Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10, 1-9)

Naquele tempo o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita.
Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘o Reino de Deus está próximo de vós’”.

O que a vida de São Lucas, cuja Festa celebramos, tem a nos dizer hoje? Sem ser um dos Doze, Lucas foi, assim como Marcos, um dos varões apostólicos inspirados por Deus para redigir as escrituras do Novo Testamento. A ele devemos, em primeiro lugar, os Atos dos Apóstolos, nos quais relata os primeiros passos do cristianismo nascente, incluídos os seus, vividos em companhia de São Paulo, de quem colheu muitas das informações transcritas mais tarde no terceiro Evangelho.

Nos escritos de Lucas, porém, há detalhes que não podem vir de Paulo — detalhes íntimos, narrados por quem só pode ter sido testemunha ocular. Com efeito, assim como o evangelho da infância, em Mateus, é narrado da perspectiva de São José, o evangelho da infância, em Lucas, é contado pelo olhar da Virgem Santíssima. Eis por que Lucas repete: “Maria guardava essas coisas no seu coração e as meditava”. Ora, como alguém poderia escrever que Maria “guardava todas estas coisas no coração” (Lc 2, 51), senão por acesso direto e imediato ao testemunho dela?

Já nos primeiros versículos Lucas revela o segredo. Escrevendo ao nobre Teófilo, diz o Evangelista ter feito uma profunda investigação, sem deixar de consultar as fontes primárias. Não à toa a tradição da Igreja o designa como “o pintor da Virgem Maria”. De fato, são vários os ícones espalhados pelo mundo que teriam a Lucas por autor. Não sabemos com certeza se foi ele quem os pintou; do que, sim, temos certeza é que o seu Evangelho é um dos ícones mais belos de Nossa Senhora, retratada como nenhum outro Evangelista a poderia retratar.

Desse modo, São Lucas é, por excelência, o iconógrafo da Virgem Maria. Mais do que com o pincel, é com a pena da narrativa que ele nos faz entrar no coração da imaculada Mãe de Deus.