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Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 17-19)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus”.

Celebramos com grande alegria a memória de um santo brasileiro, São José de Anchieta. Nascido nas Canárias, ainda jovem foi estudar em Coimbra, vindo para o Brasil com apenas 20 anos, a fim de evangelizar nossas terras. Foi verdadeiramente o apóstolo do Brasil. Sem ele, a história do nosso país seria muito diferente. José de Anchieta veio com os primeiros jesuítas. Graças aos dotes extraordinários com que Deus o enriqueceu, tinha grande facilidade para línguas. Ele, que já sabia espanhol, português e latim, começou a estudar a língua mais falada no nosso país, o tupi. José de Anchieta dominou-a de forma tão extraordinária, que em pouquíssimo tempo escreveu uma gramática, o primeiro livro de tupi da história. Aprendendo a língua dos índios, começou a evangelizá-los. Escreveu pequenas peças de teatro, catequeses etc.; mas — o que não podemos deixar de lado — José de Anchieta evangelizou o Brasil sobretudo com a sua santidade. Sim, trata-se de um santo de enorme grandeza. De fato, é surpreendente que um santo de tamanha virtude, autor também de inúmeros milagres, tenha permanecido tantos séculos somente como título de Venerável. Foi só no pontificado de João Paulo II que ele foi beatificado, tornando-se o Beato José de Anchieta, até ser canonizado há poucos anos pelo Papa Francisco.

“Já era hora”, poderíamos dizer! Afinal, a santidade dele é extraordinária. Humilde, formou uma geração inteira de jesuítas, mas enquanto seus próprios alunos iam sendo ordenados, ele ficava para trás porque não podia deixar de dar aula. Por isso só pôde tornar-se padre já velho. Todos os seus alunos foram ordenados primeiro que ele, que aceitou humildemente permanecer um simples irmão. Foi assim, como irmão jesuíta, que José de Anchieta mostrou a grandeza de sua pureza. Naquela época, havia no Brasil um conflito entre portugueses e franceses, conflito, na verdade, quase “por procuração”, já que eram as tribos indígenas que guerreavam. Ora, como os franceses estavam aliados com os tamoios, o Pe. Manoel da Nóbrega, então provincial jesuíta, junto com o Ir. José de Anchieta, decidiu apresentar-se como refém aos tamoios para negociar a paz. Imagine-se a coragem desses homens. Entregaram-se como reféns a índios selvagens e agressivos que eram não só do bando inimigo como também canibais! Feitos cativos, sofreram várias ameaças e por pouco não foram martirizados.

No meio das tratativas, o Pe. Manoel da Nóbrega viu ser necessário ir até os portugueses para explicar quais eram as disposições dos tamoios. Mas o Ir. José de Anchieta, enquanto isso, deveria permanecer preso. E José não hesitou em aceitar ficar sozinho no meio de uma tribo selvagem! Além disso, os índios a todo momento lhe ofereciam desnudas suas próprias filhas. Eles não compreendiam como era possível que um homem ficasse sem mulher. Ele, porém, recorreu à Virgem Maria e fez uma promessa: se resistisse, iria escrever e publicar a vida dela em versos. Assim nasceu o maior poema em latim dedicado à Virgem Maria. (O Ir. José de Anchieta, com mente prodigiosa, ia escrevendo os versos na areia e guardando-os na memória porque não tinha papel. O poema alcançou quase seis mil versos!) Assim José de Anchieta guardou imaculada, por piedade e amor à Virgem, sua castidade. Os índios, não obstante, ameaçavam-no, dizendo: “Olha uma última vez para o sol, porque hoje nós vamos matar-te”, mas o Irmão, cheio de confiança em Nossa Senhora, respondia: “Hei de sair vivo porque Nossa Senhora me prometeu que eu iria sobreviver para publicar sua vida em versos latinos”. Eis a proteção que a Mãe bendita estendeu sobre o grande santo e apóstolo do Brasil, um exemplo heroico de virtude, de pureza e castidade.

Ao ser finalmente ordenado sacerdote, José de Anchieta foi enviado numa missão de paz para trazer de volta duas famílias que, tendo abandonado os portugueses, pendiam para o lado dos adversários de Portugal. Ele partiu com o Pe. Vicente Rodrigues e uma série de outras pessoas, entre as quais estava o índio Bendito, ao qual depois deverá sua vida. Depois de muita travessia de rios, chegou-se a um ponto em que José de Anchieta, junto com a comitiva, se achava num rio caudaloso, numa dessas cachoeiras difíceis, sem outro meio que uma canoa de casca. (O detalhe é importante porque, quando a canoa é de madeira, se entrar água, ela bóia; mas uma de casca é tão leve, que, quando entra água, ela vai para o fundo como uma folha seca.) Estavam, pois, numa canoa de casca, e o agora Pe. José de Anchieta ia rezando o Ofício de Nossa Senhora.

De repente, o barco virou. Todo o mundo nadou para a beira do rio. Mas do Pe. José de Anchieta... nada. Começaram a procurá-la debaixo d’água, e nada. Meia hora depois, o índio Bendito, que não desistia, mergulhou mais uma vez, encontrou o Pe. José de Anchieta e o puxou para fora d’água. Lá estava ele, são, tranquilo, feliz da vida! Perguntaram: “Padre, como é possível? Faz meia hora que o senhor está debaixo d’água! O que aconteceu?” Ele respondeu: “Não sei. Só me lembro de três coisas: de Jesus, da Virgem Maria e de não ter bebido água”. Que coisa prodigiosa! Ele, em êxtase debaixo d’água, sobreviveu por meia hora! Foi esse o grande apóstolo que evangelizou o nosso país.

Foi ele quem, de norte a sul, cruzou Brasil, fundou a cidade de São Paulo, participou da fundação do Rio de Janeiro, instalou uma estrutura de catequese para os índios, foi provincial dos jesuítas em nosso país e morreu em odor de santidade, com fama de verdadeiro taumaturgo pelos inúmeros milagres que fez ainda em vida e pelo milagre maior de ter salvado tantas almas. — Que São José de Anchieta reze por nós, brasileiros, às vezes tão ingratos e esquecidos desse grande santo que nos evangelizou. Que ele nos dê não só a virtude da pureza heroica, mas a vontade de evangelizar, a fim de que o nosso Brasil se torne aquilo que a sua vocação divina determinou: um grande país católico.

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