No capítulo 13 do Evangelho de São Mateus, Jesus fala ao povo em parábolas. Depois, somente aos discípulos, ele explica essas mesmas parábolas. Os Apóstolos então perguntam a Jesus: “Por que lhes falas em parábolas?” (cf. Mt 13, 10).
Jesus não falava em parábolas para nos esconder alguma coisa secreta, mas exatamente o contrário: Nosso Senhor as utilizava como meio pedagógico de falar sobre coisas sublimes e elevadas. Através das parábolas, Jesus sabia que o povo entenderia mais facilmente as verdades que Ele queria transmitir.
Uma vez que essas parábolas são recebidas de coração aberto por uma pessoa, ela pode avançar para um novo estágio na contemplação da verdade. Dito isso, vamos meditar sobre esse assunto importante para a nossa vida espiritual.
Quando rezamos, temos de seguir o método de Jesus — parábolas, imagens e comparações — porque isso é mais adequado para a nossa inteligência humana. Jesus, nosso Deus criador, sabe como funciona a nossa cabeça e como abrir o “olho” de nossa alma. Ele sabe, por exemplo, que somos diferentes dos anjos. Por isso, todas as vezes que queremos meditar e enxergar a verdade, a primeira coisa que devemos fazer é discorrermos com a nossa imaginação. É por isso que Jesus falava em parábolas, porque essas histórias nos dão imagens concretas para pensarmos a respeito do que foi falado.
No momento em que Jesus nos diz: “O semeador saiu a semear”, temos imediatamente a imagem de uma pessoa com um saco de sementes a tiracolo. Vamos o imaginando a jogar essas sementes, pensamos nos diferentes tipos de terras, no meio do caminho, no chão batido e duro. Visualizamos os passarinhos que levam embora as sementes, e pensamos naquelas sementes que caem entre os pedregulhos, para logo brotarem e logo secarem ao sol. Depois, pensamos na semente que cai em terra boa, mas os espinheiros crescem e a sufocam. Cada uma dessas imagens é produzida em nossa mente. É a partir delas que vamos rezar.
Por que essas imagens são necessárias? Porque, quando rezamos sem imagens somos apenas “máquinas de falar”, caímos em uma desnecessária verborragia, sem contemplar verdade alguma! É necessário que tenhamos algo na cabeça para imaginar, para figurar as coisas sobre as quais estamos meditando. É por isso que nosso Senhor nos conta essas histórias.
Uma vez que deixamos de falar sem parar e começamos a ver essas imagens dentro de nós, isso nos desperta o olhar da alma. É o cérebro, é a nossa parte “somática”, física, que cria essas imagens dentro de nós. Eis a nossa forma humana de conhecer as coisas, e por isso passamos inicialmente pelas parábolas e pela imaginação.
Quando começamos a discorrer com a nossa inteligência sobre essas imagens, então começamos a ver a verdade que elas significam. É somente assim que tiramos frutos de nossa oração. É importante entendermos isso. Para demonstrar como esse processo ocorre, vamos meditar brevemente sobre o Evangelho de hoje: “Naquele tempo, aproximando-se os discípulos disseram a Jesus: ‘Por que lhes falas em parábolas?’ Ele respondeu…”
Quando apenas ouvimos essas palavras do Evangelho, ficando somente no “ato mecânico”, acabamos indo embora para casa vazios. Mas quando imaginamos o que está sendo dito, é diferente. Ouvimos “Naquele tempo os discípulos aproximaram-se de Jesus”, e pensamos naquela situação: Jesus está lá, sentado, e então seus Apóstolos aproximam-se, sentam-se com Ele e perguntam por que Ele fala ao povo em parábolas. E aí Jesus responde: “Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não.” Neste momento, imaginamos que lá fora, entre aquele povo que ouviu Jesus junto ao mar, havia muitos com o coração fechado, enquanto alguns poucos realmente enxergaram a essência do que o Senhor queria lhes dizer. A estes foi dado o conhecimento do Reino dos Céus!
Vejam que podemos ouvir o mesmo Evangelho, mas quando exercitamos a imaginação, enxergamos melhor o que está sendo dito ali. Quando não fazemos isso, lemos o Evangelho e podemos até pensar nas palavras que estão ali, mas aquilo não entra em nosso coração. Enquanto não tivermos uma imagem, não entenderemos o significado do que o Senhor está nos dizendo. É por isso que Jesus nos fala em parábolas: Ele nos dá essas imagens porque quer que nos coloquemos em cada uma daquelas situações.
Jesus está nos dizendo, hoje, que há pessoas que ouvem as parábolas mas não abrem o coração. Por que isso acontece? Pode haver várias razões. Algumas pessoas podem ser boas, mas estão atormentadas com preocupações e por isso essa imagem lhes escapa. Pode ser que alguém não entenda porque realmente não quer mudar de vida, e está fechado para o que Jesus está dizendo. Ou pode simplesmente estar distraído.
Qual é a razão pela qual não ouvimos as parábolas que Jesus está nos dizendo? Afinal, onde estamos quando não estamos com Deus? O que estamos fazendo quando não imaginamos, verdadeiramente, o que Jesus quer nos mostrar? Será que estamos olhando para o nosso próprio umbigo, pensando nas contas que temos de pagar? Estamos pensando no emprego ou em alguma situação de família?
Será que não estamos muito voltados para os nossos problemas em vez de abrirmos os olhos para sair desses assuntos “eternos” de nossa cabeça — que giram sempre em torno de nós mesmos — para finalmente começarmos a ouvir o que Jesus está querendo nos dizer?
As imagens que Jesus nos dá nos ajudam a ver essas coisas que ele quer nos dizer. Uma vez que vamos meditando, trabalhando a nossa imaginação, então as verdades começam a brotar dentro de nós. Começamos a enxergar, por exemplo, quantas vezes tentamos rezar e as nossas preocupações da vida — o nosso espinheiro — nos sufocam e nos impedem de fazer isso. Às vezes, queremos impor para Jesus somente os assuntos e preocupações que orbitam a nossa mente: “Olha, Jesus, vim aqui para tratar de tal assunto…” Mas o Senhor pode estar querendo nos falar de outra coisa: “Eu sei o que é importante para você! Quando irá me ouvir? Ouça!”
Qual é o primeiro mandamento da lei de Deus? “Amarás o Senhor teu Deus”? Não. O texto é: “Ouve, Israel, Amarás o Senhor teu Deus” Ouve! Quando não somos capazes de ouvir o Senhor, não somos capazes de amá-lo. Ninguém ama o que não conhece. “Ouve, Israel” quer dizer: abre o teu coração para as coisas que o Senhor está dizendo. Precisamos abrir o coração para os assuntos que Deus quer nos trazer, e esquecer um pouco aqueles que a nossa cabeça quer impor. Prestemos atenção no que Jesus está dizendo: “Ouve, Israel”; se fizermos isso, tiraremos grande proveito para as nossas vidas.
Pode ser que não tenhamos arroubos místicos, ou que não sintamos nenhuma consolação. Isso não é um problema, não são coisas necessárias. Mas se conseguimos sair com alguma palavra marcada em nossa mente, com algo que enxergamos, podemos trabalhar isso dentro de nós e dizer: “Que bom!” Lembre-se do que Jesus diz sobre as pessoas que não tiram proveito de suas palavras: “pois o coração desse povo se endureceu, eles ouviram com ouvido indisposto” (cf. Mt 13, 15; Is 6, 9s). Há quem não tenha vontade de mudar, de se deixar modelar por Jesus.
Então, vamos aprender que Jesus, no Evangelho de hoje, está nos ensinando a meditar. Está dizendo, como bom professor: “Comecemos com as parábolas, comecemos com as imagens.” Recebamos essas parábolas de boa vontade, abramos os olhos e ouvidos e deixemos que essas imagens abram o nosso coração, mexendo dentro de nós aquilo que Deus quiser.
Às vezes, o Senhor quer nos dar consolações. Outras vezes, simplesmente quer que vivamos os nossos “partos” e dores com os quais precisamos entregar nossa vida. Por que pensamos que Deus só está conosco quando nos consola, e não quando suamos sangue? Rezemos e deixemos que Ele mude aquilo que não gostaríamos de mudar.
Peçamos a Deus que, na Eucaristia, Ele nos dê a graça verdadeira de escutar com o coração as suas parábolas, para que possamos encontrar a verdade.
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