Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 13,10-17)

Naquele tempo, os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que tu falas ao povo em parábolas?” Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado. Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’. Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.

Texto do episódio:

No Evangelho de hoje, Jesus nos coloca diante do mistério do coração que se fecha para Deus, recordando uma profecia de Isaías: que o coração do povo irá se endurecer e se tornará insensível ao Senhor (cf. Is 6, 10). 

A expressão grega que o Evangelho usa para se referir ao coração insensível significa literalmente “coração grosso”. Sim, a palavra epachyno significa engrossar, assim como temos em português “paquiderme”, ou seja, um animal de pele grossa. É curioso que, no original hebraico — porque a profecia de Isaías é em hebraico — ele também fala de um coração “gordo”, seja porque a pele é grossa, seja porque a pele tornou-se impenetrável por ter excesso de gordura, como o animal paquiderme que passa por cima de tudo e nada mais o atinge. 

Então, Jesus nos adverte que nosso coração pode chegar a esse estado. Mas o que leva uma pessoa a ficar com um coração assim? Sem dúvida nenhuma, os seus próprios pecados. Depois, Ele cita a profecia de Isaías, que nos faz ficar intrigados, porque dá a entender que Deus endurece o coração das pessoas propositalmente: “Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver” (Mt 13, 14; cf. Is 6, 10).

Por isso, devemos saber interpretar bem essa passagem para não atribuirmos a Deus uma culpa que não é dele. Para melhor compreendermos, vejamos como exemplo um episódio do Antigo Testamento, quando Deus diz a Moisés: “Vai ao Faraó, pois endureci o coração dele e de seus servos” (Ex 10, 1). Ora, Deus realmente endureceu o coração do Faraó? De forma alguma. O que aconteceu foi que, ao ter contato com a Palavra de Deus e não se abrir a ela por causa de seus pecados, o Faraó ficou em um estado pior do que o anterior, ou seja, seu coração tornou-se duro e insensível.

Isso pode acontecer com cada um de nós. Deus lança seus apelos de amor e concede-nos a sua Palavra, dando sinais claros de que deseja nos salvar e levar-nos para junto de si. No entanto, quanto mais Ele demonstra seu amor a pessoas que se fecham a Ele por culpa própria, mais os seus corações ficam insensíveis. Portanto, a Palavra de Deus acolhida com fé é maravilhosa e transformadora; mas, se tivermos contato com ela sem fé, nosso estado só irá piorar. 

Santo Tomás de Aquino, ao comentar essa passagem do Evangelho de São Mateus, diz que, para o nosso coração verdadeiramente estar aberto a Deus, devemos fazer quatro coisas que irão culminar com o ato de fé. A primeira atitude é querer descobrir a verdade. A segunda, estudá-la — no sentido mais amplo da palavra, que, em latim, significa ter interesse, buscar ou ter um desejo de conhecê-la profundamente. A terceira atitude é amá-la cada vez mais; e, por fim, devemos acolher a verdade com fé. 

O amor já é uma graça de Deus, mas não é ainda a plenitude do amor caridade, infuso em nossa alma. Portanto, para que os nossos corações não se endureçam, devemos buscar a verdade, entendê-la, amá-la e, finalmente, quando a encontrarmos, aceitá-la com fé e devoção.