Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 16,15-20)
Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.
Celebramos hoje São Marcos, grande evangelista e intérprete de São Pedro. Quem foi este homem que escreveu o segundo Evangelho? São Marcos era conhecido pelo nome de João Marcos. Era um rapaz de dupla cultura, helênica (por isso o nome grego Marcos) e judaica (por isso o nome hebraico João, ‘Iohannes’).
Foi exatamente sua versatilidade em traduzir do aramaico para o grego que o levou a ser, na velhice de São Pedro, secretário do príncipe dos Apóstolos, como vemos na Primeira Leitura da Missa de hoje, em que São Pedro, concluindo sua carta, diz estar na comunidade de “Babilônia”, ou seja, em Roma, com o seu filho Marcos.
É interessante notar esses pequenos detalhes históricos nos servem de chave de leitura para ver o Evangelho de Marcos com outros olhos. Uma das coisas que, poderíamos dizer, temos de admirar no Evangelho de São Marcos é exatamente o fato de que ele não transmitiu um “evangelho seu”, como qualquer pregador; ele fez questão de ser fiel ao que foi transmitido pelos Apóstolos, no caso, por São Pedro, apresentando as reminiscências do primeiro dos Apóstolos. Podemos até imaginar o velho Pedro, alquebrado, pregando o Evangelho, e Marcos traduzindo-o.
Algumas palavras em aramaico presenciadas por São Pedro tocaram tão profundamente São Marcos, que no seu Evangelho ele as deixa no original. Por exemplo, quando São Pedro viu a ressurreição da filha de Jairo, as palavras de Jesus: “Talita cum”, “Menina, levanta-te”, ficaram marcadas no coração dele e penetraram também a alma de São Marcos, de forma que ele não ousou traduzi-las para o grego, mas as preservou no aramaico original.
Cristo, no Horto das Oliveiras, reza: “Abbá, Pai”, e a palavra ‘abbá’, que quer dizer ‘papai’, exprimindo o grito de filho confiante, ficou marcada no coração de Pedro, que assistiu àquela cena, por isso Marcos a colocou no seu Evangelho.
Aliás, foi exatamente ali, no cenário do Horto das Oliveiras, que Marcos se permitiu, digamos assim, fazer uma reminiscência saudosa, uma recordação do seu coração, ocorrida na noite fatídica em que Jesus foi aprisionado.
O pequeno Marcos estava lá. Sim, porque — conta a tradição — o Horto das Oliveiras, um jardim numa chácara que produzia olivas para azeite, era propriedade da família de João Marcos, assim como a casa em que Jesus celebrou a Última Ceia. Tanto o Horto das Oliveiras como o Cenáculo eram da família de João Marcos, que estava em Jerusalém quando Jesus celebrou a Última Ceia às portas fechadas com os doze Apóstolos.
Ele certamente acompanhou os Apóstolos quando Jesus, saindo de Jerusalém, atravessou o vale do Cedron e subiu para o Monte das Oliveiras, onde foi aprisionado. João Marcos estava ali. Ele viu o momento em que o soldado romano veio por trás e tentou aprisioná-lo também e ele, envolto num lençol, saiu correndo. Essa cena está presente no seu Evangelho.
Também nós, muitas vezes, diante de Cristo que sofre, saímos correndo covardemente, desmascarados e nus, como outro Adão, desnudados diante do nosso pecado.
Peçamos a este Evangelista que interceda por nós e nos dê a conversão e a fidelidade de, ao transmitir o Evangelho, transmitirmos somente o que recebemos dos Apóstolos.
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