Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 17, 10-13)
Ao descerem do monte, os discípulos perguntaram a Jesus: “Por que os mestres da Lei dizem que Elias deve vir primeiro?” Jesus respondeu: “Elias vem e colocará tudo em ordem. Ora, eu vos digo: Elias já veio, mas eles não o reconheceram. Ao contrário, fizeram com ele tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem será maltratado por eles”. Então os discípulos compreenderam que Jesus lhes falava de João Batista.
Hoje, celebramos a memória de S. João da Cruz, que, juntamente com S. Teresa d’Ávila, reformou no séx. XVI a congregação dos carmelitas. Como se sabe, a Ordem carmelitana está ligada historicamente com o profeta Elias, a quem a tradição considera como o verdadeiro fundador do Carmelo. A razão disto é que, no Antigo Testamento, Elias trucidou os sacerdotes e profetas de Baal e, junto com as pessoas que se converteram ao Deus de Israel, formou um grupo de seguidores dedicados a eliminar o culto aos deuses pagãos. Esse zelo, que à primeira vista nos poderia parecer “violento”, estava no entanto profundamente vinculado à grandeza da vida contemplativa. Elias, com efeito, descobrira a presença de Deus, não na fúria do terremoto nem nos raios da tempestade, mas na suavidade da brisa. Nesse sentido, a história desse profeta nos indica que, para encontrar-se com Deus no alto do carmelo interior, na brisa suave da oração, é preciso antes, de um modo ou outro, eliminar os deuses falsos, isto é, pôr um fim a todo culto idolátrico e indigno da majestade do Deus único e verdadeiro. Por isso, para podermos receber a Cristo neste Natal com as disposições devidas, temos de seguir os mesmos passos de Elias, que S. João da Cruz soube tão bem traduzir em sua doutrina espiritual: só chegaremos ao topo do Monte Carmelo se, conscientes do nada das criaturas, dermos as costas para tudo o que temos adorado no lugar de Deus, sejam os nossos ídolos verdadeiros pecados (excessos, bebedeiras, sensualidade, cobiça etc.) ou mesmo coisas lícitas que, sem embargo, se estimadas com indevido apego, podem atrasar enormemente o nosso progresso espiritual. Que este resto de Advento, portanto, seja para nós uma noite escura, um decidido fechar de olhos para as criaturas, que tanto nos ofuscam a vista, para podermos enxergar aquele sol nascente, aquela lux oriens ex alto, que dentro de pouco dias irá nascer em Belém a fim de estabelecer em nós a sua morada.
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