, sim, procurar a raiz dos problemas, a fim de que o confessor não apenas perdoe os pecados, mas indique os remédios para a cura da doença espiritual que a pessoa apresente.

Sem a contrição de coração o sacramento da Confissão sequer é válido. Santo Tomás escreve que "a matéria próxima deste sacramento são os atos do penitente, que têm, por sua vez, como matéria os pecados arrependidos e confessados e pelos quais cumpre uma satisfação. Daí se segue que a matéria remota da penitência são os pecados, não enquanto desejados na intenção, mas enquanto devem ser detestados e destruídos" [6]. Ora, sem "detestar" os pecados cometidos, não há matéria para este sacramento. Quem se aproxima do tribunal da Penitência sem arrependimento, por mais que receba a absolvição, não é perdoado.

O motivo pelo qual o pecador se arrepende também é importante: não pode ser por qualquer coisa natural – por uma doença física ou pela vergonha diante dos homens, por exemplo –, mas por uma aflição de origem sobrenatural: o indivíduo arrepende-se ou porque perdeu o Céu e mereceu as penas eternas do inferno (atrição) ou porque, tomando consciência do grande amor com que foi amado, foi ingrato e perdeu Deus, o sumo Bem (contrição perfeita).

Tanto a atrição quanto a contrição perfeita são válidas como arrependimento, mas quem quer que deseje trilhar o caminho da santidade não deve se contentar com a senda do temor.

"Nada, pois, há de procurar com tanto empenho a alma que queira santificar-se como esta intensidade de contrição nascida do amor de Deus, da consideração de sua infinita bondade e misericórdia, do amor e dos sofrimentos de Cristo, da monstruosa ingratidão do pecador para com um Pai tão bom, que nos tem enchido de incompreensíveis benefícios etc. Mas, bem persuadida de que esta graça da perfeita e intensa contrição é um dom de Deus que só se pode impetrar por meio da oração, humilhar-se-á profundamente diante da divina Majestade, implorando-a com insistência, por intercessão de Maria, mediadora de todas as graças." [7]

As pessoas tendem a confundir esta contrição perfeita com um sentimento, com uma expressão física de comoção ou de dor, mas isto é um aspecto meramente acidental do arrependimento. "Não é necessário manifestar exteriormente a contrição interna por meio de suspiros, lágrimas, etc.: tudo isto pode ser sinal de contrição, não é, porém, sua essência. A essência da contrição está na alma, na vontade, em afastar-se deveras do pecado e converter-se para Deus" [8]. Assim, só Deus, que perscruta o coração dos homens, é capaz de ver a verdadeira contrição.

Tal é a importância dessa disposição interior que o Doutor Angélico adverte ser tanto maior a graça que se alcança após a absolvição quanto mais intensa for a contrição forjada pelo penitente. "A intensidade do arrependimento do penitente é, às vezes, proporcionado a uma maior graça que aquela da qual caiu pelo pecado; às vezes, a igual; e, às vezes, a menor. E pela mesma razão o penitente se levanta às vezes com maior graça do que tinha antes; às vezes, com igual; e, às vezes, com menor" [9], escreve. Por isso, diz o pe. Royo Marín, "é (...) de grande importância procurar a máxima intensidade possível no arrependimento e na contrição para lograr recuperar o mesmo grau de graça ou quiçá um maior do que o que se possuía antes do pecado" [10].

Também não é possível obter o perdão dos pecados sem o propósito firme. Mais do que tornar ineficaz a recepção do sacramento, a sua falta acaba por invalidar a absolvição. Afinal, se a pessoa se acusa ao sacerdote mas não está disposta a renunciar ao pecado, deixando de cometê-lo, qual o sentido de seu arrependimento? O padre Royo Marín alerta ainda que, além de um "propósito geral de não voltar a pecar", é preciso que o penitente tome "uma resolução clara, concreta, enérgica, de empregar os meios para evitar tal ou qual falta ou se adiantar na prática de uma determinada virtude" [11].

Considera-se, enfim, a confissão vocal. Santo Tomás resume, em alguns versos, quais devem ser as qualidades da boa acusação: Sit simplex, humilis confessio, pura, fidelis, atque vera, frequens, nuda, discreta, libens, verecunda, integra, secreta, lacrimabilis, accelerata, fortis et accusans, et sit parere parata. – Seja simples, humilde a confissão, pura, fiel, frequente, clara, discreta, voluntária, verecunda, íntegra, secreta, lacrimosa, pronta, forte, acusadora e disposta a obedecer [12]. Destas dezesseis qualidades, destaque-se os termos "humilde" – pois o penitente deve colocar-se diante de Deus como quem não está merecendo nada –, "íntegra" – pois os pecados mortais devem ser confessados integralmente e na maior precisão numérica possível – e "frequente" – pois, sendo um meio eficacíssimo de santificação, deve ser procurado continuamente, assim como o procuraram os grandes santos.

Por fim, chega-se à satisfação sacramental. Embora as faltas do penitente sejam plenamente perdoadas já na acusação contrita, restam a pena temporal devida pelo pecado e a enfermidade que deve ser remediada pelo confessor. É neste departamento que cabem as exortações à terapia das doenças espirituais [13]. É importante que o fiel cumpra atentamente e o mais depressa possível a penitência imposta pelo sacerdote, já que, diz o Doutor Angélico, "nela opera o poder das chaves, de sorte que tem mais valor para expiar o pecado que se o homem realizasse a mesma obra por seu próprio arbítrio" [14].

Referências

  1. 2 Cor 5, 20
  2. Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 1441
  3. 2 Cor 5, 18
  4. Teología de la Perfección Cristiana, libro segundo, c. 1, art. 1. Edição em PDF. P. 417
  5. Sobre a importância do exame diário da consciência, cf. RC 193: Qual a importância do exame de consciência para nossa vida espiritual?
  6. Suma Teológica, III, q. 84, a. 2
  7. Teología de la Perfección Cristiana, libro segundo, c. 1, art. 1. Edição em PDF. P. 418
  8. A contrição perfeita – uma chave de ouro do Céu, por J. de Driesch. Edição em PDF. P. 8
  9. Suma Teológica, III, q. 89, a. 2
  10. Teología de la Perfección Cristiana, libro segundo, c. 1, art. 1.Edição em PDF. P. 418
  11. Teología de la Perfección Cristiana, libro segundo, c. 1, art. 1. Edição em PDF. P. 419
  12. Suma Teológica, Suppl., q. 9, a. 4
  13. Cf. Curso: Terapia das Doenças Espirituais
  14. Quaestiones de quodlibet 3, a. 28 apud Teología de la Perfección Cristiana, edição em PDF, p. 420
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