Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 21,34-36)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”.
O Evangelho de hoje nos fala do cuidado que devemos ter para não ficar insensíveis à presença de Deus.
Assim diz o Senhor: Tomai cuidado para que o vosso coração não fique insensível por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida e esse dia não caia de repente sobre vós. No original grego, a expressão “coração insensível” (βαρηθῶσιν αἱ καρδίαι) pode ser traduzida também como “coração pesado”, ou seja, apegado às coisas da terra, voltado como que para baixo, e não para o alto, como dizemos todos os dias na Missa, em resposta ao sursum corda do sacerdote: Habemus ad Dominum, “O nosso coração está em Deus”.
Pois bem, Cristo nos diz ainda que o coração pode tornar-se pesado por três causas principais: pela gula (κραιπάλῃ), pela embriaguez (μέθῃ) e pelas preocupações da vida (μερίμναις βιωτικαῖς).
As duas primeiras dizem respeito à tendência a fugir da dor e buscar o prazer de maneira desordenada. A terceira se refere à desorientação em que cai o homem que põe nesta vida a sua felicidade, daí a angústia em que vive por causa da instabilidade dos bens mundanos (saúde, dinheiro, sucesso, boa fama e assim por diante).
Tudo isso, de um modo ou de outro, leva o homem a perder o rumo: os prazeres, seja da comida ou da bebida, acorrentam-lhe os afetos às criaturas; as preocupações fazem-no esquecer seu fim sobrenatural e, por consequência, negligenciar os meios necessário para alcançá-lo, como a oração e os sacramentos.
Abraçar a cruz é a solução deste problema. E como se faz isso? Jesus o diz: Ficai atentos e orai a todo momento. Não se trata, é óbvio, de passar o dia todo na igreja, mas de fortalecer-se pela oração a ponto de ter habitualmente um olhar sobrenatural da vida, mantendo os olhos fixos no fim ao qual tudo deve estar ordenado: Deus mesmo. Sem isso, o coração dispersa-se e, cedendo pouco a pouco aos atrativos das criaturas sob o peso da concupiscência, termina embotado, insensível e cego para os bens espirituais.
Ouçamos, pois, a grave advertência do Evangelho: Tomai cuidado, para que o nosso coração não se torne como o dos homens que nunca pensam nas coisas celestes, embotado por prazeres e preocupações desmedidas, mas esteja desperto e atento às coisas do Céu; do contrário, o dia do Senhor nos achará desprevenidos, caindo sobre nós qual uma armadilha (cf. Is 24,17).
Mantenhamo-nos vigilantes (cf. Ef 6,18; 1Ts 5,6) e constantes na dupla oração que nos recomenda hoje Nosso Senhor: Orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar a tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do homem.
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