Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 7, 19-23)
Naquele tempo, João convocou dois de seus discípulos, e mandou-os perguntar ao Senhor: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” Eles foram ter com Jesus, e disseram: “João Batista nos mandou a ti para perguntar: ‘És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?’” Nessa mesma hora, Jesus curou de doenças, enfermidades e espíritos malignos a muitas pessoas, e fez muitos cegos recuperarem a vista. Então, Jesus lhes respondeu: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a boa nova é anunciada aos pobres. E feliz é aquele que não se escandaliza por causa de mim!”
No Evangelho de hoje, S. João Batista manda seus discípulos perguntarem a Jesus se é Ele quem devia vir (v. 19). Esse Evangelho nos causa um pouco de espécie e certa admiração: como é possível que João Batista “não soubesse” quem Jesus era? Não foi ele quem apontou para Jesus, dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29)? Sim, S. João Batista sabia perfeitamente quem Jesus era, mas mandou seus discípulos perguntarem, para dar a Jesus a ocasião de lhes mostrar que Ele era o verdadeiro Messias. João Batista, aqui, está cumprindo o que ele mesmo anunciara: “Convém que Ele cresça e eu diminua” (cf. Jo 3, 30). No início do ministério de Jesus, S. João Batista possuía muitos discípulos e Jesus, quase nenhum, porque era necessário que o Batista fosse diminuindo para Jesus crescer. Agora, João está orientando o resto de seus discípulos e entregando-os a Jesus, enviando-os pelo caminho de Jesus. Isso é muito importante. Vemos aqui o verdadeiro santo humilde. Qualquer santo sabe perfeitamente que somos instrumentos de Deus para a glória de Cristo. Não somos nós que importamos: é Cristo. Nós temos de desaparecer para que Cristo apareça. Somos como a Lua, que reflete um pouco da luz do Sol. Quando refletimos essa luz de Cristo para os outros, precisamos levá-los a compreender de onde vem a luz. Essa luz provém do Sol nascente que nos veio visitar, é a luz do alto para os que jaziam nas trevas (cf. Lc 1, 78s). É a grandeza de Cristo que faz a dos santos. Com efeito, todo santo, da Virgem Maria até o menor dos beatos na glória do céu, quer desaparecer para que Cristo apareça: “Convém que Ele cresça e eu diminua”.
Desta forma, Jesus tem no Evangelho de hoje a ocasião de mostrar aos demais que Ele é o cumprimento das profecias. De fato, tudo o que disseram os profetas do Antigo Testamento é plenamente cumprido por Jesus: os que têm ouvidos para ouvir, ouçam; os que tiverem abertura, enxerguem. À luz da dinâmica deste Evangelho, nós, que estamos vivendo o tempo do Advento, podemos aplicar esses ensinamentos em nossa vida. O Advento, afinal, é o tempo da vinda de Cristo. Por isso, quanto mais se aproxima Nosso Senhor mais devemos crescer em humildade. É interessante notar que a dinâmica da vida espiritual tem como base duas virtudes, que devem crescer cada vez mais: a fé e a humildade. São as bases do edifício espiritual. Na construção de um prédio, quanto mais alto se quiser o edifício, mais fundos e sólidos devem ser os fundamentos. É a humildade, é o nosso nada: reconhecer que “convém que Ele cresça e eu diminua”. E isso não causa sensação de esmagamento, pelo contrário: quem se humilha vê com maior fé o amor de Cristo, a claridade de Cristo, a glória e a bondade do Senhor. Só assim essa planta bem enraizada se tornará árvore frondosa, de modo que, crescendo em fé, esperança e caridade, possamos dar um dia frutos saborosos e maduros do amor de Cristo, que vive em nós. Tenhamos coragem! Sejamos humildes diante de Deus: nós nada somos; é Cristo o nosso tudo, Ele é tudo para nós.
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