Anúncio da Paixão de Cristo
(Jo 18, 1-19,42)
Observação: Na Sexta-feira Santa, lê-se o anúncio da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo o evangelista S. João. Devido, porém, à extensão do texto, proclamado de resto à maneira de diálogo, houvemos por bem omiti-lo desta vez. Os que quiserem lê-lo antes de ouvir a pregação o encontrarão em homilias passadas (aqui, aqui, aqui e aqui)
Contemplação de Jesus crucificado [1]. — Ponto 1. — “Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à minha” (Lm 1, 12). Considera os tormentos de Cristo. 1) No corpo, pelos cravos: “Traspassaram minhas mãos e meus pés: poderia contar todos os meus ossos” (Sl 21, 17-18), e pelas chagas: “Desde a planta dos pés até o alto da cabeça, não há nele coisa sã” (Is 1, 6). — 2) Na alma, pelo desprezo: “Escarneceram de mim” (Sl 34, 26), “tornei-me escárnio do meu povo, objeto constante de suas canções” (Lm 3, 14); pela infâmia da cruz, posta entre dois ladrões: “Deixou-se colocar entre os criminosos” (Is 53, 12); pela falta de quem se compadeça ou console: “Ninguém mais a consola de quantos a amavam. Seus amigos todos a traíram, e se tornaram seus inimigos” (Lm 1, 2). “Esperei em vão quem tivesse compaixão de mim, quem me consolasse, e não encontrei” (Sl 68, 21); pelo pouco fruto de sua Paixão, desprezado por muitos ingratos: “Que proveito vos resultará de retomar-me a vida?” (Sl 29, 10). “Que se poderia fazer por minha vinha, que eu não tenha feito? Por que, quando eu esperava vê-la produzir uvas, só deu agraço?” (Is 5, 4).
Ponto 2. — “Que ferimentos são esses em tuas mãos?” (Zc 13, 6). Pergunta-o ao teu Jesus e escuta-o responder: “São ferimentos que recebi na casa de meus amigos”. Reconhece este infinito amor. Contempla esta cabeça inclinada para beijar-te; este coração aberto para amar-te; estes braços estendidos para abraçar-te; todo este corpo exposto para redimir-te. Pensa na grandeza desses atos, pesa-o bem na balança do teu coração, e nele se fixará quem por ti se fixou na cruz (cf. S. Agostinho, De virg.). Verdadeiramente “nos amou e por nós se entregou” (Ef 5, 2). Sente dirigida a ti aquela pergunta: “Simão, filho de João, amas-me?” (Jo 21, 17), e responde-lhe com todo o teu afeto: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.
Ponto 3. — “Ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu” (2Cor 5, 15). Colhe daqui o fruto da morte de Cristo: vive, não já para ti nem para teus interesses, prazeres e honras, mas para Ele. Deves-lhe a ti mesmo e tudo o que possuis: “Já não vos pertenceis, porque fostes comprados por um grande preço” (1Cor 6, 19-20). “Que poderei”, diz S. Bernardo (De dilg. Deo), “retribuir ao Senhor por tudo o que Ele me tem dado? (Sl 115, 3 [12]). Na primeira criação, deu-me a mim mesmo; na segunda, deu-se-me a si mesmo; mas, por ter-se dado a mim, devolveu-me também a mim. Se, portanto, me fui dado e devolvido, devo-lhe minha vida duas vezes; mas que lhe poderei retribuir pela sua!”
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