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Texto do episódio
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Com grande alegria celebramos hoje a Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, devoção trazida às paragens de Cuiabá por volta de 1894, quando aqui aportaram os primeiros salesianos de Dom Bosco. A situação era lastimável: Cuiabá não tinha clero. Contava, quando muito, com o então arcebispo, D. Carlos Luís D’Amour, mais uns quantos sacerdotes: alguns lazaristas à frente do seminário, um diocesano responsável pela catedral, outro encarregado da Boa-Morte, todos já velhinhos… 

D. Carlos tentara em vão importar missionários salesianos quando ainda era vivo o fundador; as vocações, porém, eram insuficientes para uma missão ultra-mar. Após o falecimento de Dom Bosco, seu sucessor imediato, o bem-aventurado Miguel Rua, enviou-nos por fim nossos primeiros salesianos. E com eles veio Nossa Senhora Auxiliadora.

Por que essa Festa cai no dia 24 de maio? Porque foi com o título de Auxiliadora que o Papa Pio VII alcançou uma graça especial. Napoleão, que invadira muitos países da Europa, fez o Papa prisioneiro, e quando este finalmente pôde voltar a Roma — eram 24 de maio de 1814 —, os sinos da cidade ressoaram de alegria. A data ficou marcada por mais um triunfo da Virgem. Daí em diante, o título “Auxílio dos cristãos” foi-se popularizando de dia para dia, a ponto de ser rapidamente introduzido na ladainha lauretana. Também Dom Bosco, sempre muito devoto de Maria, passou a invocá-la como Auxiliadora, la Ausiliatrice, em italiano.

Para propagar ainda mais a devoção, Dom Bosco elaborou em 1870 uma novena a Nossa Senhora, “Nove dias consagrados à augusta Mãe do Salvador sob o título de Maria Auxiliadora” [1], e para justificar a nova invocação servia-se de dois argumentos principais.

O primeiro deles é tirado das Sagradas Escrituras. É evidente, com efeito, que Nossa Senhora seja auxiliadora dos cristãos porque, tão-logo recebeu o anúncio do Anjo, saiu às pressas para auxiliar sua parenta Isabel: Abiit in montana cum festinatione, — “Foi para as montanhas com rapidez” (Lc 1,39), rapidez que revela a pressa que tem Maria de nos fazer o bem, de humildemente nos servir como serviu durante três meses Isabel, como se fosse a serva da família.

Dom Bosco, aludindo a uma carta de São Jerônimo (cf. Epist. ad Eust.): “Maria tem um coração tão piedoso e terno para com os homens, que nunca houve quem sofresse mais com as próprias penas do que sofre Maria com as penas dos outros”. Não há ninguém que se compadeça de nós mais do que a Virgem Maria!

Recorda ainda a seus alunos e filhos espirituais: “Juntemos o amor que todas as mães têm aos seus filhos. A plenitude de afeto de todas as mães nunca poderá igualar o amor que Maria, só, tem a cada um de nós”! O amor de todas as mães juntas, presentes, passadas e futuras, não é senão uma gota em comparação com o mar de afeto que a Virgem Maria tem por nós.

Dom Bosco cita também São Bernardino de Sena: “Assumiu Nossa Senhora, sem que lho pedíssemos”, non rogata, o ofício de piedosa auxiliadora”, officium piae auxiliatricis assumpsit. Ainda quando nada peçamos, ela toma a iniciativa de nos dar aquilo de que precisamos, como fez nas bodas de Caná: “Eles não têm mais vinho”. Isso enche o coração de conforto!

No Céu veremos como ela nos auxiliou quando nem sabíamos que necessitávamos do seu auxílio! Então conheceremos suas preces e súplicas, e descobriremos quantas graças nos foram dadas por meio dela, inclusive as que nem sequer lhe pedimos! Um perigo, uma tentação, um momento de necessidade, a tudo ela estava atenta, sempre pronta a nos auxiliar antes mesmo de nos sentirmos desamparados. Ela é auxiliadora non rogata.

Aos pés da Cruz, Maria recebeu de Jesus a missão de ser nossa Mãe. Agora, assunta aos céus em corpo e alma, não é menor a sua vontade ou, antes, a sua pressa de nos auxiliar, rogata e non rogata, como outrora auxiliou sua prima nas montanhas da Judéia e os noivos em Caná da Galiléia.

Então, Dom Bosco formula um argumento cabal: “Entra, ó leitor, em qualquer santuário dedicado a Maria, e não tardarás em convencer-te de que ela é o Auxílio dos cristãos nas necessidades da vida. Vê dependurados naqueles muros sagrados os sinais [ex-votos] de sua bondade e poder”. Um é pela perna gangrenada que foi curada, outro é pelo cego que tornou a ver, outro ainda é pelo moribundo restabelecido!… Os santuários marianos são a prova histórica irrefutável do quanto Maria nos ajuda. Ela é a nossa Auxiliadora, sempre ao nosso lado, sempre a nos querer bem.

Com base nesses dois argumentos, um da Escritura, outro da história atestada nos santuários, Dom Bosco conclui: “Se Maria vem em nosso auxílio nas necessidades temporais, com pressa ainda maior virá socorrer-nos nas necessidades espirituais”.

Sim, Nossa Senhora nos auxilia em todas as nossas necessidades. Por isso, São João Bosco nos manda fazer o que já dizia São Bernardo de Claraval em seu famoso sermão Super Missus est: “Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Que Maria nunca saia dos teus lábios nem se afaste do teu coração”. Ela é verdadeiramente Auxiliadora dos cristãos.

Referências

1. Em Opere Edite XXII (Roma, LAS, 1977), pp. 253-356. Também disponível aqui.

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