Na próxima Quarta-feira de Cinzas, a Igreja inicia um tempo de oração e penitência, a fim de intensificarmos nosso processo de conversão e prepararmo-nos para a Páscoa do Senhor. Tal ocasião é propícia para fazermos uma catequese sobre o quarto mandamento da Igreja, que consiste em “jejuar e abster-se de carne, quando manda a Santa Mãe Igreja”.
Primeiramente, vamos definir o que é a “abstinência de carne”. No contexto do direito canônico, não há nenhuma referência ao termo “carne vermelha”, que é veiculado de forma errônea no senso comum e, às vezes, até no âmbito eclesiástico. Por isso, é importante entendermos que alimentos se enquadram no conceito jurídico de “carne”. Aves, carne bovina, suína e de caça são considerados como “carne” e deles devemos nos abster nos dias penitenciais estabelecidos pela Igreja. Já ovos, leite e seus derivados, peixes e frutos do mar não são considerados como carne para fins de abstinência. Tal distinção ocorre por razões práticas, pois a Igreja constatou, ao longo da história, que alguns alimentos são de fácil e rápida digestão, de modo que, em pouco tempo, a fome retorna. Assim, nos dias penitenciais, a Igreja orienta que, em vez das “carnes”, que geram saciedade por longo período, os fiéis consumam esses alimentos de rápida digestão.
Os dias de abstinência de carne são a Quarta-feira de Cinzas e todas as sextas-feiras do ano. No Brasil, por solicitação da Conferência Episcopal, a Santa Sé concedeu a possibilidade de que, nas sextas-feiras, exceto na Semana Santa, seja feita uma comutação, realizando-se, ao invés da abstinência de carne, uma penitência, oração ou obra de caridade a mais do que a pessoa está habituada.
A obrigatoriedade da abstinência aplica-se a todas as pessoas a partir dos 14 anos de idade. Mas, obviamente, os pais devem instruir e educar seus filhos, desde pequenos, acerca dessa prática. Estão dispensadas as pessoas que tenham algum problema de saúde que impossibilite a realização de tal abstinência.
Já o jejum eclesiástico, que deve ser observado na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, consiste em fazer uma refeição até a saciedade — normalmente o almoço — e as outras duas refeições de forma ponderada, ou seja, comendo menos.
Essa prática do jejum, no Código de Direito Canônico de 1917, era observada durante todo o período da Quaresma. A partir do Código de 1983, tornou-se obrigatória apenas na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, para todas as pessoas que tenham entre 18 e 60 anos.
Embora seja um dia de jejum e abstinência de carne, a Quarta-feira de Cinzas não é um dia santo de guarda, ou seja, nesse dia não é obrigatória a participação na Santa Missa. Porém, não fazemos somente o que é obrigatório, isso seria uma mediocridade espiritual. Com esta pregação queremos ensinar o que é obrigatório, a fim de que possamos de forma livre e generosa fazer muito mais do que aquilo a que somos obrigados.
São nesses atos livres e generosos que o amor se manifesta. O próprio fundamento do jejum e da abstinência é o nosso amor a Cristo, pois, assim como Ele morreu na Cruz por nós, também podemos nos mortificar por Ele. Sejamos, pois, generosos. Observemos o jejum e a abstinência e assumamos propósitos quaresmais por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que, unindo-nos a Ele nas penitências desta vida, possamos estar ao seu lado na glória celeste.
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Aqui na minha paróquia (St Francis) o Fr. Daniel R. Kent tbm permite comutar ou a penitência da carne na sexta ou ainda o dia, por exemplo jogando pra domingo. Mas sempre nessa linha onde a comutação precisa implicar em uma penitência ainda maior. Não sabia que eram exceções locais.
Por exemplo jejum completo até o pôr-do-sol no domingo eh a comutação mais comum. Quando meu exame de consciência permite e eu comungo, por exemplo, fui orientado a preferir a missa do fim do dia (que termine após por-do-sol) e só sair do jejum no ato da eucaristia. Que torna o sacrifico ainda maior no verão 😂 quando o sol se põe depois das 20h hahaha
Bela aula. Obrigado.
Padre em dia de festa de padroeiro de uma Congregação ou Comunidade, se cair numa sexta-feira, há a dispensa da abstinência e jejum?
maravilhoso
Não sou de Cuiabá... Tá demais divertido esta homilia! Só agora aprendi alguma coisa sobre o mandamento da igreja! Eu andava a abster-se de um café a cada sexta-feira do ano.
Não fazia ideia de nada disso. Fiquei espantado, kkk.
Que esse tempo forte da Graça de Deus, me ajude a vencer o mal causado por meus pecados do cotidiano, que eu não quero, mas que insistem.
Que a luz do Espírito Santo, me ilumine, e me fortaleça, para que eu possa alcançar os benefícios deste tempo quaresmal. A conversão é o meu objetivo e o Céu o meu futuro.
Misericórdia de nós Senhor, pois somos pecadores!
Santo Padre Paulo Ricardo, é um excelente professor.
Esta é uma aula perfeita.
Que catequese.
Santo Padre Paulo Ricardo, muito obrigada.
Muito esclarecedor.
Padre Paulo, sua benção! Estou sendo bombardeada ao mencionar que a Santa Mãe Igreja nos instrui que se pode comer peixe quando estamos em abstinência de carne, eu envie seu link , seu texto e foi questionado que o Senhor não colocou o documento a referência que a Igreja está dizendo isso, o senhor pode me passar esta referência?